Com menos de um ano de idade, pequeno Albert passou por experimento para mostrar o que John B. Watson chamou de fobia instalada por condicionamento
Publicado em 23/04/2023, às 14h00 - Atualizado em 09/06/2023, às 16h42
"Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e um mundo propriamente especificado por mim para criá-las, e eu garanto que posso pegar qualquer uma aleatoriamente e treiná-la para se tornar qualquer tipo de especialista que eu selecionar – médico, advogado, artista, gerente e, sim, até mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos, gostos, tendências, habilidades, vocações e raça de seus ancestrais. Estou indo além dos meus fatos e admito, mas os advogados do contrário também fazem isso e o têm feito por muitos milhares de anos."
A frase inserida acima foi dita pelo psicólogo americano John B. Watson no ano de 1930. Membro da Universidade Johns Hopkins e fundador do behaviorismo (também chamado de comportamentismo), Watson queria mostrar que o ambiente na formação humana era mais importante que seus próprios genes.
Um ponto importante e fundamental para contradizer as políticas eugenistas que surgiram ao longo da história. Apesar da importância de seu estudo, John B. Watson ficou marcado por um episódio curioso.
+ A Terceira Onda: O experimento real que expôs a facilidade das pessoas se tornarem nazistas
No ano de 1919, ao lado da estudante de pós-graduação Rosalie Rayner, que no futuro se tornaria sua esposa, o psicólogo realizou um teste perturbador com uma cobaia humana: um bebê com pouco menos de um ano de idade. Conheça o duro experimento do pequeno Albert!
No início do século 20, o cientista russo Ivan Pavlov realizou um simples experimento com cães: sempre que os animais eram alimentados, um sino soava. Com o passar do tempo, os cachorros passaram a associar o som com a alimentação; o que os faziam salivar só de escutar o barulho — o que Pavlov chamou de reflexos condicionados.
Watson e Rayner queriam ir além, demonstrando como tais mecanismos também funcionam em humanos. Assim, escolheram uma cobaia emocionalmente estável: um bebê com menos de um ano; a quem poderiam condicionar fobias.
Embora seja chamado de pequeno Albert, como aponta matéria da Superinteressante, a criança jamais teve sua identidade revelada — o que até hoje causa discussões na comunidade científica.
De volta ao experimento, o pequeno Albert precisou passar por uma bateria de testes preliminares, que consistiam em ele ser exposto, pela primeira vez e de forma muito rápida, a um rato, um coelho branco, um macaco, um cachorro, algodão, jornal pegando fogo, máscaras e alguns outros estímulos.
O próximo estágio foi colocá-lo em um colchão em cima de uma mesa, alocada no meio de uma sala. Então, um rato-branco foi solto para interagir com o pequeno Albert — que, obviamente, não demonstrou nenhum sinal de medo. Apenas queria brincar e interagir com o animal.
O processo foi feito diversas vezes antes da parte mais dura acontecer. Após algumas sessões, no entanto, os pesquisadores decidiram que sempre que o pequeno Albert tocasse no rato, um martelo bateria numa barra de aço que estava suspensa, colocada bem às costas do bebê.
O barulho ensurdecedor assustava a cobaia, que chorava instintivamente por uma reação típica do medo. Como se não bastasse o trauma da primeira vez, o experimento foi repetido por diversas rodadas.
Após um tempo, o último passo começou. Nele, o pequeno Albert e o rato voltariam a se encontrar, mas, desta vez, o barulho não seria produzido de nenhuma forma. O bebê, porém, só de se aproximar do rato já entrava em um estado choroso, demonstrando incômodo e apreensão.
O medo do barulho logo foi associado ao rato — embora o animal nada o fez. Mas não foi só isso, o trauma passou para diversos outros objetos: como um cão peludo e até uma máscara de papai Noel.
O pequeno Albert, segundo John B. Watson, teria sofrido com uma chamada fobia instalada por condicionamento; generalizando seu medo para coisas similares ao rato, mas não todas elas.
O mesmo experimento foi refeito com o pequeno Albert, mas sem a mesma eficácia quando os pesquisadores tentaram atrelar o medo do som aterrorizante com um coelho e um cachorro.
Apesar disso, Watson considerou seu progresso um sucesso, que confirmaria seu método behaviorista. Atualmente, porém, muito se debate sobre se os resultados são conclusivos ou não.
Além disso, e talvez um dos principais pontos da discussão, é que como a identidade do pequeno Albert nunca foi revelada, jamais se soube quais sequelas o experimento deixou naquele bebê e como aquilo moldou seus medos e traumas futuramente.