Misteriosa espécie teria sobrevivido dessa forma por milhares de anos
O ácaro conhecido como 'Opiella nova' traz uma característica singular — ele é capaz de reprodução assexuada ou, ao menos, de sobreviver por milhares de anos sem a necessidade de sexo. Outras espécies deste reino, até onde os especialistas têm conhecimento, iriam à extinção caso se submetessem ao mesmo regime de castidade.
A descoberta inédita foi produto dos esforços de uma equipe internacional composta por zoólogos e biólogos. Ela foi revelada ao mundo no dia 21 de setembro deste ano através de um artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Antes deste estudo, o consenso era de que, no Reino Animal, não existiam seres aptos a reproduzirem-se sem sexo durante um período de tempo tão longo. A presunção a respeito dessa curiosa espécie de ácaro, por sua vez, era de que os biólogos apenas não tinham sido capazes de pegá-la no ato ainda.
Os autores da pesquisa colocaram um ponto final à questão ao observar de perto esses seres que tem somente um quinto de milímetro. Para tanto, eles sequenciaram e examinaram o genoma deles através de programas de computador personalizados para a tarefa.
Uma de suas conclusões, para a surpresa da comunidade científica, foi de que o Oppiella nova possui somente fêmeas. Diante deste dado, eles inauguraram um território de especulações a respeito do excêntrico ácaro.
Pode haver, por exemplo algum tipo de troca sexual 'enigmática' que nos é, até então, desconhecida", opinou o Dr. Alexander Brandt, principal autor do estudo, conforme repercutido pelo Science Daily.
"Por exemplo, muito raramente um macho reprodutivo poderia ser produzido, — possivelmente até de forma 'acidental'”, acrescentou.
Caso realmente não existam nem mesmo machos 'acidentais' entre os ácaros Oppiella nova, porém, ainda existe uma outra explicação possível para a sobrevivência da espécie. Trata-se do chamado "efeito Meselson".
Seres que se reproduzem usando esta técnica realizam a clonagem de si mesmos. Vale lembrar nesse momento, no entanto, que a reprodução sexuada possui a vantagem evolutiva de gerar espécimes com genes diferenciados.
Assim, as melhores características têm a chance de serem selecionadas ao longo do tempo, fazendo com que a espécie fique mais e mais adaptada ao seu ambiente. Com a clonagem, isso não seria possível.
O efeito Meselson, porém, garante que, mesmo com uma reprodução que gera seres idênticos, cada indivíduo desenvolva suas próprias mutações de forma independente. Dessa forma, mesmo que eles nasçam iguais, vão mudando ao longo do tempo, de acordo com informações repercutidas na época pela revista Galileu.
Um detalhe importante aqui, contudo, é que esse processo nunca foi documentado ocorrendo em animais. A pesquisa divulgada em setembro, portanto, não apenas trouxe soluções, mas também criou mais mistérios. Resta agora esperar pelos resultados dos próximos estudos a respeito do instigante Opiella nova.
"Nossos resultados mostram claramente que O. nova se reproduz exclusivamente assexuadamente. Porém, quando se trata de entender como a evolução funciona sem sexo, esses ácaros ainda podem fornecer uma surpresa ou duas", concluiu o Dr. Jens Bast, um outro pesquisador envolvido no estudo, ainda conforme o Science Daily.