Retrato de Stravinsky beira a arte abstrata
Filho de um cantor de ópera e de uma pianista, Igor Stravinsky começou a estudar música aos 9 anos. O futuro autor de Sagração da Primavera cogitou tornar-se advogado, mas conheceu o compositor Rimsky-Korsakov, que o incentivou a seguir sua vocação artística.
Largou a faculdade de direito de São Petesburgo, na Rússia, e se transformou em um dos maiores compositores do século 20. Com o início da Segunda Guerra, Stravinsky mudou-se para os Estados Unidos. Lá, o músico teria sua carreira acompanhada pelo fotógrafo Arnold Newman.
Apaixonado por música, de Beethoven ao jazz de Nova Orleans, Newman exultou quando a revista Harper’s Bazaar encomendou um retrato de Stravinsky. Conhecido por sua técnica “ambiental”, em que o cenário em torno do objeto da foto indica algo sobre a personalidade ou profissão do retratado, Newman não hesitou. Decidiu fazer o clique na frente de um piano. O problema, porém, era a falta de dinheiro para enviar o instrumento até o apartamento do músico, na Costa Oeste.
Determinado, Newman começou uma busca pelo piano certo. Examinou vários, até encontrar um que tivesse o tampo de formato adequado. Sua intenção era cortar a foto, para o contorno do instrumento e a imagem do músico formarem um símbolo musical. Achou o que buscava na casa de um editor. Era “forte, linear e lindo, exatamente como a obra de Stravinsky”. A foto foi recusada pela revista, mas fez a fama de Newman. O retrato é quase uma pintura abstrata e remete diretamente à música do compositor russo. O fotógrafo clicaria ainda outros grandes artistas, como Piet Mondrian, Pablo Picasso e Marlene Dietrich.