Mais lidas do ano: Durante a curta viagem do físico, um episódio o desagradou intensamente
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/04/2022, às 08h00 - Atualizado em 30/12/2022, às 08h00
No ano de 1925, o brilhante Albert Einstein, um dos físicos mais famosos da História, pisou no Brasil durante dois meses diferentes, no entanto, a experiência não foi inteiramente de seu agrado.
O teórico alemão tinha então 46 anos de idade e visitava a América do Sul pela primeira vez. Ele passou um mês inteiro na Argentina, porém antes de visitar o país precisou fazer uma escala no Rio de Janeiro (que era a capital brasileira na época), onde ficou durante um dia.
Na volta, passou pela cidade uruguaia de Montevidéu, e voltou para o território carioca para passar mais uma semana. Suas impressões, no entanto, mudaram drasticamente da primeira para a segunda visita, segundo relembrado pela Rede Globo em uma matéria de 2012.
O motivo pelo qual sabemos hoje as opiniões mais íntimas do físico a respeito das nações latino-americanas é que esses pensamentos foram registrados por ele em um diário pessoal.
A tradução do documento histórico, por sua vez, resultou no livro “Einstein, o viajante da relatividade na América do Sul”, lançado em 2009 pelo engenheiro Alfredo Tiommo Tolmasquin.
À primeira vista, o físico alemão parece ter adorado o Brasil, de acordo com seus registros daquele primeiro dia andando pelas ruas cariocas:
“O Jardim Botânico, bem como a flora de modo geral, supera o sonho das mil e uma noites. Tudo vive e cresce a olhos vistos por assim dizer. Deliciosa mistura étnica nas ruas: português, índio, negro, com todos os cruzamentos. Espontâneos como plantas, subjugados pelo calor. Experiência fantástica! Indescritível abundância de impressões em poucas horas", anotou Einstein na ocasião, de acordo com a obra citada.
Quando voltou para ficar uma semana por aqui, porém, seu juízo a respeito de nosso país passou a focar em outros aspectos.
Um dos maiores catalisadores para essa mudança de perspectiva teria sido uma palestra dada pelo teórico no Clube de Engenharia, onde falou para uma plateia composta principalmente por políticos e militares, assim como suas famílias.
“Às quatro horas, primeira conferência no Clube de Engenharia Militar, o salão superlotado com o barulho da rua pelas janelas abertas. Compreensão impossível, a começar pela acústica. Pouco sentido científico. Eu sou um tipo de elefante branco [um objeto de curiosidade] para eles, e eles para mim uns tolos", descreveu o cientista em seu diário, revelando um claro descontentamento com a situação.
A elite brasileira, aliás, não teria sido a primeira a irritar Einstein, que tivera uma reação semelhante aos argentinos de classe alta, considerados por ele como "muito esnobes".
Os motivos para a viagem do cientista são abertos à especulativa: alguns acreditam que ele veio a convite da rica comunidade judaica argentina, que o chamou em 1923, e outros que fugia temporariamente das cada vez mais frequentes perseguições a judeus ocorridas na Alemanha em consequência da disseminação da ideologia nazista.
No contexto da primeira hipótese, o principal objetivo da viagem teria sido o arrecadamento de fundos para o movimento sionista, segundo explicado por Carlos Alberto, um professor de física da Universidade Federal da Integração Latino Americana que foi entrevistado também pela Rede Globo.
O sionismo, vale destacar, acredita na criação de um Estado judeu soberano, tendo sido a crença política por trás da criação de Israel.
Alheia ao desagrado de Albert Einstein em sua curta visita, um detalhe interessante é que a imprensa brasileira da época cobriu extensamente o fato de o físico estar em solo nacional.