Não é de hoje que a questão causa polêmica; entenda!
Recentemente, o debate sobre como lidar com restos humanos de catástrofes históricas foi reacendido pela disputa judicial entre uma empresa especializada em expedições para onde o Titanic está naufragado, para recuperar itens (sendo o último objetivo deles o rádio usado pelo famoso navio), e o governo dos Estados Unidos.
O argumento desse último seria que os possíveis vestígios ainda presentes das vítimas não deveriam ser mais “perturbados” por tais expedições, especialmente sendo uma catástrofe mais recente na História da humanidade.
Segundo David Gallo, um oceanógrafo consultado pela RMS Titanic Inc. (que administra uma coleção de milhares de objetos retirados do famoso naufrágio), os restos humanos provavelmente já teriam desaparecido, com a carne ingerida por peixes e os ossos desgastados pelas correntes oceânicas.
Além disso, o especialista garante: “Há uma regra não escrita que, se nos deparamos com restos humanos, desligamos as câmeras e decidimos o que fazer a seguir”, como foi divulgado pelo portal Phys Org.
Contudo, o especialista David Conlin, chefe do Centro de Recursos Submersos dos EUA, possui uma visão diferente. Ele disse que “seria cientificamente espantoso se não houvesse restos humanos ainda a bordo daquele navio”, e questionou as razões de RMS Titanic Inc, sugerindo que eles não se importariam com a questão ética do que estariam fazendo, estando interessados apenas em obter novos artefatos para colocar em exposição.
"Água muito profunda, fria e com baixo teor de oxigênio é um conservante incrível", comentou Conlin em entrevista à rede AP, citando também casos de naufrágios mais antigos que o Titanic em que foram encontrados os restos mortais de seus tripulantes.
Restos?
Embora se acredite que décadas no oceano levariam à destruição de qualquer vestígio orgânico, o debate ainda existe. Em 2012, no aniversário de cem anos da tragédia, fotografias dos destroços foram lançadas ao público. Entre elas, estava a de um grande casaco com botas sobressaindo abaixo.
“A maneira como as roupas são arrumadas faz com que pareça o lugar de descanso final de alguém”, afirmou Kristina Killgrove, antropóloga biológica da Universidade da Carolina do Norte.
Tais questões vieram à tona após a empresa OceanGate reservar uma série de viagens a alto preço para visitar os destroços do navio em 2019. Todavia, os organizadores afirmam não ter detectado nenhum vestígio humano.
James Cameron, que realizou uma extensa pesquisa nos destroços para produzir o filme de sucesso Titanic (1997), também discorda da existência de corpos. Sua equipe visitou o naufrágio 33 vezes, vendo "zero restos humanos" durante as explorações. “Nós vimos sapatos, pares de sapatos, o que sugere fortemente que havia um corpo lá. Mas nunca vimos restos humanos”, disse Cameron.