Acompanhado do auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado, o profissional viveu um episódio traumático que durou 3 dias
Na manhã do sábado de 12 de agosto de 2006, o repórter da Globo, Guilherme Portanova, e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado, estavam tomando café em uma padaria próxima a emissora, quando foram abordados por dois homens armados, encapuzados e obrigados a entrar em um carro, sendo acompanhados por outros veículos, todos roubados.
Segundo Portanova, ele teria pedido que o matassem logo, sem dor e com apenas um tiro. “O fantasma do Tim Lopes era muito forte”, revelou o jornalista em entrevista à Rádio Gaúcha, relembrando o colega de trabalho que foi morto por organizações criminosas do Rio de Janeiro, em 2002.
Ambos permaneceram juntos por aproximadamente 15 horas, até serem separados e enviados para lugares diferentes. Alexandre acabou sendo libertado as 23h do mesmo dia, perto da sede da Rede Globo, carregando consigo um DVD, com um vídeo enviado pelos criminosos, que tinha três minutos de duração.
Os sequestradores disseram que a libertação de Guilherme só ocorreria com a exibição do vídeo em rede nacional pela emissora. O conteúdo do vídeo consistia em pedidos para melhores condições carcerárias e um afrouxamento no regime dos líderes do PCC em que estavam presos.
As 00h27 do dia 13, a Globo, após conversar com entidades especializadas no assunto, transmitiu a gravação na íntegra através do Plantão da Globo, e também já havia sido enviado ao Ministério Público Estadual e ao SBT.
O vídeo mostrava um dos integrantes utilizando máscara. O primeiro sequestrador revela algumas armas e munições, e logo começa a ler uma carta com todas as recomendações dos criminosos. "Não somos contra o governo, mas somos contra a injustiça, abuso de poder, maus tratos, espancamentos e violência há anos às classes pobres nesse País", afirmou o sequestrador.
Guilherme só foi liberado na madrugada de segunda-feira, no bairro do Morumbi, localizado na zona sul da cidade de São Paulo. Segundo ele, enquanto esteve em cativeiro, pensou seriamente em abandonar sua profissão “Primeira coisa que pensei foi comprar um sítio numa cidade pequena, nunca mais ligar jornal, TV, rádio, nada, e desaparecer”, disse Portanova.
O repórter revelou também que acabou mudando de ideia depois que foi libertado e pode ver os esforços feitos pela emissora para o seu resgate. Ele ainda contou que, inicialmente, parecia um sequestro normal, mas logo soube que, na verdade, os criminosos precisavam de um favor.
“Queriam um favor, queriam divulgar a versão deles, e que precisavam de ajuda” contou o jornalista falando que os bandidos se queixaram de receber maus tratos nas prisões e terem medo de acabar sendo mortos lá dentro.
Portanova afirmou que um dos momentos mais tensos de todo o sequestro foi quando negociou sua própria morte. A situação aconteceu durante sua transferência de cativeiro no sábado, onde um dos sequestradores disse que iria matá-lo, e só não cometeu o ato por lhe ter sido negado.
“O outro disse que não, ‘esse aí é da chefia, não toca nele que tu vais te incomodar’”. A partir desse momento, ele revelou que passou a receber informações sobre como andavam as negociações. “Em nenhum momento me agrediram, tinha comida o tempo inteiro, embora eu não conseguisse comer, e todo o tempo eles me davam a informação de que eu ia ser solto, que eu não ia morrer”.
Após o incidente, o repórter ficou de licença devido ao trauma, e retornou apenas em 2007. Guilherme continuou trabalhando na emissora durante oito anos, até pedir demissão em novembro do ano passado, e assinar com a Record TV, assumindo a bancada do jornal DF no ar, em Brasília.
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