Gisèle Pélicot rompe o silêncio e exige justiça contra os responsáveis por anos de estupros em série orquestrados por seu próprio marido
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 05/09/2024, às 16h30
Gisèle Pélicot, uma mulher francesa de 72 anos, que foi drogada e abusada sexualmente por estranhos durante uma década a mando do próprio marido, falou publicamente pela primeira vez sobre as atrocidades que sofreu.
Nesta quinta-feira, 5, no quarto dia do julgamento de Dominique Pélicot e mais 50 homens acusados de participação nos crimes, ela deu um depoimento devastador que expôs a dimensão do abuso e a cumplicidade dos envolvidos.
Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro; dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício", declarou Gisèle em uma sala de tribunal.
Ela disse que se sente como "um campo de ruínas". O julgamento, que ocorre na cidade de Avignon, sul da França, tem atraído a atenção pública não só pelo número de acusados, mas também pela brutalidade e duração dos crimes.
Dominique Pélicot, que já confessou sua culpa, drogava sua esposa com um ansiolítico forte, convidando homens, muitos dos quais conheceu em sites de encontros, para abusar dela enquanto estava inconsciente. As instruções eram claras: não a acordem, não usem perfume ou tabaco, e deixem as roupas na cozinha para evitar esquecê-las no quarto.
A mulher, que optou por abrir mão de seu anonimato para garantir que "isso nunca mais aconteça", criticou duramente os 35 réus que se declararam inocentes. "Que eles reconheçam os fatos, o contrário é insuportável", afirmou, questionando por que nenhum deles teve a decência de denunciar o que ela estava sofrendo.
Até um telefonema anônimo poderia salvar minha vida", desabafou.
Segundo o G1, o caso chocou a França, não apenas pela monstruosidade dos atos, mas pela descoberta de que seu marido também possuía fotos de sua filha, Caroline, nua, em seu computador. A revelação foi um golpe devastador para a família, especialmente para a menina, que abandonou a sala do tribunal em lágrimas ao ouvir os detalhes.
Com o julgamento em andamento, o país acompanha de perto cada nova revelação, esperando que a justiça seja feita para Gisèle e sua família. Para ela, no entanto, a maior batalha é interna. "A fachada é sólida, mas por trás dela...", disse, deixando claro que, apesar da força exterior, as cicatrizes dos anos de abuso estão longe de cicatrizar.
