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O mais longo dos dias: Entenda como aconteceu o Dia D

Em junho de 1944, mais de 170 mil homens que faziam parte das tropas Aliadas desembarcaram na Normandia, mudando os rumos da Segunda Guerra

Ricardo Lobato Publicado em 07/07/2024, às 09h00

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Comandos Royal Marine caminham pela Praia Sword, 6 de Junho de 1944 - Wikimedia Commons/Evans J L
Comandos Royal Marine caminham pela Praia Sword, 6 de Junho de 1944 - Wikimedia Commons/Evans J L

“Soldados, Marinheiros e Aviadores da Força Expedicionária Aliada! Vocês estão prestes a embarcar na Grande Cruzada, pela qual temos lutado durante muitos meses. Os olhos do mundo estão sobre vocês. A esperança e as orações das pessoas amantes da liberdade em todos os lugares marcham com vocês. Em companhia dos nossos bravos Aliados e irmãos de armas noutras Frentes, conseguireis a destruição da máquina de guerra alemã, a eliminação da tirania nazi sobre os povos oprimidos da Europa e a segurança para nós próprios num mundo livre.”

Com estas palavras, o general Dwight David Eisenhower — ou Ike, como as tropas o chamavam —, o Comandante Supremo dos Aliados na Europa, se dirigiu aos militares que esperavam ansiosos nos aeródromos e nos navios no sul da Inglaterra.

Após meses de preparação, Ike sabia que precisava de seus homens a postos, bem motivados, naquele 6 de junho de 1944 que entraria para a história como “o mais longo dos dias”, o Dia D.

De Dunquerque a Teerã

Em 4 de junho de 1940, pouco mais de quatro anos antes do Dia D, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill se dirigiu ao Parlamento para informar que a chamada Operação Dínamo, a evacuação das tropas britânicas e francesas via Dunquerque, na França, havia sido bem-sucedida.

Em um discurso meticulosamente preparado, Churchill buscava elevar o moral do povo e fazer um apelo (ainda que velado) para que os Estados Unidos entrassem na guerra ao lado da Inglaterra e da Commonwealth (Comunidade das Nações).

“Devemos ter muito cuidado para não atribuir a este salvamento as honras de uma vitória. As guerras não são vencidas por evacuações...”, diria, sabendo que, para vencer a Alemanha, em algum momento os Aliados teriam de voltar a lutar na França.

Essa opção foi posta à mesa em 1943, quando “os três grandes” – Churchill, Franklin Roosevelt e Josef Stalin, respectivamente os líderes de Reino Unido, EUA e União Soviética – se reuniram presencialmente pela primeira vez, em Teerã, no Irã, para decidir o futuro do conflito.

Com a invasão alemã à Rússia, em 22 de junho de 1941, e com o ataque japonês a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, soviéticos e norte-americanos haviam se juntado à luta. E agora, três anos depois do discurso que deu esperança à nação, era hora de tomar a dianteira, pois a sorte sorria para os Aliados.

Tropas americanas desembarcam na Normandia em 6 de junho de 1944 / Crédito: Wikimedia Commons/Robert F. Sargent

Além dos triunfos no Pacífico contra os japoneses, na Europa faziam progresso: os soviéticos vinham acumulando êxitos, como nas vitórias colossais em Stalingrado e Kursk, e os Aliados Ocidentais não apenas haviam expulsado os nazistas da África, como também invadido a Itália, fazendo com que ela mudasse de lado e declarasse guerra contra a Alemanha de Hitler.

Contudo, apesar de o fim da guerra já ser uma realidade plausível, ainda faltava um longo caminho até a vitória definitiva. Na Conferência de Teerã (28 de novembro a 1º de dezembro de 1943), a questão central de negociação era “como fazer a Alemanha capitular?”.

A conclusão era invadir e exigir uma rendição incondicional. Porém, seria necessário abrir uma segunda frente de batalha na Europa Ocidental para que o “peso nas costas” do Exército Vermelho fosse aliviado, fazendo com que a Alemanha tivesse que se desdobrar em múltiplos fronts.

Apesar dos progressos dos Aliados na Itália, os alemães haviam retardado o avanço com uma enorme e intrincada linha de fortificações. Era pouco provável que conseguissem chegar à Cordilheira dos Apeninos e invadir a Alemanha pelo sul. Então, não havia outra forma: para ganhar a guerra, seria necessário voltar à França. Ironicamente, dos “três grandes”, apenas o próprio Churchill estava vacilante quanto ao plano.

A hesitação britânica era compreensível. Além da ferida moral da evacuação de 1940 ainda estar aberta, Churchill e muitos dos generais ingleses guardavam certo trauma do horror da Primeira Guerra Mundial.

No conflito anterior, Churchill, enquanto Primeiro Lorde do Almirantado (o então departamento governamental responsável pela Marinha Real Britânica), além da questão moral, quase teve sua carreira política arruinada devido ao fracasso na Campanha de Galípoli, onde milhares de australianos e neozelandeses tiveram suas vidas ceifadas ao desembarcar sob o fogo de metralhadoras e artilharia turca.

Mas não havia outro jeito. Para conseguir finalmente derrotar a Alemanha e pôr fim à guerra, seria necessário atravessar o Canal da Mancha, transpor a Muralha do Atlântico – a complexa linha de fortificações costeiras alemã que se estendia da fronteira franco-espanhola até o Ártico norueguês – e invadir a Fortaleza Europa, nome dado pelos alemães aos territórios europeus que os exércitos nazistas ocupavam.

Operação Overlord

Em abril de 1943, antes mesmo da Conferência de Teerã, o general britânico Frederick Morgan foi apontado como Chefe do Estado Maior Conjunto dos Aliados (COSSAC, na sigla original em inglês), assumindo a missão de avaliar as possíveis condições para um eventual assalto direto dos Aliados à Fortaleza Europa. O codinome atribuído foi Operação Overlord, a invasão Aliada da Europa Ocidental.

Em sua preparação, Morgan teve acesso à documentação produzida pela inteligência e estrategistas até então e, em julho, apresentou um plano com três elementos principais. O primeiro seriam os números, já que, para dar certo, a operação deveria envolver volumes colossais tanto de pessoal quanto de material – isso, em parte, é explicado pelo fracasso britânico em Dieppe e as conclusões ali aprendidas.

O segundo é que seria necessário montar uma estratégia de dissimulação, algo que atraísse os alemães para longe do local escolhido para o desembarque. O segredo seria a chave do sucesso. Já o terceiro seria o bom tempo, afinal, para atravessar uma esquadra titânica pelas águas turbulentas do Canal da Mancha e desembarcá-la do outro lado, seria imperativo contar com um clima favorável. Do contrário, tudo seria em vão.

Em dezembro de 1943, dias após a Conferência de Teerã, os preparativos para a invasão da Fortaleza Europa foram acelerados e mudanças foram feitas no Alto-Comando Aliado. O general Eisenhower, dos EUA, foi nomeado Comandante Supremo dos Aliados e o general Bernard Montgomery, do Reino Unido, colocado no comando do 21º Grupo de Exército Britânico — a ponta da lança do que viria a ser o desembarque na Muralha do Atlântico. Isso foi significativo para que o local dos desembarques fosse definido.

Na visão de Ike e Montgomery, a cidade de Calais, proposta por Morgan no plano original, era óbvia demais para os alemães. Foi então que decidiram pelas praias da Normandia, cujo ataque aconteceria, a princípio, em 31 de maio de 1944: a data marcada para o tão esperado Dia D.

Reunião do Quartel-General Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas (SHAEF), em de Fevereiro de 1944. À frente: Marechal do ar Arthur Tedder; General Dwight D. Eisenhower; General Bernard Montgomery. Fila de trás: Tenente-General Omar Bradley; Almirante Bertram Ramsay; Marechal do ar Trafford Leigh-Mallory; Tenente-General Walter Bedell Smith. / Crédito Wikimedia Commons/Imperial War Museums

A raposa à espreita

Quando Ike e Montgomery tomaram a dianteira da ação, não lhes era alheio o fato de que, do outro lado do Canal, seu antagonista era justamente o marechal de campo alemão Erwin Rommel, o famoso “Raposa do Deserto”, apelido dado pelos ingleses devido às estratégias inovadoras e ardilosas na Campanha Norte-Africana — o próprio Montgomery, aliás, havia enfrentado Rommel naquela ocasião e sabia do que era capaz.

Nomeado Inspetor Geral das Defesas Ocidentais alemãs no início de novembro de 1943 e, ao chegar à França, o alemão constatou que a Muralha do Atlântico era difícil de transpor, porém, não impenetrável.

Enquanto os planejadores na Inglaterra apontavam o que precisavam fazer para invadir a linha de fortificações, Rommel relatava aos superiores o que faria se estivesse do lado da força invasora. A conclusão era praticamente a mesma dos Aliados: uma tropa bem-preparada, com números nunca antes vistos e contando com o bom tempo.

Apesar de algumas unidades de elite, como as Divisões Panzer (Blindada), estarem lotadas na Normandia, a maior parte dos efetivos que o Reich dispunha em sua porção da França era de militares da reserva (já com certa idade) e de legiões alistadas entre os povos ocupados do vasto Império alemão. As melhores unidades, devido aos avanços soviéticos no leste estavam justamente no front russo — algo que Rommel sabia ser um obstáculo para a defesa.

Logo, o marechal tratou de começar o reforço à proteção costeira alemã, mas havia um problema, talvez até maior que os Aliados: a falta de consenso do lado germânico sobre como as tropas deveriam ser empregadas no terreno.

O superior de Rommel na França, o marechal Gerd von Rundstedt — baseado no que as tropas do Eixo já haviam testemunhado no norte da África e na Itália —, acreditava ser inútil uma defesa direta nas praias. Para ele, as tropas alemãs deviam ser concentradas mais ao interior, perto de Paris, para deixar os Aliados desembarcarem e lutarem contra eles em terreno mais defensável.

Como se não bastasse a visão “clássica” de von Rundstedt — conservadora demais para alguém como Rommel –, o próprio Hitler, enquanto Führer do Reich, podia jurar que o desembarque seria em Calais, não levando a sério a fala de Rommel e deixando claro seu desejo de que as forças alemãs fossem levadas para próximo da fronteira belga.

Meses de intensas discussões se seguiram entre os alemães e, apenas em abril de 1944, Hitler tomou a decisão definitiva – que se mostraria fatal para os nazistas e essencial para o sucesso dos Aliados. Em vez de concentrar as forças Panzer perto das praias na Normandia, como desejava Rommel, Hitler as espalhou pelo território francês, deixando apenas uma Divisão próxima o suficiente para ser efetiva em um contra-ataque.

Outra ficou perto de Paris, de modo a satisfazer von Rundstedt, e outras quatro na reserva, entre Normandia e Calais. A “sutileza” da decisão é que estas últimas só poderiam ser acionadas com uma ordem pessoal do ditador, algo infeliz para os alemães – como veremos mais adiante.

Ardis, engenhocas e resistentes

“Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”. A frase do filósofo romano Sêneca era uma das favoritas do general Eisenhower – chegando ao ponto de muitos pensarem ele próprio ser o autor. Fato é que o Dia D deu certo não por uma questão do acaso: os Aliados se prepararam meses a fio para a investida e exploraram todos os cenários possíveis.

A decisão fatídica de Hitler, de espalhar as tropas alemãs e manter algumas sob seu controle direto, foi fruto dos ardis da Operação Fortitude. Talvez o maior deles fosse o fato de os Aliados terem levado o próprio Hitler a crer que, na verdade, haveria, sim, uma invasão na Normandia, mas apenas para distrair a atenção do assalto principal que, para o nazista, seria em Calais. Foi isso que levou Führer a dispersar suas Divisões pela França. No entanto, esta seria só uma parte do plano.

Para obter a magnitude da força amealhada na libertação do país europeu, no fim de 1943, apenas dos EUA, já havia mais de 790 mil militares na Inglaterra contra 260 mil no mesmo período do ano anterior. Somados aos ingleses da Commonwealth e demais Aliados, o efetivo no Reino Unido chegava a mais de 2 milhões de combatentes pouco antes do Dia D.

Para contornar as defesas costeiras e desembarcar blindados com segurança nas praias, os ingleses (cientes dos erros cometidos em Dieppe), nomearam o excêntrico general Percy Hobart para desenhar “máquinas que nos façam chegar lá”, como disse Montgomery.

O experiente engenheiro e seu time criaram então diversos e “exóticos” veículos, que passaram a ser conhecidos como as “engenhocas de Hobart”. Um tanque com correntes giratórias na frente para explodir campos minados, outro com um canhão chamado “dragão”, que cuspia fogo no lugar de projéteis, e até blindados feitos para serem naufragados e servirem de “ponte” para outros blindados foram postos em ação.

Apesar da aparência e dos nomes engraçados, as “engenhocas de Hobart” provaram ser essenciais para o sucesso dos desembarques.

Comboio de desembarque atravessa o Canal da Mancha no dia D / Crédito: Wikimedia Commons/US National Archives

Havia ainda outro elemento, constantemente ignorado, e que não pode ficar de lado nesta reportagem: a contribuição francesa para o Dia D. Não fossem as ações de sabotagem dos diversos grupos da Resistência Francesa – mais conhecidos como FFI ou Forças Francesas do Interior –, que causaram o caos na retaguarda alemã, explodindo trilhos de trem, mudando placas de sinalização, levando os reforços alemães para cidades erradas e servindo de guias para as forças Aliadas, dificilmente os desembarques teriam dado certo.

Vale ressaltar que, além de combaterem os alemães, alguns franceses foram vítimas do fogo Aliado, pagando o custo da “libertação” de sua terra natal com o próprio sangue. Isso porque, nos bombardeios que precederam a invasão aeronaval, feitos “para limpar o terreno”, muitos civis perderam a vida.

Currahee!

De origem do povo nativo Cherokee, nos EUA, a palavra currahee (que significa “estamos sozinhos”) é o lema e o apelido do 506º Regimento de Infantaria Aerotransportada do Exército americano, que reúne os paraquedistas militares – fundamentais no Dia D. Por terem se formado na hoje desativada base militar Toccoa, no estado da Geórgia, onde se situa os Montes Currahee, a unidade passou a ser conhecida assim.

Na Segunda Guerra, os paraquedistas foram empregados de forma ampla tanto pelos alemães quanto pelos Aliados. E o conceito das operações aerotransportadas – saltar atrás das linhas inimigas para conquistar infraestrutura estratégica, causar caos na logística dos defensores e abrir caminho para a força de assalto principal – foi desenhado pela primeira vez em um conflito.

No início de maio, por causa das más condições meteorológicas – e também para conseguirem reunir mais tropas, o Alto-Comando Aliado adiou o Dia D para 5 de maio. Contudo, o mal tempo da véspera sobre o Canal postergou mais um dia. Pouco antes da meia noite, Eisenhower deu a palavra final no limite do clima meteorológico: os Aliados atacariam a França.

Era 00h48 do dia 6 de junho de 1944 quando os aviões com as unidades aerotransportadas decolaram, tendo os paraquedistas como a ponta da lança da maior operação naval, aérea e terrestre da História. Mais de 23 mil norte-americanos, ingleses, canadenses, poloneses e franceses saltaram sobre a França ocupada, iniciando oficialmente o Dia D.

Do lado norte-americano saltaram militares da 82ª e da 101ª Divisão Aerotransportada, da qual o 506º Regimento faz parte, enquanto os britânicos (com os poloneses e uma unidade de comandos franceses agregados) saltaram com a 6ª Divisão de Assalto Aerotransportada.

Apesar da eficiência das baterias antiaéreas alemãs, fazendo com que os paraquedistas Aliados fossem espalhados pela Normandia, isso não impediu que eles conquistassem boa parte dos objetivos.

Mesmo com uma quantidade significativa sendo abatida ainda no ar (uma clara violação da Convenção de Genebra pelos alemães, que atacaram tropas antes de chegarem ao chão) e outra tendo se afogado nos campos (alagados deliberadamente pelos nazistas), as unidades, uma vez no solo, se reagrupavam e começavam o combate.

Embora tivessem certa noção da invasão Aliada, as forças alemãs na Normandia ficaram atônitas com a escala do assalto aéreo. Ademais, como parte da Operação Fortitude, foi lançada a Operação Titanic, onde milhares de bonequinhos apelidados de “Rupert” – em homenagem a um popular personagem de quadrinhos, o Urso Rupert – foram lançados em diversas partes da costa francesa, levando alemães a acreditarem que a invasão se estenderia da Normandia a Calais.

Quando a 21ª Panzer, uma das reservas de Rommel, começou a esboçar alguma reação, tentando cercar a 6ª Divisão de Assalto Aerotransportada britânica, que estava no centro de sua zona de ação, ouviu a artilharia costeira disparar nas praias. Era o início do ataque naval.

Operação Netuno

Na mitologia romana, Netuno é o deus dos mares e, por isso, os Aliados nomearam de “Netuno” a operação de invasão das praias da Normandia. O desembarque se estenderia por uma faixa de areia de cerca de 100 quilômetros, em cinco praias divididas artificialmente pelos militares: Sword, Juno, Gold, Omaha e Utah.

Os ingleses ficariam com Sword e Gold, os canadenses com Juno e os norte-americanos com Utah e Omaha. Para se aproveitarem da confusão causada pelos paraquedistas e pela Resistência Francesa na retaguarda do inimigo, os desembarques teriam de ser quase simultâneos.

Assim, contando com a maré de cada praia, norte-americanos começaram o ataque às 6h30, seguidos por ingleses e canadenses às 7h25 (Gold), 7h30 (Sword) e 7h45 (Juno) – este último começou apenas às 7h55, por causa de alterações na correnteza.

“Os desembarques deveriam ocorrer logo após a maré baixa, com a maré começando a subir, as condições locais significavam que os norte-americanos teriam que desembarcar primeiro, reduzindo o tempo disponível para bombardeio. As primeiras tropas a desembarcar foram da 4ª Divisão de Infantaria dos EUA, em Utah, às 6h30”, descreve Richard Holmes em World War II: The Definitive Visual Guide (Segunda Guerra Mundial: O Guia Visual Definitivo, em tradução livre).

A praia era um ponto fraco das defesas alemãs e as tropas conseguiram se unir a alguns paraquedistas dos EUA. Em contraste, Omaha apresentava problemas reais, era dominada por penhascos e era a mais fortemente defendida nas praias”, conclui o autor.

Os combates em Omaha foram ferozes, pois, além de a artilharia dos navios Aliados ter feito pouco dano nas defesas costeiras alemãs, as escarpas e penhascos eram pontos ideais para os defensores.

Foi somente com a ação do 2º Batalhão Ranger, que conseguiu superar as falésias do rochedo de Pointe du Hoc e neutralizar as posições alemãs, que a praia foi tomada – num embate retratado no filme O Resgate do Soldado Ryan. Do lado alemão, o caos estava instalado. Apesar dos esforços, os germânicos se depararam com uma força que não podiam resistir. E, para completar, duas figuras centrais estavam faltando: Rommel e Hitler.

Alemães usando tanques franceses capturados na Normandia / Crédito: Wikimedia Commons/Bundesarchiv

Rommel, confiando na previsão do tempo que indicava um clima fechado por dias, aproveitava para passar o aniversário de sua esposa na Alemanha. O marechal, que costumava a dizer que “as primeiras 24 a 48 horas são as mais importantes dequalquer batalha”, não estava na linha de frente. Já Hitler estava em Berghof, sua casa-refúgio em Obersalzberg, nos Alpes Bávaros.

O ditador alemão estava dormindo e, mesmo com as seguidas notícias que chegavam de tropas e comandantes desesperados na linha de frente, seus guardas não ousavam acordá-lo. Foi só depois das 9 horas que o Führer despertou. Quando soube das notícias da Normandia, convencido de que aquela era uma distração para o assalto principal a Calais, não autorizou que as Unidades Panzer se movessem.

Com o passar do dia, o ditador alemão se deu conta do engano e, quando finalmente autorizou o uso das Divisões Panzer, já estavam longe do front para serem efetivas. No fim da tarde, depois de quase 12 horas de pesados combates, as cinco praias haviam sido conquistadas.

Apesar de não terem conseguido conectar toda a faixa de areia – resistências esparsas alemãs durariam até 12 de junho – os Aliados já haviam estabelecido uma cabeça de praia com sucesso. Prova de que os meses de preparação haviam compensado.

A impressionante força “nunca antes vista na história militar” havia tomado de assalto as praias da Normandia e tornado o Dia D “o mais longo dos dias”, nas palavras do próprio Rommel, um sucesso militar inequívoco. Ao final do dia 6 de junho, o total de baixas passava de 10 mil, com 4.414 mortes confirmadas, a maior parte na Praia de Omaha.

Apesar do número alto, estava abaixo do que esperavam os Comandantes Aliados. No planejamento de operações militares, em desembarques anfíbios (como é o caso da Normandia), é esperado que 80% da força invasora seja afetada. Os Aliados conseguiram furar a “Muralha do Atlântico” com menos de 6% de baixas. A missão foi um sucesso absoluto. Mas a Batalha da Normandia estava apenas começando.

A Batalha da Normandia

O Dia D foi só o início de uma longa campanha. Ainda houve pesados (e demorados) combates em Caen, um vilarejo essencial para lançar ataques diretos até Paris e a fronteira belga; em Cherbourg, um porto de águas profundas essencial para a logística do resto da operação; além de Falaise, uma batalha onde os Aliados cercaram e destruíram um exército alemão inteiro. A “guerra de escala” na Normandia causou um pesado impacto nos nazistas e na logística do Eixo.

Sem combustível ou peças sobressalentes, tínhamos de abandonar nossos blindados. Enquanto eles (os Aliados), além das oficinas móveis, tinham um (blindado) destruído e mais cinco o substituíam rapidamente”, escreveu um comandante de Panzer em seu diário.

Dois meses, três semanas e três dias: essa foi a duração da Batalha da Normandia. A Operação Overlord terminou em 30 de agosto de 1944. No dia 11 daquele mês, os Aliados haviam invadido o sul da França (na Operação Dragão) e no dia 25 haviam entrado triunfantes em Paris, libertando a Cidade Luz.

Apesar da esperança em tomar Berlim até o Natal ter sido frustrada depois da desastrosa Operação Market Garden – a invasão da Holanda ocupada – e pelo contra-ataque alemão na Batalha do Bulge, não fosse o Dia D, dificilmente a Alemanha teria capitulado em maio de 1945.

Somados aos avanços soviéticos, que não cederam à barbárie nazifascista, o Dia D possui um simbolismo especial na História não apenas da Segunda Guerra Mundial, mas das guerras como um todo.

O episódio simboliza a disposição em lutar pelo que acredita e, contra todas as chances ou mesmo diante do maior perigo, triunfar. Oitenta anos depois, num mundo que parece ignorar as lições da História, manter a memória de 6 de junho de 1944 viva é mais do que preservar o passado: é garantir o futuro.