Novo filme com Fernanda Montenegro, 'Vitória' gira em torno da verdadeira história de uma idosa que ajudou a desmantelar o tráfico em Copacabana
Publicado em 09/03/2025, às 14h00
Na próxima quinta-feira, 13, chega aos cinemas brasileiros o filme nacional 'Vitória', que gira em torno de uma história real. O longa é dirigido por Andrucha Waddington, e conta com Fernanda Montenegro como a protagonista.
No filme, acompanhamos dona Vitória, "uma senhora solitária que, aflita com a violência que passa a tomar conta da sua vizinhança, começa a filmar da janela de seu apartamento. A idosa registra a movimentação de traficantes de drogas da região durante meses, com a intenção de cooperar com o trabalho da polícia", segundo a sinopse.
Antes de assistir ao filme, conheça mais sobre a história real e o que aconteceu com a verdadeira idosa que inspirou o filme:
Conforme repercutiu o g1, a mulher por trás da história de 'Vitória' se chama Joana Zeferino da Paz. Sua história foi revelada em 2005 — sob condição de que seu nome seria mantido em anonimato — pelo jornalista Fabio Gusmão (interpretado no filme por Alan Rocha), do jornal Extra.
Alagoana, ela morava há 36 anos num apartamento na Praça Vereador Rocha Leão, cujos fundos dava direto para a Ladeira dos Tabajaras, na favela de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Pela janela, ela podia ver claramente a movimentação de traficantes pela boca de fumo local.
Era ainda início dos anos 2000 quando a idosa entrou com uma ação contra o estado, devido à desvalorização que seu imóvel sofria, muito por conta do tráfico na região. Porém, durante a ação judicial, um coronel da Polícia Militar disse que ela mentia sobre a existência do tráfico, alegando que a questão era combatida pelo batalhão.
Assim, Joana decidiu comprar uma câmera, para filmar as cenas que podia ver de sua janela diariamente, a fim de desmentir a alegação.
De fato, seus registros mostravam a movimentação de traficantes armados e vendendo drogas na área e, após serem entregues à Polícia Civil, as fitas levaram ao início de uma grande investigação.
No fim, mais de 20 pessoas — traficantes e policiais militares omissos e que recebiam propina do crime organizado — foram presas, e a mulher tornou-se uma "heroína misteriosa" da região.
Após o caso, reconhecendo que, ao colaborar com a polícia, a idosa agora estava em risco onde morava, ela foi mantida em anonimato forçado no programa de proteção a testemunhas, e deixou de viver no Rio de Janeiro.
Inclusive, por questões de segurança, para o filme foram feitas algumas alterações. Por exemplo, os personagens sofreram adaptações em nome, características físicas e naturalidade: enquanto Joana é uma mulher negra alagoana, em 'Vitória' ela é interpretada por uma mulher branca e descrita como mineira.
Ela só teve o nome divulgado pela mídia 17 anos após sua história ser contada pela primeira vez. Isso porque, no dia 23 de fevereiro de 2023, a idosafaleceu aos 97 anos em seu novo endereço, na Bahia.
Segundo o jornalista Fábio Gusmão, que manteve contato com ela nos 17 anos em que esteve vivendo em anonimato, ela viveu uma vida de "privações, angústia, desapego e resiliência". Além disso, ele contou na época que "seu desejo, há anos, era ter o reconhecimento público".
A história de Joana Zeferino da Paz poderá ser apreciada e honrada nos cinemas de todo o Brasil, a partir da próxima quinta-feira, 13, com o novo filme 'Vitória'.