Lutando pelos direitos dos negros na sociedade norte-americana, a jovem foi ameaçada e até perseguida pela Ku Klux Klan
Pouco antes de completar dez anos de idade, a pequena Joan Trumpauer Mulholland teve uma experiência que mudou sua forma de enxergar o mundo. Herdeira de uma família comum, ela estava passando as férias de verão na Geórgia.
Um dia, sua grande amiga Mary pensou em um desafio. O que aconteceria se as duas meninas entrassem em uma área conhecida por sua população majoritariamente negra? Curiosas, as crianças decidiram criar coragem e caminhar até lá.
Uma vez na região, que ficava do outro lado dos trilhos do trem, Joan descobriu algo assustador. "Ninguém disse nada, mas a maneira como eles encolheram me mostrou que eles acreditavam que não eram tão bons quanto eu”, narrou ela mais tarde.
Um mundo diferente
Depois da experiência na cidade, Joan soube que a divisão entre as raças não deveria mais acontecer. Assim, ela jurou que faria o necessário para fazer parte do Movimento dos Direitos Civis. Aos dez anos idade, ela queria mudar o mundo.
Neta de tradicionais proprietários de escravos, a menina frequentava a igreja presbiteriana e esbarrava com situações de racismo todos os dias. Eventualmente, o desejo de mudança de Joan gerou uma discussão entre a família.
A mãe dela, principalmente, sentia um terror absoluto apenas de pensar sobre a possibilidade de integração. Por isso, inclusive, ela queria que a filha fosse estudar na a Universidade de Duke, onde apenas brancos eram aceitos naquela época.
Uma ativista incurável
A vaga de Joan na faculdade não durou muito, já que a jovem decidiu largar o curso. Sem ter para onde ir, ela ingressou no primeiro grupo que a ensinaria sobre a luta contra a segregação: o Nonviolent Action Group, da Universidade de Howard.
Pouco mais tarde, na primavera de 1960, Joan foi para o primeiro de muitos protestos. Na manifestação, ela foi presa e levada até a penitenciária feminina mais próxima, onde escreveu um diário sobre seu dia-a-dia e sobre a segregação que viu nas celas.
Sendo uma mulher branca, ela foi fortemente criticada por seu ativismo e chegou a ser taxada de louca. Logo depois da prisão, inclusive, Jean foi submetida a diversos testes que tinham como objetivo avaliar sua saúde mental.
Protestos sem fim
Uma vez livre de sua primeira condenação, a jovem envolveu-se com um grupo conhecido como os Freedom Riders. Junto dos ativistas, ela foi presa pela segunda vez, agora por dois meses, na penitenciária do estado de Mississippi, em 1961.
Mesmo em cárcere, a jovem de 19 anos se recusava a pagar sua fiança. No final, ela desembolsou apenas uma multa de 200 dólares. Logo depois de solta, Jean passou a acompanhar pelos jornais mais um caso de racismo na Universidade da Geórgia.
Conhecidos como os primeiros afro-descendentes a estudarem na instituição, os jovens Charlayne Hunter-Gault e HamiltonE. Holmes sofreram intensas represálias. Indignada, Joan teve uma ideia que mudaria tudo.
A ideia de um milhão de dólares
Logo que os estudantes sofreram com a segregação, Joan começou a refletir sobre o assunto. “Se os brancos se revoltam quando negros entram em escolas brancas", pensou, "o que eles fariam se um aluno branco fosse para uma escola para negros?”
Com isso em mente, Joan se tornou a primeira estudante branca a se matricular no Tougaloo College, uma faculdade apenas para negros. Na instituição, ela conheceu nomes como Medgar Evers e o símbolo da resistência negra Martin Luther King Jr..
Meses mais tarde, ela ainda foi a primeira integrante branca da Delta Sigma Theta Sorority, Incorporated, uma fraternidade historicamente afro-americana. Por sua resistência ao sistema segregacionista, a garota recebeu ameaças e até tentativas de suborno de seus pais, mas nada fez com que ela saísse da Tougaloo.
Luta e resistência
Em 1963, Joan ainda participou de diversos outros protestos pela igualdade e pelo fim da segregação. Em muitos deles, foi chamada de traidora da própria raça, além de sofrer ataques e perseguições da Ku Klux Klan, que exigiam sua execução.
Com o passar dos anos, a mulher participou de mais de 30 mobilizações e, por isso, se afastou completamente da família, que não aceitava seu posicionamento. Ativista incurável, ela já trabalhou no Instituto Smithsonian e como professora de inglês.
Ao lado de Dan Mulholland, Joan teve cinco filhos, antes de se separar, em 1980. Hoje, a manifestante pela igualdade racial está aposentada, mora no estado da Virgínia e já teve sua história contada em diversas peças do audiovisual — como no documentário feito por seu filho, Um herói comum: a verdadeira história de Joan Trumpauer Mulholland.
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