Equipe de pesquisadores encontrou a primeira coleção de retratos de múmias em mais de 100 anos
Um grupo de pesquisadores encontrou recentemente uma série de retratos de múmias e artefatos raros no sítio arqueológico egípcio de Gerza, em Fayum. A vila agrícola de Gerza foi implementada pelo rei Ptolomeu II no século 3 a.C. e abrigou egipcios e gregos.
De acordo com informações da revista Galileu, os objetos foram localizados em um grande edifício funenário datado das eras ptolomaica e romana.
Encontrada em 2016, a tumba subterrânea foi construída com piso feito à base de argamassa de cal colorida e decorado com azulejos.
Na última escavação realizada no local, os arqueólogos encontram uma série de caixões de madeira decorados e ainda seis imensos túmulos de tijolos de barro. Os itens mais impressionantes, porém, são os retratos de múmias que foram encontrados junto aos caixões, já que, como mencionou a fonte, a última descoberta do tipo ocorreu há mais de cem anos.
Elas olham fixamente para você e parecem observar tudo com insistência. As pinturas egípcias conhecidas como Retratos de Fayum mostram pessoas comuns, provavelmente de classe média alta.
Elas pertencem ao fim do período ptolomaico e começo do domínio romano, que começara em 30 a.C. com a derrota de Cleópatra e Marco Antônio. A dinastia ptolomaica, grega, fora fundada por um general de Alexandre em 301 a.C. Cleópatra foi a última rainha ptolomaica.
Embora os egípcios antigos tivessem traços essencialmente negros, processos de miscigenação levaram todas as cores: os rostos podem ser como nos tempos dos faraós, mas também subsaarianos, gregos, romanos e muito mais.
Os primeiros retratos foram encontrados no século 19, na cidade de Fayum, a 130 quilômetros do Cairo. Mais tarde, foram descobertos também em localidades próximas, como Mênfis e Tebas.
Eles foram pintados entre os séculos 1 e 4 a.C. O estilo é tipicamente greco-romano, ainda que a tradição egípcia possa ser vista nos sarcófagos.
Os gregos intervieram muito na religião egípcia. Anúbis e Ísis ainda eram celebrados — e a última até foi adotada em Roma. Egípcios continuaram a fazer múmias até o século 4, e inclusive existem múmias cristãs.
As pinturas eram feitas em madeira ou peças de linho, usando cera, água e clara de ovo misturadas a pigmentos. Eram quase certamente feitos quando as pessoas ainda estavam vivas, com o objetivo de serem colocados sobre o sarcófago, para mostrar como era a aparência do morto. Isso emulava a maneira como os antigos faraós tinham suas faces esculpidas no sarcófago, mas de forma bem mais barata.
Há evidências de que as pinturas, antes de irem parar no túmulo, faziam parte da decoração da casa dos retratados. Coisas como irregularidades que impediam o encaixe perfeito nos sarcófagos e diferenças de idade entre a pessoa retratada e a mumificada.
Naturalistas, os retratos mostram as pessoas sempre de frente. Egípcios acreditavam que era preciso ajudar os deuses a identificá-los no pós-vida. Daí as faces nos sarcófagos e as pinturas e textos em tumbas, tradições que datavam de 2500 anos antes destes retratos.
Os Retratos de Fayum são considerados as obras mais preservadas da Antiguidade. Há cerca de 900 exemplares, expostos em museus de todo o mundo, como o Museu do Louvre, em Paris, o Museu Britânico, em Londres, e o Museu Metropolitano de Arte, em Nova York.