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Notícias / Ana Bolena

Falsificação? O mistério por trás da carta atribuída a Ana Bolena

Carta atribuída a Ana Bolena teria sido escrita pela rainha consorte antes de sua execução, aos 35 anos de idade, após acusação de adultério

por Giovanna Gomes
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Publicado em 15/09/2024, às 10h00

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Retrato de Ana Bolena - Domínio público
Retrato de Ana Bolena - Domínio público

Vítima de um cruel destino, Ana Bolena, a segunda esposa do rei Henrique VIII, ocupou, por pouco tempo, o posto de rainha consorte da Inglaterra. Acusada pelo próprio marido de adultério e incesto, foi executada a mando dele em 1536, quando tinha 35 anos de idade.

Uma carta, supostamente escrita por ela durante sua prisão na Torre de Londres, conhecida como "Carta da Torre", foi dirigida ao rei, na qual Ana declara sua inocência e lealdade. Este documento, que se tornou um dos textos mais intrigantes da história britânica, ainda gera debates sobre sua autenticidade.

Historiadores modernos acreditam que as acusações contra Ana Bolena eram, na verdade, parte de uma estratégia de Henrique VIII para se livrar da esposa.

Quando Ana deu à luz uma filha, Elizabeth — que mais tarde se tornaria a icônica rainha Elizabeth I — o rei teria procurado um pretexto para substituí-la por uma esposa que pudesse gerar uma criança do sexo masculino.

Novo capítulo

O mistério em torno da "Carta da Torre" ganhou um novo capítulo em fevereiro deste ano, quando a historiadora britânica Amanda Glover publicou uma pesquisa na qual sugere que o documento pode não ser autêntico.

Ao analisar a marca d'água presente no papel da carta, supostamente escrita em 6 de maio de 1536, Glover descobriu que ele só foi produzido no início do século 17, quase 70 anos após a execução de Ana Bolena.

Essa revelação levanta a possibilidade de que a carta, em vez de ser escrita por Ana durante sua prisão, pode ser uma cópia posterior ou até mesmo uma falsificação.

Ana Bolena em uma caçada com o rei em pintura do século XX / Crédito: Wikimedia Commons / William Powell Frith

Apesar da descoberta, Glover não descarta que as palavras da carta possam ter sido originalmente de Ana Bolena.

"Quando descobri que este pedaço de papel não existia até pelo menos 1600, meus primeiros pensamentos foram: é uma falsificação, como acho que a maioria das pessoas pensaria", afirmou a historiadora, conforme repercutido pela Discover Magazine. "Mas eu não estabeleci isso como uma falsificação [...] Pode ser uma cópia muito posterior".

A carta

A carta é um apelo emocional, no qual a britânica pede um julgamento justo e implora ao rei que não permita que seus inimigos sejam seus juízes.

"Que sua graça nunca imagine que sua pobre esposa será levada a reconhecer uma falha onde nunca nem mesmo um pensamento disso jamais procedeu", diz trecho da carta. "E para falar a verdade, nunca o príncipe teve uma esposa mais leal em todos os deveres e verdadeira afeição do que você já encontrou em Ana [Bolena]."

Em seguida, a rainha implora que Henrique permita que ela tenha um julgamento justo e não deixe seus "inimigos jurados sentarem-se como [seus] acusadores e juízes". Ela também pede ao marido que não puna injustamente os homens com quem foi acusada de cometer adultério.

Ana Bolena na Torre / Crédito: Wikimedia Commons / Édouard Cibot

Autenticidade questionada

A autenticidade da carta continua a ser debatida, com alguns historiadores argumentando que o estilo do texto é muito mais ousado do que o encontrado outros escritos de Ana.

No entanto, Glover acredita que a carta pode, de fato, ser um reflexo verdadeiro da rainha. A força de suas palavras e o tom desafiador, destaca a pesquisadora, refletem a personalidade pela qual Ana era conhecida — uma mulher de espírito forte e opiniões firmes, características que, inicialmente, cativaram Henrique VIII.

Impacto na história

Além disso, existe a possibilidade de que uma versão original ou documentos relacionados ainda estejam escondidos em algum arquivo não explorado — e Glover e outros estudiosos continuam a buscar evidências que possam esclarecer esse mistério.

Independentemente de a carta ser genuína ou não, seu impacto na história britânica é inegável. Não à toa a peça foi descrita pelo historiador Henry Ellis, em 1824, como "uma das melhores composições da língua inglesa", destacando-se pela profundidade emocional e pelo apelo sincero de uma rainha que viu sua vida desmoronar.