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Matérias / Personagem

De médium ao vivo ao desentendimento nos bastidores: a icônica passagem de Chacrinha na Globo

Os acontecimentos dos bastidores não negam que Abelardo era realmente o dono do show

Caio Tortamano Publicado em 19/05/2020, às 19h06

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O apresentador Abelardo "Chacrinha" Barbosa - Wikimedia Commons
O apresentador Abelardo "Chacrinha" Barbosa - Wikimedia Commons

Sempre um sucesso de audiência independente do dia da semana em que fosse transmitido, Abelardo Barbosa, mais conhecido como Chacrinha, teve uma das maiores carreiras da história da televisão e marcou para sempre a tela da TV Globo.

O personagem irreverente de Chacrinha era extremamente carismático, e seus programas de auditório eram os mais animados, tanto que sempre liderava os índices de audiência. Porém, os bastidores do show sempre tiveram suas tensões, especialmente pelo forte temperamento do apresentador, que não gostava que houvessem interferências no seu espetáculo.

E foi justamente isso que o levou a um histórico desentendimento com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, diretor da programação da Globo, que já na década de 70 era meticulosamente montada.

A médium

Os dois eram muito amigos, mas isso não bastou quando, em 1971 (já há 5 anos na Globo) Chacrinha trouxe ao programa uma médium chamada Cacilda de Assis, que era sempre convidada para o programa de Flávio Cavalcanti, concorrente direto de Chacrinha pela audiência na TV Tupi. Cacilda incorporava espíritos ao vivo, e ia contra a intenção de Boni em querer elevar o nível do programa.

A médium Cacilda de Assis / Crédito: Divulgação

A atração não foi aprovada pelo diretor, que naquele momento começou a ter sua relação com Abelardo estremecida. A gota d’água surgiu diante das sucessivas semanas em que Chacrinha religiosamente prolongava a duração do programa, atrasando toda a grade da emissora.

A demissão

Em dezembro de 1972, em uma noite comum, programa já passava do limite estabelecido de horário. O que deveria terminar às 22h só foi acabar cerca de 10 minutos depois, após um ultimato de Boni.

Ainda com três atrações para serem apresentadas, o diretor foi até a produção e mandou o programa acabar às 22h10. Mas o filho de Abelardo, Jorge Barbosa — que também era produtor — respondeu: “o Chacrinha disse que não tinha previsão pra terminar”.

Enfurecido, Boni fez com que o programa terminasse imediatamente. De acordo com relatos do próprio diretor, Chacrinha destruiu o estúdio coberto de raiva, indo atrás de Bonifácio sem camisa gritando que não aceitava aquilo, e que estava se demitindo.

Diretor de programação Boni / Crédito: Divulgação

O Caso Chacrinha

Imediatamente, milhares de fãs confusos enviaram cartas para a emissora perguntando o que tinha acontecido para o programa ter acabado tão inesperadamente. Na quarta-feira seguinte, um substituto cobriu Chacrinha, mas domingo simplesmente não teve nenhum programa.

Isso fez com que a mídia também fosse atrás do que realmente tinha acontecido: como podia um dos maiores ícones da televisão brasileira não aparecer mais na Globo de uma hora pra outra? O Jornal do Brasil, que deu o nome ao caso de Caso Chacrinha, abordou os dois lados da história.

Abelardo afirmou que a emissora tinha trocado o horário de suas atrações muitas vezes, e que isso não lhe dava a liberdade que tanto prezava. Já pelo lado da Globo, um outro motivo foi dado.

"A Globo alegava ter tirado a Buzina do Chacrinha do ar 'porque o animador apresentou em seu programa um afeminado'. Sim, Chacrinha havia apresentado um rapaz que fez uma imitação de Wanderléa, mas não era essa a razão da ruptura", afirmam Denilson Monteiro e Eduardo Nassife na biografia Chacrinha, a biografia.

"Na revista Veja, Walter Clarck se mostrava extremamente irritado: 'Foi um ato de indisciplina lamentável, que nos remete a oito anos atrás, que justifica os atrasos de pagamentos  por parte das emissoras e dificulta a relação entre empresários e artistas".

Mudança de ares

Se a Globo não quis, com certeza teria quem quisesse, e não demorou muito para que ele estreasse um programa no mesmo formato na TV Tupi, de enorme sucesso. Os globais tentaram brechas na justiça para que o programa saísse do ar e Chacrinha voltasse para seu canal anterior, mas nada deu certo.

O que funcionou foram seus programas seguintes. Posteriormente na Bandeirantes, Abelardo foi para a emissora no final dos anos 70, e ficou por lá até 1982, quando se encontrou novamente com Boni. Em um jantar de reconciliação, a sorte e afeição de Chacrinha sorriram pra Globo, e o apresentador aceitou voltar para a emissora, sem nenhum ressentimento.

O Cassino do Chacrinha ficou no ar até pouco antes da morte do apresentador, devido a um câncer no pulmão. A partir de 11 de junho de 1988, o programa passou a ser apresentado por João Kléber, mas foram poucas edições, já que o Cassino veio ao fim dois dias depois do fim da vida de Abelardo.


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