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Notícias / Groenlândia

Mega-tsunami e vibração global por nove dias: Cientistas desvendam fenômeno

Deslizamento de terra provocado por mudanças climáticas gera tsunami de 200 metros e alerta sobre riscos crescentes no Ártico

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 14/09/2024, às 13h00

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Groenlândia - Getty Images
Groenlândia - Getty Images

Em setembro do ano passado, um evento inesperado abalou a Groenlândia e repercutiu em todo o planeta. O derretimento de uma geleira desencadeou um enorme deslizamento de terra, resultando em um mega-tsunami de 200 metros de altura.

Porém, o mais intrigante foi a vibração misteriosa que sacudiu o planeta por nove dias consecutivos. A comunidade científica ficou perplexa, e dezenas de pesquisadores ao redor do mundo passaram o último ano tentando entender esse fenômeno sem precedentes.

Os primeiros sinais dessa anomalia foram detectados por sismólogos que inicialmente pensaram que seus instrumentos estavam quebrados. Diferente de um terremoto típico, que produz uma série de tons altos e estrondos e dura apenas alguns minutos, o que foi captado desta vez era um zumbido monótono que persistiu por nove dias. A investigação levou os cientistas ao leste da Groenlândia, onde um mega-tsunami havia sido relatado após um deslizamento de terra na remota região do Dickson Fjord.

O estudo, agora publicado na revista Science, revelou que o evento foi o resultado de um "risco em cascata", como descreveu o pesquisador Svennevig. Tudo começou com as mudanças climáticas causadas pelo homem, que há anos têm causado o derretimento da geleira na base de uma montanha de 1.210 metros de altura acima do Fiorde Dickson.

À medida que a geleira se tornou mais fina, a estabilidade da montanha foi comprometida, resultando em desabamento em 16 de setembro do ano passado. A queda lançou na água uma quantidade de rochas e detritos suficiente para encher 10.000 piscinas olímpicas, desencadeando um dos maiores tsunamis da história recente.

Este tsunami, porém, não se dissipou como o esperado. Em vez disso, ficou preso no fiorde estreito e sinuoso, indo para frente e para trás a cada 90 segundos por mais de uma semana. Este movimento rítmico e prolongado é conhecido como "seiche", um fenômeno que ocorre quando a onda oscila em um espaço fechado, semelhante à água espirrando em uma banheira. O seiche criado pelo mega-tsunami gerou a energia sísmica captada pelos instrumentos ao redor do globo.

Embora seiches sejam fenômenos conhecidos, a duração foi uma surpresa total para os cientistas. "Se eu tivesse sugerido um ano atrás que um seiche poderia persistir por nove dias, as pessoas balançariam a cabeça e diriam que isso é impossível", afirmou Svennevig. Essa descoberta é comparada a encontrar uma nova cor no arco-íris, algo que desafia nosso entendimento atual dos processos naturais.

O mega-tsunami não causou vítimas, mas devastou locais culturais e danificou uma base militar não ocupada. Entretanto, a região afetada está localizada numa rota de cruzeiro comumente usada, o que indica que as consequências poderiam ter sido devastadoras se houvesse pessoas presentes no momento.

Alerta

Esse evento levanta um alerta sobre os riscos crescentes no Ártico. À medida que a região continua a aquecer — com temperaturas subindo quatro vezes mais rápido que no resto do mundo nas últimas décadas — mega-tsunamis provocados por deslizamentos de terra podem se tornar mais frequentes. Outros lugares com fiordes semelhantes, como o Alasca, partes do Canadá e Noruega, também podem estar em risco.

Especialistas, como Paula Snook e Lena Rubensdotter, alertam que a desestabilização de grandes encostas de montanhas no Ártico é um "sinal alarmante" das mudanças em curso.

"Estamos descongelando solo que estava em um estado frio e congelado por muitos milhares de anos", destacou Snook.