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Notícias / Cultura

Escritora analisa feminismo a partir do ponto de vista antirracista e anticapitalista

Um feminismo decolonial, de Françoise Vergès, questiona discursos feministas abstratos e revela opressão sofrida por mulheres negras

Victória Gearini Publicado em 10/11/2020, às 18h57

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Françoise Vergès, cientista política, historiadora e ativista - Divulgação / Youtube / France Culture
Françoise Vergès, cientista política, historiadora e ativista - Divulgação / Youtube / France Culture

A cientista política, historiadora e ativista Françoise Vergès nasceu em 1952, em Paris, na França. Especialista em estudos pós-coloniais, cresceu na ilha da Reunião, na França, e morou na Argélia, no México, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Ao longo de sua carreira, a escritora publicou diversas obras de cunho social. 

Entre 2009 e 2012, presidiu o comitê nacional francês de preservação da memória e da história da escravidão. Além disso, publicou diversos artigos sobre Frantz Fanon, Aimé Césaire, abolicionismo, psiquiatria colonial e pós-colonial. Regularmente Vergès trabalha com artistas, sendo responsável por diversas exposições, entre elas L’Esclave au Louvre: une humanité invisible (O escravo no Louvre: uma humanidade invisível, em tradução livre), realizada no Museu do Louvre, em 2013. 

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Um feminismo decolonial, de Françoise Vergès (2020) / Crédito: Divulgação / Ubu Editora

Lançada em abril deste ano pela Ubu Editora, sua obra Um feminismo decolonial, trata-se de um convite para o leitor se reconectar com o poder utópico do feminismo, que segundo a autora, é capaz de provocar uma grande mudança no imaginário e atitudes da sociedade. 

"Eu quis destacar neste livro fatos simples, concretos e tangíveis que iluminam a estrutura profundamente marcada pelo gênero, racializada e estratificada que permite à sociedade burguesa funcionar há séculos. Longe de ser um discurso feminista abstrato, esses fatos são visíveis a quem deseja vê-los”, disse Françoise Vergès.

Vergès reivindica um feminismo aberto à questionamentos, análises e transformações, e, sobretudo, antirracista, anticapitalista e anti-imperialista. Diferente do termo “descolonização”, que trata-se dos processos históricos que sucederam o fim colonial, a palavra "decolonial" é um neologismo já consolidado no debate francês. Esta expressão busca denunciar e tornar a discussão visível, traçando questões de gênero e raça como pautas fundamentais.

“A cada dia, em cada cidade, milhares de mulheres negras, racializadas, 'abrem' a cidade. Elas limpam os espaços que o patriarcado e o capitalismo neoliberal precisam para funcionar. Elas desempenham um trabalho perigoso, mal pago e considerado não qualificado, inalam e utilizam produtos químicos tóxicos e empurram ou transportam cargas pesadas, sendo tudo isso prejudicial a sua saúde", afirmou Françoise Vergès.

Disponível na Amazon, a obra propõe uma série de questionamentos e reflexões sobre o feminismo decolonial. Além disso, apresenta evidências sobre a opressão que mulheres negras sofrem em todo o mundo.

Confira abaixo um trecho de Um feminismo decolonial (2020): 

“Em janeiro de 2018, após quarenta e cinco dias de greve, mulheres racializadas que trabalham na Gare du Nord obtiveram vitória contra seu empregador, a empresa de limpeza Onet, terceirizada que presta serviços à sncf [Sociedade Nacional de Ferrovias Francesas]. Essa mão de obra que constitui uma força de trabalho racializada e majoritariamente feminina, que realiza serviço subqualificado e, portanto, mal pago, trabalha em uma situação de risco para a saúde, na maioria das vezes em tempo parcial, de madrugada ou à noite, quando escritórios, hospitais, universidades, centros comerciais, aeroportos e estações estão vazios, ou quando os/as hóspedes já deixaram os quartos de hotel. Bilhões de mulheres se ocupam incansavelmente da tarefa de limpar o mundo. Sem o trabalho delas, milhões de empregados, de agentes do capital, do Estado, do Exército, das instituições culturais, artísticas e científicas, não poderiam ocupar seus escritórios, comer em refeitórios, realizar reuniões, tomar decisões em espaços asseados onde lixeiras, mesas, cadeiras, poltronas, pisos, banheiros, restaurantes foram limpos e postos à sua disposição. Esse trabalho indispensável ao funcionamento de qualquer sociedade deve permanecer invisível. Não devemos nos dar conta de que o mundo onde circulamos foi limpo por mulheres racializadas e superexploradas. Por um lado, esse trabalho é considerado parte daquilo que as mulheres devem fazer (sem reclamar) há séculos – o trabalho feminino de cuidar e limpar constitui um trabalho gratuito. Por outro lado, o capitalismo produz inevitavelmente trabalhos invisíveis e vidas descartáveis. A indústria da limpeza é uma indústria perigosa para a saúde, em todos os lugares e para aquelas e aqueles que nela trabalham. Sobre essas vidas precárias e extenuantes para o corpo, essas vidas postas em perigo, repousam as vidas confortáveis das classes médias e do mundo dos poderosos”.


+Saiba mais sobre esta e outras obras relacionandas ao tema, disponíveis na Amazon:

Um feminismo decolonial, de Françoise Vergès (2020) - https://amzn.to/3pevRxK

O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras, de Bell hooks (2018) -https://amzn.to/3hca7P1

A cor púrpura, de Alice Walker (2009) - https://amzn.to/30sk45c

Chica Da Silva - Romance De Uma Vida, de Joyce Ribeiro (2016) - https://amzn.to/2YpyRuO

O ano em que disse sim, de Shonda Rhimes (2016) - https://amzn.to/3dRD2WK

O ódio que você semeia, de Angie Thomas (2017) - https://amzn.to/2XOOIDX

Diário de bitita, de Carolina Maria de Jesus (2014) - https://amzn.to/2AjbuuJ

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