Trabalho divulgado no ano passado se baseia no crânio de um indivíduo que foi encontrado com uma estaca de madeira numa espécie de cemitério de 8 mil anos em 2012, na Suécia
Em 2012, arqueólogos realizavam escavações no fundo de um pequeno lago que acabou secando ao longo dos anos na cidade de Motala, no centro-leste da Suécia. O que eles descobriram demonstrou-se impressionante: crânios de mais de dez homens e uma criança, incluindo duas cabeças fincadas em estacas que saíam pela beirada do lago.
Os pesquisadores ficaram intrigados com a descoberta peculiar: afinal, caçadores-coletores pré-históricos raramente deixavam crânios dispostos de tal maneira. Esse tipo de ritual pós-morte não era comum no período histórico, pois os antigos geralmente respeitavam a integridade dos esqueletos.
O fato de despedaçar o corpo do outro, já morto, se tornou mais habitual apenas depois da Idade Média. Ao decapitar o seu inimigo, a exibição de seu crânio poderia servir como aviso ou até mesmo um sinal de vitória.
No entanto, ainda não foi possível identificar qual foi o motivo que levou pessoas a colocarem estacas nas cabeças na Suécia.
O local era uma espécie de cemitério de 8 mil anos, avaliaram os arqueólogos. Também contava com crânios que apresentavam sinais de trauma por violência.
Acredita-se que essas lesões tenham causado a morte da maior parte das pessoas enterradas no local, mas não é possível afirmar com certeza. Outros apresentavam marcas de ferimentos passados, já curados.
Três crânios de indivíduos do sexo masculino possuíam, além das marcas deixadas antes da morte, sinais de traumatismo craniano já depois de terem falecido, o que pode ter acontecido devido à estaca na cabeça. Um dos crânios, por exemplo, tinha uma mecha de cabelo na parte de trás de seu crânio, que revelava uma cicatriz de cerca de 2,5 cm.
E esse indivíduo, inclusive, se tornou objeto de uma pesquisa que resultou em sua reconstrução facial. O responsável pelo projeto foi o artista forense sueco Oscar Nilsson que, por meio de tomografia computadorizada (TC) do crânio, reconstruiu o rosto do homem mesolítico.
“Eu nunca trabalho no original”, disse Nilsson, conforme repercutido pelo portal Gizmodo em 2020. Ainda assim, ele afirmou que “queria que esse homem fosse realmente atraente e único em sua individualidade”. Foi então que ele imprimiu uma cópia em 3D do crânio do indivíduo, usando ainda informações genéticas e anatômicas para construí-lo.
O homem fazia parte de um grupo de caçadores e coletores que tinha herança genética de pessoas que vieram para a Escandinávia. Com esses dados, foi possível sugerir que a aparência dele consistia em olhos azuis, cabelos castanhos e pele clara, estando em por volta dos 50 anos de idade.
"No entanto, neste caso, não havia mandíbula", explicou Nilsson. "Então, a primeira coisa a reconstruir foi a mandíbula". Para realizar o trabalho considerado por ele como ‘desafiador’, o artista mediu o busto do indivíduo e conseguiu gerar o osso que provavelmente se parecia com o verdadeiro.
Além disso, o artista também usou de sua criatividade e da associação com os ossos de ursos pardos, javalis, veados e alces encontrados com eles para criar uma roupa para o homem.
Ele usa a pele de um javali. Podemos ver de como foram encontrados os crânios humanos e mandíbulas de animais que claramente significavam muito em suas crenças culturais e religiosas", explicou.
“Minha ideia aqui é que esses animais eram muito importantes para essas pessoas, como totens ou animais espirituais”, disse. Para Nilsson, ele apresentava um penteado inspirado nesses animais, o que “é puramente especulativo, mas uma descoberta tão específica e dramática exige uma interpretação correspondente”.
Não se sabe exatamente o motivo pelo qual os indivíduos foram enterrados de maneira tão brutal no passado. No entanto, a reconstrução facial do homem pode ajudar os pesquisadores a entenderem melhor as dinâmicas dos povos do mesolítico e pesquisas continuarão sendo feitas sobre a impressionante descoberta feita na Suécia.