Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma notícia em que a agência teria se deparado com um universo onde o tempo passa ao contrário
As correntes notícias que estão sendo vinculadas na internet de que um cientista da NASA encontrou evidências de um universo paralelo em que o tempo retrocede são, além de sem sentido, mentirosas. Sua origem está numa associação com uma entrevista antiga e pouco creditada e uma recente pesquisa que nenhuma ligação tem com o tema. Entenda.
A divulgação do caso teve início por conta de um experimento real que ocorreu na Antártica, envolvendo uma antena e radiotelescópio chamado ANITA, que, acoplado num balão atmosférico e lançado do Polo Sul, pretendia detectar partículas subatômicas (neutrinos de alta energia) vindas do espaço. Essas partículas, ao interagirem com o núcleo do planeta, geram elétrons altamente contingentes e pesados, produzindo ondas de rádio.
O experimento era, basicamente, uma leitura dessas ondas para a reconstrução das partículas originais, um estudo de física molecular e astronomia, que nada tem haver com a cosmologia de Hawking e a teoria dos universos paralelos. Gorhem ainda negou à CNN que tenha atribuído sua fala a essa ideia, ao mesmo tempo em que defende que o Big Bang possa ter dado origem a um segundo universo refletido.
As notícias recentes atribuem essa hipotética pesquisa a um pesquisador chamado Peter W. Gorham, o que já evidencia a falsidade do caso: longe da NASA, esse astrofísico é da Universidade do Havaí. Sua associação com a suposta descoberta de universos paralelos a la Rick and Morty nasceu de uma especulação realizada em entrevista que não proveio de nenhuma pesquisa propriamente dita, e que foi duramente distorcida.
Em 2018, ele analisou os resultados das captações da ANITA, concluindo que a onda de raio da leitura era de origem cósmica e se tratava de neutrinos tau, cujas características de radiação pareciam estar fora dos padrões conhecidos pela Física. Novas captações de 2020 colocaram o cientista de volta à mídia.
Então, em uma entrevista veiculada do University of Hawai’i News, Gorham afirmou que o ângulo do raio catado evidenciava possivelmente se tratar de “nova classe de partículas subatômicas que é muito penetrante”. Sua fala foi pouco creditada, por se tratar de pura especulação. Ele ainda teria afirmado que essa partícula nova violava a simetria Carga-Paridade-Tempo, um conceito físico que impõe que as interações do corpo molecular não se modificam com a inversão das cargas polares, coisa que é hoje muito discutida.
Bastou a fala de Gorham aparecer em veículos mais sensacionalistas e irresponsáveis, como foi o caso do Daily Star e do Bangladesh Dhaka Tribune, e começaram as especulações sobre universos paralelos, em que se atribuía descaradamente essa suposta revelação a um cientista da agência NASA (que possuía apenas uma participação financeira no lançamento do telescópio que deu origem a toda essa história, ocorrido em 2006).