Mesmo com a aprovação científica, crenças populares assustavam a população
Quando Edward Jenner relatou sua experiência e seus resultados à Royal Society (a Academia de Ciências do Reino Unido), em 1797, o corpo de pesquisadores não aprovou a técnica, que, conforme explica a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tania Fernandes “gerou dúvidas e preconceitos tanto pela sociedade quanto pelo corpo médico”.
Jenner seguiu reticente. Chegou a aplicar a vacina no próprio filho. Em 1798, o seu trabalho foi reconhecido e publicado. O vocábulo vacina, inclusive, origina-se de vaccinae, adjetivo latim que significa ‘da vaca’.
Mesmo com a aprovação científica, a população estava receosa de ser vacinada. “Havia crenças populares que apontavam que quem tomasse a vacina ficaria com características físicas bovinas. Muitas eram as dúvidas sobre essa vacina criada a partir de uma substância extraída de um animal”, conta Tania.
Renomados médicos ingleses se recusaram a comprar a ideia de Jenner. Por outro lado, médicos que atuavam em aldeias, enfermeiros e parteiros contribuíram para que a vacinação avançasse.
Em 1800, 6 mil pessoas tinham sido imunizadas da varíola na Inglaterra e, pouco depois, Jenner virou membro honorário da Sociedade Real de Medicina, recebendo entre 1802 e 1807 gratificações financeiras do Parlamento.
A Marinha britânica, por exemplo, começou a adotar a vacinação a partir de 1800 e, em seguida, Napoleão Bonaparte introduziu-a em seus exércitos. E, assim, a vacina começou a ganhar terreno na Europa.
Na França, entre 1805 e 1806, o número de casos não ultrapassou uma dezena de milhar (antes, a varíola matava anualmente entre 50 mil a 80 mil pessoas naquele país). Ainda assim, a doença continuava a ser fatal para a camada mais pobre da população, já que a imunização era paga e só os nobres tinham condição de tomar.
“A solução seria vacinar gratuitamente as crianças, o que foi feito na Grã- Bretanha em 1840 e tornou-se obrigatório em 1853”, descrevem as pesquisadoras Liliana Muller Larocca e Telma Elisa Carraro.
Portugal também adotou a vacinação perto de 1800. Um ano antes, o imunizante foi transportado em um pequeno frasco e inoculado no futuro imperador do Brasil, dom Pedro, e em seu irmão.
Não tardou para a vacina chegar aos Estados Unidos por meio do médico Benjamin Waterhouse, popularizando-se, a partir de 1801, quando o presidente Thomas Jefferson foi vacinado. Aos poucos, a vacinação foi se generalizando e se tornou obrigatória em 1810 na Dinamarca, em 1814 na Suécia e em 1818 em vários estados germânicos.