Em 2003, uma pintura de Leonardo da Vinci foi roubada e se tornou um dos objetos de arte mais procurados do mundo; confira!
Publicado em 27/02/2025, às 21h00
Leonardo da Vinci é um nome que dispensa apresentações. Um dos maiores artistas de todos os tempos, ele é uma das figuras centrais do Renascimento, com emblemáticas como 'Dama com Arminho', 'Salvator Mundi', 'A Última Ceia', 'Mona Lisa' e 'Virgem do Fuso'.
Essa última obra mencionada, inclusive, foi centro de um grande alvoroço em 2003, depois que correu por jornais de todo o mundo a notícia de que havia sido roubada. E, aquele responsável por recuperá-la foi um homem chamado Robbie Graham, que, inclusive, foi preso em meio a toda a confusão.
Conforme repercutiu a BBC, tudo começou na manhã de 27 de agosto de 2003. Naquele dia, um carro VW Golf GTI passou pela zona rural do condado de Dumfriesshire, na Inglaterra, e parou em frente ao Castelo de Drumlanrig, casa oficial do Duque de Buccleuch, Walter Francis John Montagu-Douglas-Scott; em outras palavras, um dos homens mais ricos de toda a Grã-Bretanha.
Do carro, saíram dois homens, que rapidamente entraram no castelo, e abordaram a guia turística Alison Russell, que certamente conhecia o castelo e suas passagens.
Então, em apenas alguns minutos, encontraram um dos artefatos mais valiosos: a pintura 'Virgem do Fuso', de Leonardo da Vinci. Determinados, arrancaram a obra da parede com um machado, e fugiram. Na época, para se ter noção, a obra valia cerca de 40 milhões de libras (que, convertido para valores atuais e em real, seria cerca de R$ 250 milhões).
Não demorou para que a notícia corresse todo o mundo, e as buscas chamaram atenção. Mark Dalrymple, avaliador que trabalhava para a empresa de seguro do castelo, anunciou que quem fornecesse informações que levassem à recuperação do quadro receberia uma recompensa "substancial", além disso, uma grande operação policial ganhou vida.
No fim, mesmo que toda uma operação policial fosse montada, tornando o quadro em uma das obras de arte mais procuradas do mundo, os criminosos nunca foram encontrados, bem como a pintura. O destino da obra de da Vinci permaneceu um mistério nos quatro anos que se seguiram.
A esta altura, a obra acabou com um grupo que residia em Liverpool, que a adquiriu como garantia em um negócio imobiliário fracassado. Em troca da pintura, eles apenas queriam o dinheiro perdido anteriormente: 700 mil libras. E, foi assim que dois homens, identificados apenas como J e Frank, contataram o detetive Robbie Graham e seu sócio, Jackie Doyle, com uma proposta.
Robbie e Jackie tinham uma agência de detetive particular, a Stolen Stuff Reunited, que devolvia itens roubados aos seus proprietários. Assim, J e Frank queriam que eles "recuperassem" a obra, para que pudessem devolvê-la ao seu dono e reivindicar a recompensa. A proposta interessou ao detetive, que apenas concordou em cumprir a tarefa caso pudesse fazê-la legalmente.
Graham, então, contatou um advogado, Marshall Ronald, e fora aconselhado a procurar o avaliador Mark Dalrymple, aquele que mencionou inicialmente a recompensa, a fim de saber se a investigação poderia ocorrer.
No entanto, Marshall não entrou em contato diretamente com Mark Dalrymple, mas sim com uma terceira pessoa que seria representante do próprio duque de Buccleuch. Eles teriam acertado uma recompensa de 2 milhões de libras pelo quadro, que seria pago em uma conta caução — mantida por terceiros — que só seria acessível após a pintura ser devolvida.
Robbie conseguiu contatar o grupo que detinha a obra, que concordou em entregá-la em troca de 700 mil libras da recompensa. Em seguida, ele recolheria o quadro, e o levaria aos escritórios da HBJ Gately Wareing em Glasgow. Depois, reivindicaria o dinheiro da recompensa, para poder pagar os criminosos.
Porém, o duque mudou de ideia, e disse que nenhum dinheiro sairia de sua conta antes que a pintura de da Vinci fosse devidamente devolvida. A decisão incomodou os criminosos, que exigiam um pagamento adiantado.
De mãos atadas, Robbie e Marshall precisavam dar algum jeito de conseguir as 700 mil libras em dinheiro, em menos de uma semana. Diante da 'missão impossível', eles concordaram com um pagamento adiantado de "apenas" 500 mil libras — 250 mil em dinheiro, e o restante com um cheque de 150 mil.
Para a felicidade dos envolvidos no trâmite, Hale Village fica a apenas poucos quilômetros de Liverpool. Foi numa quarta-feira, 3 de outubro de 2007, que Robbie Graham parou seu carro no estacionamento do pub Childe of Hale, em Liverpool, com o dinheiro e o cheque, para encontrar-se com os criminosos.
Quem apareceu foi J, que apenas recolheu o dinheiro e desapareceu sem entregar o quadro. Ele só voltou quatro horas depois, carregando algo coberto por um cobertor branco — que, claro, levantou suspeitas imediatas, mas os detetives desembrulharam um canto e espiaram. "A Virgem está voltando para casa", disse Robbie à Marshall em ligação.
No dia seguinte, Robbie, Jackie e Marshall se encontraram no lado de fora dos escritórios da HBJ Gateley Wareing, esperando uma recepção calorosa após a recuperação da obra. Porém, quando chegaram, se depararam com outra realidade: a polícia de Glasgow cercava o local.
O trio caiu em um plano da polícia para recuperar a pintura e efetuar prisões; em outras palavras, uma vitória completa à corporação. Assim, os três homens acabaram presos.
"Este tinha sido o plano o tempo todo: pegar a pintura de volta e efetuar prisões. A recompensa não era real, apenas parte de uma operação policial", escreveu Olivia Graham, na BBC, em 2023.
Somente dois anos e meio após a prisão injusta, Marshall, Robbie, Jackie, Callum Jones e David Boyce foram julgados, acusados de envolverem-se em uma conspiração para extorquir. A defesa baseou-se simplesmente em provar que o grupo foi liderado pelos policiais.
Em abril de 2010, Callum e David foram inocentados, enquanto a acusação contra Robbie, Jackie e Marshall sequer foi comprovada em algum momento.
Vale mencionar que o duque de Buccleuch, da época do roubo, faleceu em setembro de 2007, apenas um mês antes de a pintura ser entregue aos escritórios dos advogados. No final, ninguém foi realmente preso pelo roubo da pintura, e nenhuma recompensa foi paga.
Ver essa foto no Instagram
Robbie Graham faleceu em dezembro de 2013, com 61 anos, e sobre seu caixão estava uma foto que ele amava muito, em que abraçava a 'Virgem do Fuso', após recuperá-la. Hoje, a obra está na Galeria Nacional da Escócia, em Edimburgo.