Após um extenso estudo, a análise da ineficiência militar da parte resultou em uma possível descoberta histórica
Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 08/08/2021, às 09h00 - Atualizado em 15/03/2022, às 11h15
Um dos maiores monumentos da história da humanidade chama atenção pelos mistérios que rodeiam sua origem, sentido e até alcance; supostamente criado para proteger o Império Chinês de invasões em massa, a Grande Muralha da China demorou séculos para ser concluída em seu tamanho impressionante.
Com mais de 21 mil quilômetros, sua edificação é hoje consolidada como um patrimônio histórico mundial e alvo de diversas pesquisas de historiadores e entusiastas da história chinesa. Entre eles, o arqueólogo Gideon Shelach-Lavi, que reuniu um grupo de pesquisadores para analisar um curioso trecho da edificação, conforme registrou o jornal britânico Express.
Os cientistas notaram que parte da muralha, conhecida como Linha do Norte e estimada em 740 quilômetros, não conseguiria segurar as tais invasões, conforme seu motivo de criação, devido à altura relativamente baixa em relação aos outros trechos e ao solo, podendo ser atingida com esforços coletivos. Com isso, iniciaram um estudo para entender o desnível.
Os exames não apenas avaliaram a engenharia da construção, mas também abusou da geografia para entender as sinuosidades das montanhas na região e possíveis civilizações antigas que estariam próximas do trecho coberto pela pesquisa.
Para isso, contaram com imagens de satélite de alta resolução, drones e amostras físicas de coletas arqueológicas.
Ao registrar os dados, o estudo teve continuidade na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel. Ao longo de dois anos de pesquisa, a tese de que a parte da construção era ineficiente para funções militares foi confirmada pela equipe, criando uma hipótese alternativa para o trecho específico.
Na publicação final, disponibilizada pela revista científica Antiquity, os cientistas indicaram que a Linha do Norte servia para controle social, prevendo a expansão e desenvolvimento local: "Nossa conclusão é de que se tratava mais de monitorar ou bloquear o movimento de pessoas e animais, talvez para taxá-las”.
A região foi de extrema importância para a compreensão do estudo; já edificada entre os séculos 11 e 13, bem depois do início no século 3 a.C., o trecho teria sido supervisionado pelas dinastias Jin ou Liao, com estruturas auxiliares que indicam a função. A escolha estratégica do terreno avaliou também clima, épocas e safra.
De acordo com Shelach-Lavi, havia grandes possibilidades de que grupos massivos de produtores buscassem pastagens mais quentes ao sul da construção durante os períodos de frio — e com o bloqueio da muralha, era possível evitar o deslocamento massivo, que causaria deficiência comercial na região ao norte da construção.
++Confira o estudo completo publicado na Antiquity clicando aqui.