O emblemático relacionamento foi regado por cumplicidade, paixão e centenas de cartas de amor picantes
Durante toda a história, monarquia e relações extraconjugais sempre tiveram um flerte. Um dos casos mais estudados é o de Henrique VIII e suas diversas esposas. Já no Brasil, o caso mais emblemático é de Dom Pedro I e Domitila de Castro Canto e Mello, a Marquesa de Santos.
Antes clandestino, o amor dos dois, ao longo do tempo, foi escancarado a todos, inclusive a Maria Leopoldina de Áustria, mulher do imperador. O primeiro contato amoroso da dupla tem várias versões, uma das mais difundidas é de que Domitila tinha um caso Francisco Gomes da Silva, político e confidente de Pedro I.
Esta versão conta que os dois planejaram um complô para obter certos benefícios, mas isso jamais foi evidenciado. O certo é que o imperador se apaixonou à primeira vista por aquela que futuramente se tornaria Marquesa.
O amor fulminante ocorreu muito em conta do espírito livre de Domitila, que tinha uma personalidade completamente diferente de Leopoldina. Mesmo sendo um personagem controverso da história brasileira, a Marquesa sempre se recusou a se sujeitar ao autoritarismo do homem da época.
Ela se casou com apenas 15 anos de idade. Seu marido a agredia e estuprava com certa frequência, o que lhe gerou 3 filhos. Porém, a relação abusiva acabou quando ela sofreu uma tentativa de assassinato. Assim, ela se divorciou e voltou para morar com os pais — comportamento raro para a sociedade da época.
Amor à primeira vista
A relação ente Domitila e Pedro começou em São Paulo, cidade em que ela nasceu, dias antes dele proclamar a Independência do país. Apesar dos dois terem ficado juntos por apenas sete anos, a união durou tempo mais que suficiente para ela gozar de prestígios e conquistar uma considerável fortuna.
Em 1825, a própria Imperatriz Leopoldina designou a amante de seu marido como dama de companhia. Tempo depois, ela foi intitulada viscondessa de Santos. O mais curioso é que Domitila ganhou o título de marquesa de Santos, um ano depois, sem jamais ter pisado na cidade litorânea. No mesmo ano, em 1826, ela foi regalada com uma mansão: a Casa Amarela — onde hoje é o Museu do Primeiro Reinado no Rio de Janeiro.
Os sete anos da união entre os dois gerou centenas de trocas de cartas de amor e confidências: em muitas delas o imperador desenhava o próprio pênis, sem contar as vezes que ele incluía alguns pelos pubianos como lembrança — o regalo era visto como uma prova de fidelidade.
"Nada mais digo senão que sou teu, e do mesmo modo quer esteja no céu, no inferno ou não sei onde. Tu existes e existirás sempre em minha lembrança, e não passa um momento que meu coração me não doa de saudades tuas...", dizia uma das cartas escritas por Fogo Foguinho — era assim que Pedro I assinava alguns de seus bilhetes.
Outra alcunha do imperador era “Demonão”, que por sua vez chamava a amada de “Titília”. O casal de amantes teve cinco filhos, destes, apenas dois chegaram à fase adulta.
Apesar das juras de amor, a marquesa e o imperador também discutiam por cartas. Já conhecida por seu jeito arrojado e valente, ela não se reprimia diante das exigências do monarca.
“Quero que vá para São Paulo”, ordenou Pedro I. “Vou quando eu quiser”, retrucou Titília. “Estou lhe mandando um cavalo”, replicou o irritadiço imperador. “Seu cavalo vai ficar pastando no meu jardim”, desafia a marquesa.
O fim da união
Quando Leopoldina morreu, em 11 de dezembro de 1826, parte da população passou a acusar Domitila de envenenamento. A primeira esposa de Dom Pedro I era admirada por muitos, muito em virtude de seu papel na luta pela Independência.
A perda fez Pedro I ficar cada vez mais impopular. Pouco depois ele acabou casando com Amélia de Leuchtenberg. Por outro caminho, Domitila deixou o Rio, em junho de 1828, e foi morar no Solar da Marquesa, em São Paulo. Mais tarde, ela rompe a relação alegando que apesar de ainda o amar, amava mais sua própria reputação.
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