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Matérias / Personagem

Descaso e humilhação: o obscuro relacionamento do Führer com Eva Braun

Há 75 anos, o casal realizava o matrimônio em um bunker; destinados ao fracasso, acabaram tirando a própria vida

Nicoli Raveli Publicado em 29/04/2020, às 11h28

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Adolf Hitler, ditador nazista e Eva Braun, sua companheira - Divulgação
Adolf Hitler, ditador nazista e Eva Braun, sua companheira - Divulgação

Eva Braun sempre teve uma vida conturbada, desde criança presenciava sua família lutando pela sobrevivência devido à falta de dinheiro. Todavia, aos 17 anos, a jovem conseguiu o tão esperado emprego. Era uma chance que encontrou para mudar de vida.

Trabalhando nos estúdios do fotógrafo Heinrich Hoffman, em Munique, Braun também serviu como modelo em diversos flashs enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda existia somente nos pensamentos do futuro Führer.

Entretanto, foi no seu local de trabalho que ela conheceu Adolf Hitler que, na época, era só mais um político alemão. Não se sabe, ao certo, quando a intimidade dos dois ganhou forma, mas existem relatos de que a garota fazia de tudo para chamar a atenção do homem.

O relacionamento com Hitler

A mulher conseguiu atrair os olhares do radicalista, mas os primeiros anos de relacionamento não foram como o esperado, já que ela tentou tirar a própria vida duas vezes. A primeira, em 1932, a fez quase atirar em seu próprio peito. Três anos depois, Braun ingeriu uma grande quantidade de pílulas.

Eva Braun observa um Hitler sonolento, por volta de 1930 / Crédito: Getty Images

Acredita-se que as duas as tentativas tenham sido resultado do descaso do companheiro, uma vez que o homem não era próximo e a tratava com frieza. No entanto, as tentativas de morte mudaram a mente do tirano. Desde então, Hitler, Eva e Margarete, sua irmã, passaram a morar juntos.

Porém, os defeitos do relacionamento voltaram à tona pouco tempo depois. Considera-se, por meio dos relatos dos funcionários do ditador, que o casal dormia em quartos separados.

Todavia, esse rumor é contestado pelo historiador Heike Gortemaker. Ele afirma que pouco sabe sobre a história dos dois durante o relacionamento devido à destruição - ordenada pelo líder nazista - de seus documentos particulares em 1945. Para Gortemaker, o tirano arquitetou cada detalhe de sua vida, já que ele pensava que um relacionamento público poderia ser um aspecto negativo para sua imagem.

"Muitas mulheres me acham atraente porque sou solteiro. É a mesma coisa com um ator de cinema: quando ele se casa, ele perde algo entre as mulheres que o adoram, e elas não o idolatram mais”, alegou o Führer.

Dessa maneira, o relacionamento com Braun era conhecido por poucas pessoas que faziam parte de sua rotina. Uma vez que sua presença era permitida em episódios públicos, a mulher era tratada de maneira esdrúxula e como amante.

Adolf Hitler e sua companheira, Eva Braun / Crédito: Divulgação 

Companheira do Führer

Com a ascensão do líder extremista e do nazismo, Eva passou a ter uma vida de privilégios. Todavia, ao mesmo tempo em que passava grande parte de seu tempo em casas extravagantes - como em uma residência nas montanhas de Berchtesgaden - era impedida de satisfazer seus gostos devido a Hitler, que não gostava de estar ao lado de uma mulher que bebia e fumava.

Porém, Gortemaker questiona os rumores de que a mulher era fascinada pela riqueza. “Os clichês atuais - de que ela era burra, egoísta e ignorante - são completamente exagerados. Ela também teve uma função na casa-refúgio de Berghof: trabalhou para seu ex-chefe Hoffmann como fotógrafa e vendeu fotos de propaganda. Ela desempenhou o papel de transmitir uma imagem do Führer ao público. De maneira alguma ela era uma criança burra”, concluiu.

Os últimos dias

Após viver anos na sombra do companheiro, a mulher finalmente conseguiu o que tanto desejava. Entretanto, no pior cenário. Em 28 de abril de 1945, o casal decidiu realizar o matrimônio. A partir de então, Braun tornou-se Frau Hitler.

Porém, o casal já tinha consciência de que tudo aquilo estava chegando ao fim. Dois dias depois, o tirano encarava os momentos finais do Terceiro Reich. Braun, que também passou a viver em um bunker com o ditador, ficou ao seu lado nos dias finais.

Eva Braun e Adolf Hitler, com seus dois cães Wulf e Blondi no Berghof, 1942 / Crédito: Getty Images

Ainda de acordo com o historiador, isso revela uma profunda convicção, determinação e dureza, já que ela estava disposta a tirar sua vida junto com Hitler, aos 33 anos de idade. “A superficialidade que muitas vezes lhe é atribuída é falsa. Se ela tivesse ficado em Munique, ela teria uma boa vida", acrescentou Görtemaker.

Naquele dia, o casal recusou-se a deixar Berlim. Pouco depois das 15 horas, o ditador e Braun se despediram de quem estava presente no bunker e foram até a sala de jantar. Em minutos, Frau Hitler morreu após ingerir veneno, enquanto o líder nazista se matou a tiros.

Seguindo o desejo do ditador, os corpos foram levados até o jardim da Chancelaria do Reich e foram queimados. Na mesma noite, os soldados russos ergueram a bandeira da vitória no topo do Palácio de Reichstag, do parlamento alemão.

Após a morte do casal, Gertraud Weisker, prima de Braun, relatou que a conexão dos dois era obscura. Além das tentativas de assassinato, a relação causou uma ruptura na família. Dessa maneira, Margarete era a única que ainda tinha contato com a irmã.

"Ela estava desesperadamente infeliz. É por isso que ela tentou tirar a vida duas vezes. Ela estava em um relacionamento que só poderia ser justificado através do casamento e da morte juntos”, acrescentou Weisker.


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