O filme de Jordan Peele contém uma série de 'easter eggs' que contribuíram para torná-lo uma das mais importantes obras cinematográficas dos últimos tempos
Isabela Barreiros | @isagbarreiros Publicado em 12/12/2021, às 09h00 - Atualizado em 01/05/2022, às 09h00
Na última semana, “Corra!” foi eleito como o melhor roteiro do século 21, ficando em primeiro lugar na lista do Sindicato dos Roteiristas da América (Writer’s Guild of America, WGA, na sigla em inglês).
O filme de Jordan Peele foi o mais votado entre os membros do Sindicato para os “101 melhores roteiros do século XXI (até agora)”, que celebra escritores e roteiros dos últimos 21 anos que impactaram o seu tempo. “Parasita” e “Juno” também estão na lista.
Com Daniel Kaluuya no papel principal, a obra de terror e suspense venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original na cerimônia de 2018 e vem se provando como uma das mais importantes produções do atual século.
Pensando nisso, a redação do site Aventuras na História separou 5 detalhes sobre o longa-metragem pensados por Peele que você provavelmente não percebeu, mas que tornam o filme ainda mais impressionante.
Se você ainda não assistiu “Corra!”, atenção, pois a matéria contém spoilers!
O filme de Jordan Peele gira em torno de um jovem negro que vai visitar os pais de sua namorada branca, mas a situação acaba se transformando em algo bem diferente do que ele próprio e os espectadores esperavam.
No começo do longa-metragem, já somos mostrados ao casal se arrumando para a visita. Chris então diz brincando para a namorada, Rose, que não pretende ser perseguido por uma espingarda no quintal da casa dos pais dela.
Mas a verdade é que no final é exatamente isso que acaba acontecendo com ele, transformando a fala do começo do longa-metragem em um comentário bastante irônico para quem acompanha a saga de Chris.
Para chegarem à casa dos pais de Rose, os dois fazem uma viagem de carro e, durante o trajeto, acabam atropelando um cervo. Mas nem isso aconteceu ao acaso e o animal é visto momentos mais tarde na obra cinematográfica.
A referência ao animal acontece novamente na cena em que Chris tenta fugir enquanto está amarrado e mata o pai da namorada com os chifres de um cervo que estava exposto em um dos cômodos da casa como um troféu de caça.
Ainda ligado ao acidente do cervo, uma cena importante aconteceu quando um policial chegou ao local em que eles estavam e pediu a identidade de Chris. Rose pareceu ficar indignada com a atitude do oficial.
Quem assistia o filme em primeiro momento, pensou que ela estava defendendo o namorado, um jovem negro que faz parte de um grupo que muitas vezes sofre com ações policiais, ligadas ao preconceito com a população negra dos Estados Unidos.
No entanto, mais tarde, é possível perceber que Rose apenas não queria que as autoridades tivessem conhecimento de que Chris estava passando por aquela região naquele momento, porque tinha planos bem diferentes para ele.
Já no clímax do filme, Chris está quase sendo hipnotizado pela mãe de Rose, Missy. Para não ser levado totalmente, ele começa a agarrar uma poltrona de couro que está no local e, depois de conseguir perfurar o móvel, tira um pouco do algodão do seu interior.
Depois, ele coloca o algodão nos ouvidos e, assim, consegue se safar da hipnose. O momento, entretanto, faz referência à história dos afro-americanos que foram escravizados no sul do país em plantações de algodão.
O próprio Jordan Peele falou sobre o “easter egg” de “Corra!” durante uma entrevista ao Yahoo em 2017. Ele não pensou que as pessoas fossem entender o significado por trás da cena do algodão.
“Lembro-me de dizer a um dos produtores, falando sobre a escolha de tirar o algodão da cadeira, e a relevância temática disso. Ele estava tipo, 'Isso é tão legal. Ninguém nunca vai conseguir isso’. E eu acreditei totalmente nisso”, contou.
Essa pode ter sido uma referência pequena, mas foi bastante interessante. No filme de Jordan Peele, é possível escutar o número de um dos voos de um aeroporto enquanto Chris fala com seu melhor amigo pelo telefone.
O anúncio é feito em segundo plano para o “Voo 237” e faz referência ao quarto mais assombrado do romance de horror “O Iluminado” de Stephen King, de 1977. O próprio diretor chegou a confirmar a relação em um vídeo da Vanity Fair.
“Isso mesmo, isso é o que chamamos de pequeno ‘easter egg’ para os fãs de [Stanley] Kubrick [que dirigiu o filme homônimo de 1980], realmente fácil de fazer”, explicou Peele.