Depois de ser constantemente abusada sexualmente de seu chefe, a mulher se envolveu em uma confusão que acabou levando a sua morte
Em um contexto segregatório, a vida de um negro no estado da Georgia, nos Estados Unidos, não era nada fácil. Por mais que a escravidão já tivesse acabado no início do século 20, a vida era discriminatória, e histórias como a da empregada Lena Baker reverberam até hoje pelo racismo escancarado.
Nascida em 8 de junho de 1900, em uma família de ruralistas, Baker e seus irmão trabalhavam cortando e colhendo algodão em uma fazenda que era propriedade de um homem muito rico.
O estado da Georgia na época promovia uma política de repressão de direitos dos negros, especialmente ao voto em um período pós Guerra Civil Americana. Lena foi crescendo e a situação em sua volta somente piorava.
Assassinato
Por volta de seus 40 anos, Baker já era mãe de três crianças, e o trabalho no campo já não era suficiente para o sustento de todos. Por isso, passou a trabalhar como empregada doméstica para ricos patrões da área.
Em 1944, a mulher começou um novo serviço para Ernest Knight, um homem branco que precisava de alguém cuidando de sua casa depois que quebrou a perna. Dono de um moinho, Knight teria assediado sua empregada diversas vezes enquanto ela esteve lá.
Além desse tipo de abuso, o homem obrigava ela a permanecer diversos dias direto na casa, em um modelo análogo à escravidão.
Como se não bastasse, os filhos do abusador (tendo um deles agredido fisicamente a mulher) e vizinhos que conheciam Knight desaprovavam o fato deles passarem tanto tempo juntos — e de suas relações sexuais não consentidas —, achando que era Lena quem estava se aproveitando.
Com isso, Baker foi diversas vezes ameaçadas por essa população branca, exigindo que ela abrisse mão do trabalho — sem saber que isso não era permitido por seu patrão. Certa noite, uma discussão acalorada entre os dois se iniciou, e Knight ameaçou a mulher com uma barra de ferro.
Nesse momento, Lena saiu decidida a nunca mais voltar para a casa de seu patrão, mas ele impediu que ela saísse iniciando um confronto físico. Com uma pistola em mãos, Ernest forçava a mulher a ficar e, durante o esforço de ambos, a arma acabou disparando, atingindo fatalmente o homem.
Agoniada com a situação, Baker foi imediatamente contar às autoridades o que tinha acontecido, afirmando que havia agido em legítima defesa. Como é de se imaginar, o desenrolar da história não foi nada favorável à mulher.
Julgamento
Duas armas sob o púlpito onde fica o juiz, era assim que William Worril, conhecido como Two Gun, se apresentava em todas as sessões que presidia. Ele foi o juiz no caso de Baker, que teve início em 14 de agosto de 1944. Lena afirmava que as relações que tinham eram completamente abusivas, e que Knight sempre forçava o sexo.
Além disso, a história da fatídica noite do assassinato tinha sido aparentemente esclarecida pela mulher: depois de fugir da casa e passar uma noite dormindo na floresta, ao voltar seu patrão a trancou no moinho. Quando ele finalmente a libertou, Baker avisou que estava indo embora da casa, daí veio a discussão com a pistola no meio.
O júri — composto única e exclusivamente de homens brancos — rejeitou a defesa da mulher, e condenou a empregada doméstica por homicídio capital em apenas um dia de julgamento. Automaticamente, pela sentença apresentada, juntamente vinha uma pena de morte. O governador da Georgia, Ellis Arnall, até permitiu que a mulher tivesse 60 dias para recorrer a condenação, mas não conseguiu mudar a cabeça dos jurados.
Execução e perdão
Transferida para a Prisão Estadual da Georgia, Lena Baker foi eletrocutada em cadeira elétrica em 5 de março de 1945, e enterrada atrás da capela onde cantava em Mount Vermon. Por isso, se tornou a única mulher a ser morta por esse método em todo o estado.
Em 2003, o neto da mulher, Roosevelt Curry, entrou com um pedido de perdão do Estado pela morte de sua avó, que acabou sendo garantido somente em 2005. Foi garantido a Baker um perdão total e incondicional, os analistas sugeriram que a pena poderia ter sido, no mínimo, reduzida para 15 anos por conta de homicídio voluntário, e não pena de morte como aconteceu.
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