O longa ‘Emancipation’ conta a vida de um ex-escravo que lutou pela liberdade
O mais novo filme de Will Smith, ‘Emancipation’, estreou na última sexta-feira, 9, e é inspirado na história real de um ex-escravo, Gordon, que ficou conhecido como “Peter chicoteado” após uma fotografia de suas costas ter sido vista em todo o mundo no final da Guerra Civil Americana.
Assim como quase todas as adaptações dramáticas de eventos históricos e reais, o longa abusa da liberdade artística para contar a história de Peter, lembrando que nem tudo o que está no filme, de fato, ocorreu.
Confira o que é e o que não é verdade na nova aposta do diretor Antoine Fuqua:
No filme, o personagem de Will Smith se chama Peter, porém, o nome do ex-escravo na vida real era Gordon, sendo apelidado de Peter pelos abolicionistas. Na produção, há também um personagem chamado Gordon, que escapa junto a Peter do confederado, antes de serem separados.
Em ‘Emancipation’, Peter decide fugir do acapamento depois de testemunhar o tratamento brutal de seus companheiros escravos e de ter que enterrar seus cadáveres, mas, na vida real, Gordon decidiu fugir do local após ter levado uma surra tão forte que ficou em coma por dois meses. Nesse período, o superintendente da plantação de John e Bridget Lyons, Artayou Carrier, derramou água salgada repetidamente sobre as cicatrizes de Gordon.
Na produção, Bem Foster interpreta Jim Fassel, o superintendente do campo de escravos e o homem que persegue Peter no bayou da Louisiana. Este é um personagem fictício, criado para refletir as atitudes racistas da época e a imensa crueldade infligida aos escravos americanos. Ele teria sido inspirado na brutalidade de Artayou Carrier.
Em um monólogo dramatizado, o personagem conta, ao lado de uma fogueira, como seu pai assassinou sua governanta negra para demonstrar a crença de que negros e brancos não eram iguais. A cena aborda a maneira que o preconceito racial é transmitido de geração em geração.
O personagem Peter se junta ao Exército da União em sua luta contra o Exército Confederado, na sequência de batalha que traz o grande clímax do longa. Este seria o cerco de Union Port, iniciado em julho de 1863, que ajudou a dividir a Confederação, segundo o portal Screenrant.
Gordon esteve, de fato, presente no cerco de Union Port, servindo ao lado da Guarda Nativa da Louisiana, regimento formado por recrutas negros livres. No filme, isso é basicamente retratado, com o pelotão de Peter travando uma batalha ao longo do rio Mississipi.
Tanto a história do personagem de Will Smith quanto a real história de Gordon terminam após o cerco bem-sucedido de Union Port. Na produção, Peter se encontra com sua esposa e filhos no final, mas não é claro o que realmente aconteceu na história de Gordon, seu homólogo da vida real.
Historiadores afirmam que não há registros do que teria acontecido com Gordon depois do cerco. Também não se sabe com exatidão se ele tinha esposa e filhos o esperando em outro local da Louisiana.
No final da história de ‘Emancipation’, a fotografia se torna uma parte pequena. Assim como na vida real, Peter e Gordon tiraram a camisa para revelar as cicatrizes da brutalidade sofrida e repetida por seus antigos donos. No filme, o foco é, na realidade, o homem por trás da imagem, ao invés do impacto político da fotografia.
Contudo, na vida real, a foto “Peter chicoteado” foi utilizada por abolicionistas, que venderam várias impressões da imagem a fim de arrecadar dinheiro para seus esforços de abolir a escravidão de uma vez por todas nos estados confederados.
A Guerra Civil dos Estados Unidos foi o primeiro conflito a ser documentado através da fotografia, no entanto, é possível traçar uma linha entre a repulsa generalizada que a foto de Gordon causou e a imagem do jovem Emmet Till, o adolescente de 14 anos que foi torturado e linchado por ter ofendido uma mulher branca, quase 100 anos depois.
Acadêmicos atuais dizem que a imagem é uma outra forma que a câmera objetiva os corpos negros e a dor negra de um jeito que teria salvados a consciência dos abolicionistas brancos mais do que teria melhorado a vida dos escravos negros libertos.
Tal argumento ainda é apoiado pelo fato de que a foto de ‘Peter chicoteado’ foi tirada pelos fotógrafos William McPherson e J. Oliver, de Nova Orleans. A imagem ficou conhecida como ‘As Costas Açoitadas’ (em tradução livre), e causou muitos protestos quando foi publicada na Harper’s Magazine.