O chamado ocorreu ainda quando as chamas começaram a se espalhar, resultando em 242 mortes há dez anos
Publicado em 29/01/2023, às 12h00 - Atualizado em 01/02/2023, às 10h59
Durante a madrugada que cruzava os dias 26 e 27 de janeiro de 2013, o acionamento de um artefato pirotécnico durante uma apresentação musical na Boate Kiss, localizada no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, encerrou o destino de mais de duas centenas de pessoas, vítimas de um dos piores incêndios que já ocorreram no Brasil.
A casa de shows recebia a banda Gurizada Fandangueira, liderada pelo vocalista do conjunto, Marcelo de Jesus dos Santos, o responsável por acender o sinalizador, justamente no ambiente fechado, com paredes e teto cobertos com espuma de isolamento acústico, altamente inflamável.
Como consequência do incêndio, uma série de problemas ligados a segurança e infraestrutura do local adicionaram ainda mais pânico nas centenas de pessoas que tentavam correr das chamas que se espalhavam rapidamente, matando 242 pessoas e deixou outros 363 feridos devido ao contato com fogo e gás tóxico decorrente das chamas.
Muitas das vítimas, no entanto, poderiam ter saído a tempo de pouparem suas vidas, como apontou o Ministério Público; a ausência de planos de escoamento, aval inválido do Corpo de Bombeiros e até mesmo o impedimento de funcionários da casa retardaram o escape das vítimas. Um dos casos que provam tal tempo partiu de uma das vítimas fatais, minutos antes de perder a vida no local.
Instantes depois o show ser interrompido pela tentativa de extinguir as chamas na estrutura, Michele Froehlich Cardoso, que estava dentro do estabelecimento, teve tempo de sacar o celular, abrir o Facebook e publicar um pedido de socorro, resumindo em quatro palavras o início da tragédia local: "Incêndio na KISS socorro", como noticiado pelo Terra em 2013.
Pessoas que estavam adicionadas no perfil da garota chegaram a curtir a publicação naquele momento, com amigos ainda indagando o que estava ocorrendo. Minutos depois, um rapaz confirma a informação nos comentários: "Os bombeiros subiram a [rua das] Andradas, bem que eu escutei".
Com 20 anos de idade, Michele estava acompanhada de dois irmãos, Bruno e Clarissa, além do namorado João Pozzobon, quando publicou o chamado às 3h20, exatamente um minuto depois do primeiro chamado para o serviço de emergências no local. Dos quatro, apenas Bruno sobreviveu.
A jovem chegou a ser colaboradora da boate, inclusive publicando fotos usando um uniforme com o emblema da casa de shows no mesmo perfil. Mesmo com a postagem, a chegada do Corpo de Bombeiros não conseguiu resgatar a todos e conter o incêndio a tempo, com Michele sendo confirmada como uma das mortas horas depois.