Sequência do clássico de Ridley Scott, lançado nos anos 2000, Gladiador 2 chama atenção com uma nova história de vingança no Império Romano
O aguardado lançamento de "Gladiador 2" está marcado para a próxima quinta-feira, 14. Este filme, sequência do aclamado sucesso de Ridley Scott lançado em 2000, resgata a grandiosidade da história eletrizante.
O desenvolvimento do filme gira em torno de Lucius, filho de Lucilla e sobrinho de Commodus. Agora adulto, Lucius enfrenta desafios políticos e pessoais enquanto tenta navegar pelas intrigas do poder romano.
A trama aborda sua luta por justiça e honra, seguindo os passos heroicos de Maximus Decimus Meridius, interpretado por Russell Crowe no filme original. O roteiro promete explorar as consequências dos eventos passados e como eles moldam o futuro do império.
O site Aventuras na História já assistiu ao novo filme de Ridley Scott e antecipa em quais momentos o longa-metragem pode ser considerado fato ou ficção. Os próximos parágrafos apresentam spoilers do longa-metragem.
Mais de 20 anos após a estreia de 'Gladiador', a sequência repete com maestria a história de vingança protagonizada pelo general Maximus. Agora, quem quer acertar as contas com o Império Romano é Lucius, interpretado por Paul Mescal.
Anos após ter sido enviado pela mãe, Lucilla, para Numídia, o personagem vê a vida virar do avesso quando a região é invadida pelo império Romano. Além de perder a esposa, o protagonista é levado como escravo.
Assim como no primeiro filme, a história é pura ficção. Na vida real, existiu, de fato, um Lucius Verus, filho de Lucilla com o imperador Lucius Aurelius Verus. Ele, no entanto, morreu jovem e sequer protagonizou uma vingança, como vemos no filme de Ridley Scott.
A narrativa dos irmãos Caracala e Geta, interpretados por Fred Hechinger e Joseph Quinn, respectivamente, oferece um fascinante vislumbre de uma era tumultuada do Império Romano. Eles governaram juntos, no entanto, a convivência fora marcada por intensas rivalidades.
As tensões entre eles eram tão intensas que, após a morte de seu pai, Septímio Severo, os irmãos raramente se encontravam sem a mediação de sua mãe, Júlia Domna.
As animosidades entre Caracala e Geta foram tão severas que chegaram ao ponto de dividir o palácio imperial para evitar confrontos diretos. Como registrado por Edward Gibbon em "A História do Declínio e Queda do Império Romano", essa divisão interna gerou inevitáveis conflitos.
Contudo, as hostilidades persistiram até dezembro de 211 d.C., quando Caracala solicitou a presença da mãe para intermediar uma reconciliação. Nesse fatídico encontro, Geta foi morto.
Quando Lucius retorna à Roma ao lado de outros gladiadores, o filme mostra mulheres tietando os guerreiros, o que sugere que eles faziam sucesso no Império Romano. Além disso, o personagem de Paul Mescal leva multidões à loucura no Coliseu.
Os combatentes, de fato, chamavam atenção Em entrevista à redação, o historiador Rodrigo Rainha explica que os gladiadores eram considerados figuras ambivalentes, “tanto marginais quanto ícones de virilidade e força”.
“Eles eram ícones de virilidade. Muitas vezes você tinha ideia de vários relatos de figuras importantes, mulheres, homens romanos, que iam para poder ter a possibilidade do sexo com aquele sujeito, com a ideia da grande virilidade que, pela força, pela violência, pelos músculos, aquilo representaria”.
Uma das cenas mais eletrizantes de 'Gladiador 2' mostra o Coliseu repleto de água, com embarcações. Em determinado momento, alguns dos guerreiros até mesmo são devorados por tubarões.
De fato, existiram espetáculos com água no antigo Coliseu, ainda que diferente do que o filme retrata. No entanto, tubarões não foram levados para o local. Durante entrevista ao Northeastern Global News, Estelle Paranque, professora associada de História da Northeastern University, em Londres, refletiu sobre a imprecisão histórica no filme.
"Obviamente não havia tubarões", disse ela. "Não havia como eles terem levado tubarões… Você não precisa de tubarões para tornar interessante uma história sobre gladiadores".
No filme, o personagem principal poderia ascender de sua condição de escravo a homem livre, mas será que isso realmente se concretizava na Roma Antiga? Maria Wyke, professora de Latim da University College London (UCL), especializada em representações da antiguidade clássica no cinema, explicou a GQ Internacional que, sim, há registros históricos de gladiadores que conquistaram a liberdade.
Contrariando a imagem frequentemente perpetuada pelos filmes, onde os gladiadores enfrentam um destino quase certo de morte nas arenas, Wyke esclarece que eles não eram mortos com tanta frequência.
No filme, o gladiador tenta disparar uma besta no local no qual se encontrava o general Marcus Acacius, próximo aos imperadores. Isso levanta a questão sobre a segurança na época: seria ela tão negligente? De acordo com Maria Wyke, tal situação jamais teria ocorrido.
Em primeiro lugar, o imperador estaria posicionado nas áreas mais elevadas da arena, provavelmente fora do alcance eficaz de uma besta disparada do chão. Além disso, a relação entre os líderes políticos da época e os gladiadores difere do que foi retratado no filme.
Os gladiadores, em geral, não se envolviam em questões políticas. As decisões sobre o destino do Império Romano não eram influenciadas pelos combates nos anfiteatros. Naquele tempo, havia uma clara separação entre entretenimento e assuntos de Estado.
Os tubarões podem não ser verídicos, no entanto, Ridley Scott não falhou ao retratar um rinoceronte no Coliseu.
De acordo com Jerry Toner, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, o imperador romano Cômodo, que governou entre 180 e 192 d.C., tinha um notório interesse em participar de combates na arena, onde enfrentava animais selvagens e gladiadores.
Em sua obra "The Day Commodus Killed a Rhino: Understanding the Roman Games", Toner destaca que um dos maiores anseios de Cômodo era abater um rinoceronte utilizando arco e flecha.
Durante os Jogos Plebeus de 192, organizados pelo próprio imperador, Cômodo introduziu rinocerontes nas arenas, o que elevou o espetáculo a um novo patamar de grandiosidade, conforme analisa o jornal espanhol El País citando o autor. O professor sugere que devido à robustez do animal, o imperador teria disparado uma grande quantidade de flechas e lanças para conseguir matá-lo.