Mortes aconteceram apenas 11 minutos após vice-xerife sair da casa de Mike Horton. Teria um jovem algemado assassinado seus pais?
Às 16h48 de 11 de setembro de 2016, o vice-xerife do condado de Elmore deixou a casa de Jesse Michael Holton após tratar de uma crise familiar. 11 minutos depois, às 16h59, um vizinho ligou para a emergência informando que dois assassinatos aconteceram naquela residência.
Mike, como também era chamado, foi encontrado sem vida no chão de seu quarto. April Holton, sua ex-esposa, tinha ferimentos na cabeça e foi resgatada ainda com sinais vitais. Infelizmente, morreu enquanto recebia tratamento médico.
O caso, sem solução até os dias atuais, deixou três hipóteses em aberto: Mike matou sua esposa e depois atirou contra si mesmo; o filho adolescente do casal, Jesse Madison Holton, executou os pais; ou Mike assassinou April e Madison o baleou logo em seguida.
Para entender o caso, precisamos voltar alguns pontos. Naquele mesmo dia, descreve episódio de Dateline: Secrets Uncovered, da NBC, Mike recebeu a ligação de um pai preocupado sobre uma festa regrada a álcool e drogas que acontecia na casa de Holton.
Ex-prefeito e chefe de bombeiros da pequena cidade de Eclectic, Mike ficou conhecido por ajudar muitas famílias ao ser convocado para atuar nos resgates de 11 de setembro, aponta o portal Heavy.
Mas os problemas em sua vida particular pareciam mais difíceis que as adversidades que enfrentava no trabalho. Afinal, o sujeito havia se separado de sua esposa e os dois tinham que lidar com a rebeldia de um filho adolescente de 17 anos.
A festança foi a gota d’água para Mike, que chegou a algemar Jesse Madison. O menino, aliás, ainda estava preso quando o vice-xerife do condado de Elmore deixou a residência.
"Senhor Holton me cumprimentou no quintal e disse: 'Ei, quando você entrar, verá que meu filho está algemado', ele disse", recorda o vice-xerife Bill Franklin ao programa da NBC.
Acho que sua intenção não era machucar ou ferir o garoto. Ele estava apenas tentando ver o que poderia fazer para chamar sua atenção".
Frustrado com a situação, Mike perguntou ao xerife o que eles poderiam fazer para tomar uma medida legal contra Jesse. "Eles praticamente chegaram ao limite do juízo", recordou Franklin.
Após conversar com Mike e April, Bill deixou a residência achando que não teria mais problemas, pelo menos não naquele mesmo dia. 11 minutos depois, porém, um vizinho ligou para a emergência após ouvir tiros sendo disparados do local.
April havia sofrido ferimentos de bala na mão como se tivesse tentado se defender do ataque. Sua cabeça também foi alvejada. Lutando por sua vida, acabou falecendo em um hospital local. Mike morreu ainda no imóvel, com um tiro na base da cabeça.
Jesse Madison, ainda algemado, informou aos policiais que seus pais haviam se trancado num quarto para conversarem, mas uma discussão começou logo depois. Houve uma briga física e Madison correu para casa de seu vizinho buscar ajuda.
Inicialmente, os investigadores acreditavam que o caso parecia tratar-se de um assassinato seguido de suicídio, mas o patologista estadual relatou um ponto importante que colocavam essa versão em xeque.
Primeiro, constatou-se que Mike havia morrido por um disparo próximo à base da cabeça. Para tal, ele teria que ter colocado a arma de cabeça para baixo e incliná-la com a mão esquerda. Entretanto, ele era destro. "Estou na aplicação da lei há 39 anos. Nunca vi alguém tentar cometer suicídio de uma maneira tão estranha e única", disse o vice-xerife.
A postura de Jesse Madison, a outra única pessoa que estava em casa naquela ocasião, também chamou atenção. "Ele parecia mais preocupado em perder o baile, a escola e coisas dessa natureza", disse Bill.
Em uma ligação gravada na prisão, dias após ele ser detido preventivamente, Madison perguntou a uma pessoa: o que "todas as garotas [da escola] dizem sobre a minha prisão".
Tipo, as pessoas com quem eu dormi. O que elas pensam sobre isso agora?", questionou. "É tipo um 'oh, caramba, em transei com um assassino?'."
Jesse, porém, sempre afirmou que não matou seus pais e relatou, segundo o Dateline: Secrets Uncovered, que ouviu sua mãe gritar por "socorro" cerca de cinco minutos após seus pais se trancarem no quarto.
Depois do grito, Madison afirmou que abriu a porta com um chute e viu seu pai dando uma chave de braço em sua mãe. Logo em seguida, ele gritou por ajuda para contê-lo.
Retomando a um fato já apresentado, o adolescente estava algemado quando o vice-xerife saiu de sua casa e permanecia na mesma condição quando a polícia retornou ao local. Mesmo assim, investigadores acreditam que ele teria tirado a algema com alguma chave para cometer os crimes. Depois, ainda conseguiu se algemar de novo para parecer inocente.
Apesar de todo o cenário, Madison se manteve firme em sua versão. "Não tenho dúvidas de que o xerife tentará me colocar de volta na prisão", disse à NBC. "Não sei o motivo dele ter tanto rancor de mim".
Para provar que falava a verdade, Jesse Madison ainda chegou a solicitar diversas vezes que fosse submetido a um teste do polígrafo, mas o mesmo jamais foi feito. O caso contra o adolescente acabou se desfazendo quando a promotoria começou a ter uma série de dúvidas.
"Nunca fui confrontado com uma situação como essa em que meu promotor não acreditasse que fosse ético prosseguir com as acusações. Ele estava preocupado que, se Jesse fosse considerado culpado, isso não poderia ser desfeito", declarou o promotor distrital Randall Houston em uma coletiva de imprensa em 2018.
Como promotores, nosso trabalho é encontrar a verdade e fazer justiça. Quando não conseguimos encontrar a verdade, é impossível fazer justiça", completou.
Um de seus tios, Mike Owenby, que tinha certa experiência nas aplicações da lei, confia na versão do sobrinho. "Ele não fez isso", afirmou ao programa da NBC. "Não é possível". Além do mais, Jesse não tinha DNA ou sangue em suas roupas.
Desta forma, as acusações contra o jovem foram retiradas no outono de 2018, quando Jesse Madison Holton passou mais de um ano na prisão. Mas o que aconteceu então naquele fatídico dia?
O jovem, que morava com o pai, ainda relatou que Mike ficou perturbado quando descobriu que April, com quem se relacionou desde o Ensino Médio, havia se mudado para viver com um novo namorado.
"Ele meio que surtou e então ligou para ela e foi como explodir com ela sobre isso", disse ao Dateline. "Foi como, 'eu preciso de você. Eu não posso viver sem você', coisas assim. Sempre que voltávamos para casa, eu nunca tinha visto meu pai chorar antes, mas ele estava chorando".
Em um diário encontrado em sua casa, Mike ainda documentou toda sua angústia, escrevendo em uma carta para April: "Simplesmente não posso continuar sabendo que você está com outra pessoa".
Outro tio de Madison, Chris Owenby, acreditava que, no dia do tiroteio, Mike "atacou" e matou sua esposa antes de atirar em si."Eu acho que Michael não poderia enfrentar o mundo sabendo que ele matou sua esposa e a única opção que restava para ele era acabar com sua própria vida".
Os investigadores também encontraram o DNA de Mike sob as unhas de April e ainda relataram que o sujeito tinha arranhões no rosto, sugerindo uma possível luta contra a ex-esposa. Holton também tinha um problema com drogas e narcóticos e em seu organismo foram encontrados vestígios de hidrocodona, oxicodona e tramadol.
Por fim, o promotor declarou que as evidências que receberam "foram mais consistentes com a história de Jesse Madison do que com o assassinato". O advogado do adolescente corroborou com a versão em entrevista ao jornal Wetumpka Herald, dizendo acreditar que Mike matou sua esposa e depois se suicidou.
Ele ainda argumentou que Mike Holton deu um tiro na nuca, pois era ambidestro, permitindo que ele o fizesse daquela maneira. O caso, porém, ainda não foi arquivado, podendo mudar de desfecho num futuro se mais evidências surgirem.