O escritor considera que os podcasts representam a necessidade de mudança de ritmo da atual sociedade, mais focada na desaceleração
Em uma sociedade líquida, em alusão ao conceito criado pelo sociólogo judeu polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Modernidade Líquida, na qual define a sociedade atual como líquida, volátil e fluída, um produto vem fazendo contraponto: os podcasts.
Enquanto as redes sociais exemplificam a liquidez dos tempos atuais, com conteúdos rápidos e efêmeros, os podcasts vêm marcando oposição a isso, com programas que chegam a durar horas.
A observação é do escritor Marcos Bulhões, que entende que há uma necessidade de desacelerar. “Os podcasts estão dominando o Youtube, principalmente os de longa duração”, afirma.
O podcast em si nada mais é que o bom e velho rádio. Programas de entrevistas, de debates, radiodocumentários e grandes reportagens, formatos que existem há décadas.
O diferencial é o suporte tecnológico, que permite ao público poder degustar o material quando e onde quiser, sem depender da programação engessada das rádios. Sem contar a opção em vídeo, o que permite ver os participantes. Os conteúdos também se tornaram mais livres por não dependerem da grade horária.
Há atrações que duram até 4 horas. “Enquanto que a nova atualização do WhatsApp trouxe a chance de acelerar os áudios, que é mais uma forma de reduzir o tempo, os podcasts fazem o contrário. Eles se tornaram um fenômeno na internet e estão começando a dominar o cenário no Youtube. Com conversas de até quatro horas, influencers, atletas, e celebridades dividem muitas coisas particulares e importantes sobre elas e sobre a vida”, destaca Bulhões.
Ele já participou de mais de um podcast. Em uma das vezes, integrou a mesa do Pax Podcast e a conversa teve mais de 2h30 de duração. Bulhões recebeu uma mensagem de um seguidor que havia maratonado o seu conteúdo.
O formato vem sendo explorado pelas empresas de comunicação nos últimos anos. Tradicionais veículos impressos, de TV e rádio vêm apostando no formato. Autores independentes estão se lançando e inclusive tradicionais jornalistas e comunicadores têm migrado para o segmento, largando inclusive carreiras consolidadas na imprensa tradicional.
De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Kantar Ibope, em 2020, os ouvintes estão em crescimento. O estudo mostrou que, em 2019, 13% da população se declarava ouvinte de podcasts, um total de 21 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais. Já em 2020 o percentual subiu para 17% da população, 28 milhões de pessoas.
Aos 27 anos, é considerado um fenômeno na literatura brasileira contemporânea. Começou a escrever em seus perfis nas redes sociais em 2017, até que viralizou. De lá para cá lançou três livros: "Elucubrações", "5 Passos Para Esquecer Você" e "Ao Ex Amor", sendo o primeiro lançado em 2017.
Estudou Psicologia, mas interrompeu o curso faltando pouco mais de um ano para se formar para se dedicar às suas obras, conhecimentos utilizados em suas análises. Marcos gosta de abordar assuntos existenciais, como amor, relacionamentos e morte.
Só no Instagram, reúne 1,5 milhão de seguidores. Criou diversas frases que viralizaram dentro e fora das redes sociais, como “Às vezes tem de doer como nunca para não doer nunca mais” e “Perca o amor da sua vida, mas não perca sua vida por um amor”. Para Bulhões, em suas próprias palavras, o sentido de sua vida é dar sentido à vida de alguém.