Atriz francesa morreu em 2003 após ser violentamente agredida em um quarto de hotel por seu então namorado, o músico Bertrand Cantat
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/03/2025, às 18h00
A atriz francesa Marie Trintignant morreu em 2003 após ser violentamente agredida em um quarto de hotel por seu então namorado, o músico Bertrand Cantat.
Cantat foi condenado pelo crime, cumpriu pena e posteriormente retomou sua carreira musical. No entanto, o caso ainda gera controvérsias na França, levantando debates sobre violência contra a mulher, o tratamento desse tipo de crime pela justiça e a reintegração de agressores à sociedade.
Agora, mais de duas décadas após o assassinato, a Netflix lançou um documentário em três partes: "De Rock Star a Assassino: O Caso Cantat". A produção revisita o caso com entrevistas exclusivas, 60 arquivos históricos e uma investigação detalhada, relembrando um episódio que dividiu a opinião pública francesa. A informação foi divulgada no portal inews
Bertrand Cantat nasceu em Pau, na região dos Pireneus, na França, em 5 de março de 1964. Filho de um oficial da Marinha, viveu em várias cidades ao longo da infância, mudando-se para Le Havre e posteriormente para Bordeaux na adolescência.
Nos anos 1980, enquanto estudava no Lycée Saint-Genès La Salle, conheceu Serge Teyssot-Gay, com quem fundou a banda Noir Désir. O grupo se consolidou na cena musical francesa e obteve sucesso, especialmente com a música "Le Vent Nous Portera", lançada em 2001. Durante sua trajetória, a banda vendeu milhões de álbuns.
Em 1997, Cantat se casou com Krisztina Rády, então diretora artística do Instituto Húngaro em Paris. O casal teve dois filhos, Milo, nascido em 1998, e Alice, em 2003. No entanto, enquanto Rády estava grávida do segundo filho, Cantat iniciou um relacionamento com a atriz Marie Trintignant.
Marie Trintignant foi uma renomada atriz francesa de cinema e teatro, indicada cinco vezes ao prêmio César. Mãe de quatro filhos, ela se separou do diretor Samuel Benchetrit em 2003 e começou a se relacionar com Cantat.
Em julho daquele ano, viajou para Vilnius, na Lituânia, acompanhada de sua mãe e do cantor para as filmagens do longa-metragem "Colette, une femme libre" ("Colette, uma mulher livre").
Na noite de 26 de julho de 2003, Trintignant e Cantat discutiram no quarto do hotel. Segundo o cantor, a atriz recebeu uma mensagem do ex-marido, o que o enfureceu. Ele admitiu no tribunal que deu um tapa nela antes de colocá-la na cama.
Horas depois, o irmão de Trintignant encontrou a atriz inconsciente e acionou os serviços de emergência. Ela foi hospitalizada em Vilnius e depois transferida para a França, onde faleceu no dia 1º de agosto devido a um edema cerebral, aos 41 anos.
Inicialmente, Cantat afirmou às autoridades que Trintignant havia caído e batido a cabeça, mas depois confessou tê-la agredido. A autópsia revelou que a atriz sofreu pelo menos 19 golpes na cabeça e no rosto, resultando em danos cerebrais irreversíveis.
No julgamento, ele admitiu o homicídio, mas alegou que foi acidental. Seus advogados tentaram reduzir a acusação para homicídio culposo, mas ele foi condenado por homicídio doloso (com intenção indireta) e sentenciado a oito anos de prisão em 2004.
Cantat cumpriu parte da pena na Lituânia antes de ser transferido para uma prisão francesa. Em outubro de 2007, foi liberto em liberdade condicional após quatro anos de reclusão. Sua soltura gerou revolta entre grupos de defesa dos direitos das mulheres e entre os pais de Marie Trintignant, que tentaram impedir sua liberação, entretanto, não obtiveram sucesso.
Após deixar a prisão, Cantat retomou sua carreira musical. Em 2008, Noir Désir lançou novas músicas, mas a banda se desfez definitivamente em 2010, após divergências internas.
No mesmo ano, sua ex-esposa Krisztina Rádycometeu suicídio na casa da família em Bordeaux. Ela já havia relatado a familiares sofrer violência psicológica e física por parte do cantor, mas uma investigação foi aberta sem resultar em acusações contra ele.
Seguindo carreira solo, Cantat lançou um álbum em 2013 e planejava apresentações em festivais em 2018. No entanto, após protestos e uma petição assinada por mais de 75 mil pessoas, ele desistiu de suas apresentações.
Em comunicado, reconheceu que sua presença gerava polêmica e decidiu cancelar os shows para evitar pressão sobre os organizadores dos eventos.
