A jovem chinesa Zheng Yi Sao se tornou a pirata mais temida da história no século 19
Éric Moreira Publicado em 07/08/2022, às 12h00
A história dos piratas é extremamente vasta e complexa, visto que o costume não é exclusivo de apenas uma região do globo, mas sim pode ser visto no passado de diversas nações e regiões de fácil contato marítimo. O tema é tão rico, que é até mesmo tratado em diversas obras ficcionais que detêm legiões de fãs, como os filmes da saga 'Os Piratas do Caribe' ou na animação japonesa 'One Piece'.
Logo, alguns grandes nomes do tema são conhecidos pelas pessoas, mas nem todos sabem se são sequer pessoas reais, ou quais suas histórias. Logo, mesmo entre pessoas conhecidas como o aventureiro Barba-Negra ou o turco Khireddín Barbarossa (também conhecido como Barba-Ruiva), a pessoa que se tornou a pirata mais temível na história foi uma mulher chinesa.
Shih Yang foi uma mulher chinesa e ex-prostituta. No início do século 19, era a pirata mais temível que a história já tinha visto e até mesmo ganhou a alcunha, na época, de 'rainha dos piratas', sendo extremamente influente no Mar do Sul da China. Ela nasceu no ano de 1775 na região costeira de Guangdong, durante um período de grande agitação social e desigualdade econômica.
Como a região era facilmente explorada por moradores locais, estes que enfrentavam extrema pobreza, o envolvimento com contrabando de mercadorias se tornou inevitável para muitas famílias, na época. Isso, por si só, já consistia em uma forma de pirataria, mas servia apenas como complementação de renda, no caso.
Shih Yang, por sua vez, já no fim do século 18 e começo do século 19, ganhava a vida como prostituta — em um bordel flutuante, comum nas regiões costeiras chinesas da época —, de forma a atender diversos clientes, até mesmo alguns ricos e influentes mercadores. Dessa forma, se aproveitava para arrancar segredos dos homens que atendia, e logo vendia essas informações, de forma a conquistar dinheiro e influência na região.
Com o tempo, ainda em 1801, Shih Yang acabou se casando com um famoso pirata da região, chamado de Zheng Yi. Com a união, ela passou a ser conhecida como Zheng Yi Sao — que significaria 'esposa de Zheng' —, e assim teria o início de sua carreira extremamente lucrativa.
Zheng Yi Sao e seu marido com o tempo passaram a ter controle sobre todos os navios de contrabando da região, e logo criaram uma confederação de piratas, com uma frota total de cerca de 400 juncos — tipo de embarcação chinesa — e 70 mil homens a seu serviço. Além disso, o casal também contratou um aprendiz, o jovem Zhang Bao Zai, que depois foi adotado como filho deles, como informado pela BBC.
Em 1807, Zheng Yi morreu após ter caído no mar durante uma forte tempestade, o que fez com que Zheng Yi Sao passasse a assumir controle total sobre a frota de piratas de Guangdong. Assim, para tentar preservar sua influência local, ela buscou garantir o apoio de líderes de gangues locais que serviam a seu marido, e designou seu filho adotivo como líder do antigo esquadrão de Zheng Yi — a Frota da Bandeira Vermelha.
Logo, visando assegurar ainda mais a lealdade de suas tropas, se casou com o jovem Zhang Bao Zai e, então, criou uma série de normas para que pudesse manter a ordem em sua enorme 'gangue' de piratas. As normas eram rígidas e intimidadoras, de forma que de fato as medidas foram funcionais e, então, ela tinha em suas mãos uma frota marítima poderosíssima.
Com isso, Zheng Yi Sao passou a dedicar sua atenção ao lucrativo comércio de sal da região de Guangdong e, com sua enorme frota, ela obteve grande sucesso — ao ponto de que, de um total de 270 navios de sal do governo, apenas 4 não estavam sob seu controle.
Posteriormente, ainda, ela teve a engenhosa ideia de criar uma espécie de sistema de passaportes: comerciantes de sal lhe pagavam uma taxa para que os piratas de Zheng Yi Sao não os atacassem; e caso algum o fizesse, deveria pagar uma indenização alta. Além disso, sua frota ainda era intimidadora, armados com grandes arcabuzes — arma de fogo de dois metros e meio de comprimento — e longas varas com pontas de facões.
No ano de 1809, o poder e influêcia de Zheng Yi Sao, tanto em questão de tropas armadas quanto economicamente, era tão altos que o próprio governo chinês pediu ajuda das forças navais da Grã-Bretanha e Portugal — maiores potências marítimas da época — para controlar a questão dos piratas. Assim, após diversos conflitos nas águas, eventualmente as frotas da 'rainha dos piratas' foram vencidas — mas não dizimadas.
Então, em 1810, Zheng Yi Sao e seu grupo de piratas restantes chegaram a um acordo com as autoridades da dinastia Qing — a última dinastia da história da China, que durou de 1644 a 1912 —, em que suspenderiam completamente suas atividades caso o governo lhes fornecesse uma pensão generosa.
O trato foi aceito, e não se sabe muito mais o que a pirata fez depois disso — exceto que, depois da morte de Zhang Bao Zai em 1822, ela retornou para Guangdong para criar seu filho, que teve com ele.
Sabe-se ainda que a mulher viveu até seus 69 anos, tendo uma vida luxuosa até seus últimos momentos. Dessa forma, até hoje ela não só pode ser considerada como a pirata mais influente e poderosa da história, mas também a mais bem sucedida.
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