242 pessoas morreram em incêndio que devastou o Brasil há 10 anos. Tragédia é contada em ‘Todo Dia a Mesma Noite’, da Netflix
Publicado em 26/01/2023, às 13h00 - Atualizado em 29/01/2023, às 14h41
Na madrugada entre os dias 26 e 27 de janeiro de 2013, jovens universitários — estima-se que o número seja entre 500 e mil, bem acima do limite seguro — estiveram presentes na festa “Agromerados”, que ocorreu na Boate Kiss, na cidade de Santa Maria (RS).
Durante a apresentação da banda 'Gurizada Fandangueira', artefatos pirotécnicos foram usados no palco. As faíscas do sinalizador acabaram atingindo o teto da boate, revestido com espuma de isolamento acústico. Em poucos minutos, um incêndio começou e uma densa fumaça preta tomou conta do estabelecimento.
O incêndio da Boate Kiss vitimou 242 pessoas e o imbróglio judicial do caso se estende até os dias de hoje. Além da luta por Justiça, a tragédia voltou a ganhar repercussão com o lançamento da minissérie ‘Todo Dia a Mesma Noite’, pela Netflix. Baseada na obra homônima da jornalista Daniela Arbex, a produção narra os momentos de angústia do fatídico episódio e a luta dos familiares para que os responsáveis sejam punidos da forma adequada.
Um dos pontos que mais chamou a atenção na produção, que estreou ontem, 25, diz respeito a forma que as vítimas morreram, não por conta das queimaduras, mas devido à intoxicação por cianeto, mesma substância usada pelos nazistas nas câmaras de gás durante a Segunda Guerra Mundial.
No começo da madrugada do dia 27, um incêndio tomou conta da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), após o uso de artefatos pirotécnicos pela banda 'Gurizada Fandangueira', que se apresentava na ocasião.
Logo, o teto da boate pegou fogo e uma densa nuvem de gases tóxicos tomou conta do local. Como mostrado na produção da Netflix, a Kiss possuía apenas uma saída; que foi fechada por seguranças que pensaram que as vítimas queriam deixar o local sem pagar por suas comandas.
Além disso, devido à falta de sinalização do local, muitas pessoas acabaram confundido a porta do banheiro com as das saídas de emergência. Grande parte dos corpos foram encontrados nesses espaços.
Devido à proporção do incêndio, muitos acreditam que as vítimas morreram em decorrência de queimaduras causadas pelo fogo, visto que a região perto do palco chegou até próximo dos 300 graus. Mas o que chama a atenção é essa informação não é verdadeira; visto que as pessoas faleceram por asfixia.
O último laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP), divulgado em março de 2013, segundo relatado pelo G1, apontou que, pelo menos, 234 das 242 vítimas morreram por intoxicação de gases como cianeto e monóxido de carbono.
Conforme artigo da Faculdade Volpe Miele, o cianeto foi liberado pela queima da espuma de isolação acústica usada na Boate Kiss, feita de poliuretano. Quando a substância atinge o organismo, ela causa anóxia histotóxica, ou seja, uma redução dos níveis de oxigênio nos tecidos.
Não tem cheiro nem cor e é capaz de matar em um prazo curtíssimo, de quatro a cinco minutos", explicou o pesquisador Anthony Wong, diretor médico do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), à Folha de São Paulo em 2013.
Estima-se que uma pessoa saudável, caso exposta ao gás, pode ir a óbito após apenas um minuto de exposição ao cianeto. No caso da Kiss, as vítimas morrem entre 3 e 5 minutos após o início do incêndio.
O fato fez com que muitas pessoas comparasse o interior da Kiss a uma câmara de gás usada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. E a atribuição não é nenhum exagero.
Afinal, o cianeto era o mesmo princípio ativo do famoso Zyklon B, dos campos de extermínio do Terceiro Reich. "É que o gás é subproduto da combustão de materiais como espuma de poliuretano, usada em revestimentos baratos com finalidades acústicas", explicou Wong.
Isolamentos acústicos de uma qualidade superior, porém, possuem tecnologia antichamas e também não são inflamáveis, o que evitaria uma tragédia de tamanha magnitude.
O laudo do IGP apontou que as pessoas que morreram na Boate Kiss, naquele dia 27, foram vítimas de asfixia. Importante ressaltar que sete delas faleceram posteriormente, enquanto estavam internadas em hospitais.