O primeiro trailer do filme "Gladiador 2" exibe um rinoceronte no Coliseu; saiba se essa era uma prática comum entre os romanos
Com o objetivo de demonstrar poder e controle sobre o mundo, os imperadores romanos exibiam obeliscos egípcios e animais exóticos, como elefantes, leões, tigres e rinocerontes durante os espetáculos no Coliseu.
No trailer oficial do filme "Gladiador 2", que estreia em 14 de novembro, um rinoceronte surge na arena, evocando as cenas de combate real com feras que eram comuns nos jogos romanos e simbolizavam a capacidade de Roma de dominar até mesmo as criaturas mais temidas.
"O dia em que Cômodo matou um rinoceronte" é o título do livro de Jerry Toner, publicado em 2014, no qual o professor de Cambridge desvenda elementos fundamentais para entender os jogos romanos.
De acordo com o portal El País, em uma sequência do trailer — que remete à famosa batalha do primeiro filme, em que Maximus lidera um grupo de gladiadores contra adversários muito mais poderosos — um rinoceronte colossal, montado por um guerreiro armado, entra na arena diante de prisioneiros apavorados.
"A presença de um rinoceronte era um símbolo claro da grandeza dos jogos", escreve Toner. Ele relata que Pompeu, o Grande, levou um rinoceronte para seus jogos em 55 a.C., e que o imperador Tito exibiu um desses animais nos espetáculos inaugurais do Coliseu, em 80 d.C. No início, o animal permaneceu imóvel, mas logo atacou um touro, lançando-o ao ar sob os aplausos impressionados da plateia.
Augusto também utilizou o rinoceronte nos jogos de 29 a.C., em homenagem a Júlio César. No entanto, o rinoceronte mais célebre dos jogos foi levado por Cômodo — que também é o vilão do primeiro Gladiador de Ridley Scott.
Com pele grossa e grande força, o rinoceronte era difícil de abater, o que realça o feito no contexto romano, onde flechas e lanças eram as principais ferramentas de combate.
A captura de tais mamíferos era tão desafiadora quanto seu transporte para Roma, feita sem tranquilizantes modernos. Em alguns casos, animais eram embebedados com vinho para facilitar o transporte. Esse processo era complexo e perigoso, refletindo o empenho e o treinamento dos soldados envolvidos.
Ver um rinoceronte naquela época causava forte impressão. Apesar de constantemente aparecerem em mosaicos, esses animais eram, para os romanos, quase míticos.
A pesquisadora María Engracia Muñoz-Santos, autora do estudo "Animais em Harena. Animais Exóticos em Jogos Romanos", afirma que, de acordo com Plínio, rinocerontes asiáticos eram frequentes nos jogos romanos, mas o animal mostrado em Gladiador 2 é africano, distinguindo-se pela presença de dois chifres.
Além do espetáculo, capturar e mostrar criaturas tão impressionantes como rinocerontes reforçava o poderio romano. Mary Beard, em seu livro "Imperador de Roma", explica que esses animais simbolizavam os limites do mundo natural que Roma conquistava.
Embora algumas personalidades, como o imperador Marco Aurélio e o filósofo Sêneca, criticassem a crueldade dos jogos, o fascínio por dominar esses animais permanecia como uma poderosa afirmação da grandeza de Roma.