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Matérias / Dom Pedro I

Especialista em Brasil Império não concorda com viagem do coração de D. Pedro I: 'Retrocesso'

O escritor Paulo Rezzutti explicou o motivo para o coração estar armazenado e o real desejo de D. Pedro I com o órgão

Wallacy Ferrari Publicado em 20/08/2022, às 11h06 - Atualizado em 22/08/2022, às 18h55

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Montagem com o coração de Dom Pedro I e pintura do imperador - Divulgação / YouTube / portoponto e Arquivo Nacional
Montagem com o coração de Dom Pedro I e pintura do imperador - Divulgação / YouTube / portoponto e Arquivo Nacional

Previsto para chegar ao Brasil nesta segunda-feira, 22, o coração de D. Pedro I será usado nas comemorações do bicentenário da Independência em eventos especiais realizados em Brasília, após quatro meses de negociações para o empréstimo e transporte adequado do órgão.

No entanto, a medida divide opiniões da classe científica brasileira devido à validade da medida e custo alto. Um dos críticos do empréstimo é o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti, autor de diversos best-sellers relacionados a história do Brasil Império, incluindo "Dom Pedro, a história não contada”, vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura de 2016, na categoria biografia.

Em entrevista exclusiva ao portal Aventuras na História, ele não apenas manifestou ser contra a chegada do coração do imperador ao país, como justificou relatando o real desejo do próprio D. Pedro I em relação a conservação e localização do órgão.

História por trás

Como explica Paulo, D. Pedro abdicou do trono brasileiro, em 7 de abril de 1831, partiu para a Europa em meio ao caos político com seu irmão, D. Miguel, tomando o poder.

No Velho Continente, ele prepara uma tropa na França e invade Portugal, primeiramente parando em Açores e, por fim, retomando a grande cidade de Porto, no entanto, acabou contraindo tuberculose durante um cerco — doença que o vitimaria fatalmente.

Quando ele morre, em 1834, [...] D. Pedro I pede duas coisas como desejo final. A primeira, que ele seja enterrado como um soldado da filha, com uniforme de general do quinto batalhão de caçadores. E eu vi os restos mortais deles, e o uniforme estava só com condecorações portuguesas. E ele deixa, por vontade própria, o coração em Porto, onde sofreu o cerco”, explica Paulo.

A decisão não se deu apenas pela localidade; o palácio onde passou os últimos dias de vida era o mesmo onde nasceu e cresceu. Assim, optou por doar o órgão para a cidade e construindo sua imagem de herói romântico e patriota.

Rezzutti acrescenta que o plano inicial era armazenar o órgão na Câmara Municipal, mas a viúva, Dona Amélia, avaliou que a Igreja da Lapa, frequentada pelo marido em vida, era o local apropriado.

D. Pedro I, imperador do Brasil / Crédito: Wikimedia Commons / Domínio Público

Direção contrária

A conservação, realizada pelo doutor João Fernandes Tavares, utilizou de métodos disponíveis na época para realizar o melhor trabalho possível. Contudo, os líquidos escolhidos para a conserva causam uma espécie de inchaço nos tecidos do órgão quando estão em contato com a luz. Dessa forma, o coração fica em uma caixa fechada, despertando curiosidade sobre o uso do órgão em terras tupiniquins.

“A única coisa que D. Pedro I pediu foi para que o coração ficasse no Porto. Então, por que o Brasil, que quer homenagear ele, quer trazer o coração para cá? Se o corpo já está aqui! Outra questão é que veremos uma caixa fechada, o coração não ficará exposto. E o terceiro ponto: por que iremos adorar o coração? Qual o simbolismo do coração? É um retrocesso”, enfatiza o escritor.

Além disso, o escritor acrescenta sua experiência na curadoria de exposições relacionadas a artigos históricos. O transporte e manutenção de peças extremamente delicadas são caros e ainda requer o amparo de um seguro apropriado, que não é barato.

Quanto vai ser o seguro para trazer esse coração? E o que não poderia ser feito com esse dinheiro em prol da educação e preservação da nossa memória? Então eu não sou a favor disso”, concluiu.

200 anos da Independência 

Para o bicentenário da Independência do Brasil, Rezzutti lançou um box comemorativo com as edições ampliadas e em capa dura, das biografias que relembram a saga da imperatriz Leopoldina (D Leopoldina - A mulher que arquitetou a Independência do Brasil) e d. Pedro I (D Pedro I - O homem revelado por cartas e documentos inéditos).

Além disso, o escritor também lançou um novo volume da rica série “A história não contada”. Em 'Independência: a história não contada: A construção do Brasil: 1500-1825', Rezzutti explica o longo processo que resultou no Grito do Ipiranga e um pouco do que veio em seguida: o nascimento e a construção – ainda em curso – de um país.

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