Tendo como base a história bíblica, obra de Bruegel apresenta relevantes significados
Tem gente por tudo que é lado. Pessoas em cortejo, operários trabalhando pesado, mercadorias chegando aos montes por navios e uma construção colossal que não para de subir. E também de cair. Tudo ao mesmo tempo.
Essa é a dinâmica da obra A Torre de Babel, feita em 1563 pelo artista Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), que recebeu esse nome para diferenciá-lo do seu filho, também pintor. Nessa época, o artista vivia em Antuérpia, na Bélgica, que, em pouco tempo, graças à descoberta dos caminhos marítimos para a Índia, passando pela África e Américas, se transformara em uma das cidades portuárias mais importantes da Europa.
Com isso, a região ficou conhecida por comercializar artigos de luxo e por ter uma mistura de culturas e de línguas diferentes, chamando a atenção de muitos novos-ricos para lá – um perfil que, tamanha futilidade, desagradava o pintor renascentista.
Não à toa, entre as mensagens da sua obra, estão o perigo da vaidade humana e o diálogo da arte com a Bíblia, representados pela decisão (e obsessão) do homem em construir uma torre tão grande e tão alta que ela alcançaria o céu e, portanto, chegaria em Deus.
É possível verificar, no entanto, que a torre nunca será finalizada e que todo esse trabalho será em vão. De um lado, ela parece completa e acabada, mas, do outro, está em plena destruição. Uma contradição que nos faz pensar sobre o verdadeiro valor da crença e dos esforços terrenos.
No canto inferior esquerdo da pintura de Bruegel, um pequeno cortejo de pessoas é liderado por um rei – provavelmente o responsável pela construção da grande torre na cidade portuária. Diante dele, os trabalhadores que entalham pedras se curvam ou se ajoelham aos seus pés.
À primeira vista (e na posição do rei ou do responsável pela construção), a torre pode até parecer sólida, mas, na realidade, é possível perceber que ela está levemente inclinada para o lado esquerdo, tornando-se uma ameaça à população que vive na cidade medieval situada logo atrás.
A representação da arquitetura da torre feita por Bruegel, com seus vários arcos e outros exemplos de engenharia romana, é uma retrospectiva do Coliseu de Roma, um lugar que cristãos consideram símbolo de arrogância e de perseguição. Pieter Bruegel visitou Roma entre 1552 e 1553.
Apesar de em um primeiro olhar a torre parecer uma série de pilares concêntricos, ao se examinar cuidadosamente, se vê que nenhuma camada é perfeitamente horizontal. Isso indica que ela foi construída como uma espiral ascendente e que a fundação não foi finalizada antes da sua construção.
Há muitas cenas na obra que justificam o alto nível técnico de construção para a época, como, por exemplo, o uso de guindastes, andaimes e ganchos erguendo as pedras. Alguns especialistas acreditam ser um alerta de Bruegel para os perigos do excesso da tecnologia de construção.
A Torre de Babel foi tema de três pinturas do artista. A primeira, uma miniatura pintada em marfim, feita em Roma, está perdida. A segunda, ilustrada acima, está no Museu de História da Arte, em Viena. E a outra, chamada Pequena Torre de Babel, está no Museu Boijmans Van Beuningen, em Roterdã.