Descobertas importantes no Canadá mudaram o ponto de vista dos pesquisadores, mas a reposta não é tão simples
Há anos que se discute se, antes das explorações ibéricas, algum outro povo já tinha pisado na América. Escandinavos, fenícios, polinésios, a muitas culturas se atribui esse pioneirismo, de maneira que o tema fica muitas vezes impregnado por conspirações e especulações. Porém, descobertas do século 20 podem revelar informações curiosas sobre o fato.
Relevância?
O historiador brasileiro Capistrano de Abreu dedicou, a partir de um vasto aporte teórico, uma reflexão à questão das primeiras comunidades a chegar ao Brasil e à América. Em seu livro O Descobrimento do Brasil, ele pensa nas hipóteses dos pioneiros antigos e, acima de tudo, na sua relevância. E a posição do pensador é importante: para ele, não basta pensarmos no dado único de se alguém já pisara no continente antes dos espanhóis, mas se faz necessário pensar na importância histórica e na influência social que o ato teve.
Em história, não bastam os fatos concretos: são necessários eventos intelectualmente interpretados para a compreensão de processos sociais. Para Capistrano, no século 19, a possibilidade dos fenícios ou os vikings chegaram na América antes dos portugueses era irrelevante: o que importa era quem realmente desenvolveu assentamentos, quem influenciou os fluxos políticos e culturais no continente, que já era ocupado. Por isso, além da chegada, faz-se necessário questionar a presença desses povos.
Uma descoberta inesperada
A existência de vikings na América era praticamente descreditada por toda a academia até os anos 1960, quando uma descoberta criou uma pulga na orelha dos historiadores: Helge Ingstal e Anne Stine, um casal de exploradores, navegava em Terra Nova, extremo norte do Canadá, quando descobriram que comunidades locais guardavam ruínas que poderiam provar a existência de escandinavos na América, vindos da Groenlândia. O local é o hoje conhecido sítio de L'Anse aux Meadows.
Se fossem provadas as hipóteses dos dois, essa seria uma prova de contato europeu na América 500 anos antes de Colombo — com uma amplitude muito menor e impacto minúsculo, claro. Com o início das escavações, foram sendo reveladas informações, mas a teoria geral era pouco creditada pelos pesquisadores, que viam a saga do navegador Leif Erikson como uma lenda.
Porém, o sítio revelou vestígios importantes da presença viking no Canadá. "Alguns dos artefatos encontrados eram claramente nórdicos, como um alfinete de bronze. Também encontraram muitas evidências de madeira esculpidas com ferramentas de ferro. Eles encontraram pinheiro europeu”, afirmou Loretta Decker, curadora do patrimônio dos parques canadenses à BBC.
Com isso, provava-se que a incursão de L'Anse aux Meadows se diferenciava da tradição material nativa da América do Norte, mudando a visão de muitos pesquisadores.
Era viking
A trajetória dos escandinavos que teriam chegado a América partiu de explorações já sucedidas na Groenlândia. Muitos mitos sobre travessias do Atlântico Norte já existiam na literatura épica do Norte da Europa. Nesse meio, relatos do auge das navegações citam Leif Erikson, um líder viking que teria guiado grupos navegantes rumo ao oeste em busca de recursos.
Segundo essa saga, Erikson saiu da ilha do norte e teria encontrado vastas pradarias e florestas com rios cheios de salmão e videiras com ricas uvas. Por conta do último elemento citado, chamou o local de Vinlândia. O local foi procurado por anos pelos arqueólogos, sem sucesso.
Essa terra desconhecida onde Erikson teria se fixado foi tratado como lendária por todo esse tempo, até que se especulou que é contundente afirmar que o sítio descoberto em 1960 era exatamente esse local. Isso significaria que os vikings não apenas tiveram contato com o atual Canadá, mas que de alguma maneira criaram lá um assentamento. Porém, essa fixação foi temporária e não influenciou tanto na geopolítica e na cultura local.
Significado geral
L'Anse aux Meadows foi a prova cabal de que houve contato europeu via Ártico séculos antes da chegada dos colonizadores ibéricos. Porém, isso não significava completamente que aquele local era realmente Vinlândia. Para Decker, é mais provável que a terra mítica fosse uma descoberta de explorações menos sedentárias ao sul do local. Porém, seja lá ou não, o sítio prova o primeiro contato europeu no continente americano.
Isso significaria que os vikings fizeram breves sagas pelo norte da América, o que até agora não se provou ter afetado de forma historicamente significativa o cenário local. Enfim, escavações novas indicaram o caráter contingencial do assentamento de L'Anse aux Meadows: os escandinavos não teriam permanecido lá por mais de 20 anos. As ruínas teriam sido deixadas lá, mas desocupadas rapidamente, dando uma impressão de fixação muito maior do que a realidade.
De qualquer forma, a chegada à América aqui discutida se trata de uma especulação a partir do recorte europeu. Afinal, a descoberta humana da América foi muito anterior, sendo de pelo menos 11 mil anos atrás, e o continente já estava plenamente ocupado seja no século 11 ou no século 16.
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