Apesar da narrativa leve e divertida, a saga de ficção científica imaginou, em 1978, diversas tecnologias que conhecemos hoje
Os fãs costumam dividir a ficção científica em “dura” e “suave”, conforme a seriedade com que a ciência e as leis básicas da lógica são tratadas. No primeiro grupo, estão as sisudas histórias de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. No segundo, quase tudo que vem de Hollywood, com seus lasers que fazem “pew-pew” e explodem inimigos em massivos “cabuns” no espaço (onde não existe nada disso). Há um terceiro tipo, mais divertido, como o de Douglas Adams, autor de 'Guia do Mochileiro das Galáxias', de 1978.
A série se leva tão pouco a sério que Adams a chamava de “trilogia em cinco volumes”. O mundo não viu (nem verá, achamos!) coisas como computadores baseados em bistrôs italianos ou o campo de problema dos outros, que torna as coisas invisíveis porque... é um problema dos outros.
Hoje acreditamos estar mais perto de encontrar alienígenas, que podem ser apenas microrganismos, não burocratas espaciais que destroem a Terra para fazer estrada. Toalhas não são consideradas a ferramenta mais indispensável para viagens espaciais. Ainda assim, nesse puro espírito de avacalhação, Adamsconseguiu prever o futuro melhor que muitos autores que tentaram isso seriamente.
Logo no primeiro livro, os “seres hiperinteligentes pandimensionais” aparecem perplexos com a fixação da humanidade em relógios digitais — que, de tão arcaicos, no filme de 2005 foram mudados para celulares. A grande profecia é o próprio guia do título. Ele é definido por Adams como um “tipo de livro eletrônico”, no formato de um tablet.
Esse aparelho, meio antiquadamente, tem “cerca de cem pequenos botões”, mas a tela podia ser operada por toque. E, o mais revolucionário, o conteúdo era “wiki”: com verbetes editados livremente e com possibilidade de erros ou informações irrelevantes. Por fim, o Guia do Mochileiro superou a tradicional Enciclopédia Galáctica — como a Wikipédia fez, para bem e para mal, com a Britânica e a Larousse.