Príncipe Consorte do Brasil deixou diário que muda ideias imprecisas sobre sua figura pessoal e política
Enquanto vivo, Gastão de Orléans (1842-1922), o Conde d’Eu, não teve uma reputação muito boa, e não mudou após sua morte. Marido da Princesa Isabel e Príncipe Consorte do Brasil, Gastão era visto como liberal pelo gabinete conservador de dom Pedro II, e os abolicionistas tinham restrições contra ele por ser católico e estrangeiro.
Nascido na França, o Conde sempre procurou ficar acima dos partidos para não protagonizar problemas em debates políticos. Esse foi o motivo que o fez cair no esquecimento e, após a sua morte, ficar com uma imagem de um conde, que seria impotente e incapaz de manter a coroa.
Além disso, durante os últimos meses da Guerra do Paraguai (1864-1870), Gastão também sofreu campanhas de difamação quando era marechal de campo das tropas da Tríplice Aliança. Afirmavam que ele havia ordenado para que degolassem chefes militares paraguaios e que os soldados executassem mulheres e crianças, nos últimos momentos de conflitos organizados por Solano López, presidente do Paraguai deposto.
Com a publicação do livro “Diário do Conde d’Eu — comandante em chefe das tropas brasileiras em operação na República do Paraguai”, em 2017, organizado e traduzido pelo historiador Rodrigo Goyena Soares, algumas ideias imprecisas sobre o Príncipe Consorte do Brasil puderam ser alteradas. Segundo Rodrigo, sua personalidade é mais complexa do que a normalmente retratada, e que seus diários revelam um homem inteligente, sensível e com tino político.
“Ele se preocupava com a organização do exército e as condições da população paraguaia rendida. Os episódios de que ele foi acusado ocorreram a sua revelia. Ele se indignava com as atitudes bárbaras dos militares. E teve um papel relevante na política, pois favoreceu a abolição da escravatura e a politização do exército na volta da Guerra do Paraguai. Foi nesse momento que os militares entraram na luta política e se associaram à nascente classe média — uma união que persiste até hoje.”, diz o historiador em entrevista a ISTOÉ.
Sonhando em instaurar um Terceiro Império ultraliberal com a coroação da Princesa Isabel, Gastão também defendia uma monarquia constitucional, o fim da escravidão e o desenvolvimento da economia.
Inclusive, influenciou a esposa em seus decretos liberais, como a Abolição da Escravatura, em 1888. Entretanto, nenhum de seus sonhos pôde se tornar realidade. O conde foi excluído de todos os partidos da época e expulso do Brasil pelos militares republicanos que um dia apoiou, junto com toda a família real.
+ Saiba mais sobre a Família Imperial através das obras abaixo:
Diário do Conde d'Eu: Comandante em chefe das tropas brasileiras em operação na República do Paraguai, Rodrigo Goyena Soares (2017)
Link - https://amzn.to/2DgHPAp
1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil, Laurentino Gomes (2013)
Link - https://amzn.to/2pD2Y4k
A Monarquia Constitucional dos Braganças, Rui Ramos (2018)
Link - https://amzn.to/2OD6yUu