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Matérias / Anne d'Alègre

Anne d'Alègre, a mulher que teve dentes fixados com fio de ouro no século 17

Análise dos dentes de Anne d'Alègre, aristocrata que viveu entre os séculos 16 e 17, revelou uma prática odontológica surpreendente

por Giovanna Gomes
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Publicado em 31/08/2024, às 09h00

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Dentes da aristocrata Anne d'Alègre foram analisados em estudo em 2023 - Divulgação/Journal of Archaeological Science: Rozenn Colleter, INRAP
Dentes da aristocrata Anne d'Alègre foram analisados em estudo em 2023 - Divulgação/Journal of Archaeological Science: Rozenn Colleter, INRAP

A descoberta dos restos mortais de Anne d'Alègre, uma aristocrata francesa que viveu entre 1565 e 1619, trouxe à luz uma prática odontológica surpreendente e inovadora para a época: o uso de fios de ouro para fixar dentes soltos. O estudo foi divulgado no ano passado. Relembre!

Anne, que ocupava uma posição de destaque na sociedade francesa do final do século 16 e início do 17, recorreu a essa técnica dolorosa para preservar seu sorriso, um elemento crucial de sua aparência e status social.

Os restos de Anne foram encontrados em 1988 durante escavações no Chateau de Laval, no noroeste da França. O corpo, embalsamado e enterrado em um caixão de chumbo, estava notavelmente bem preservado, incluindo seus dentes.

No momento da descoberta, os arqueólogos notaram algo peculiar: um dos dentes era falso, e outros estavam amarrados com fios finos, mas a extensão e a natureza desse tratamento odontológico não foram plenamente compreendidas até uma reanálise dos restos mortais, realizada em 2023, conforme o portal Live Science.

Nova análise

Rozenn Colleter, arqueóloga do Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva (INRAP) na França e autora principal do estudo sobre os dentes de Anne, utilizou uma varredura tridimensional por feixe de cone para revelar detalhes inéditos sobre a condição dental da aristocrata.

A análise mostrou que Anne sofria de uma forma grave de doença periodontal, o que fez com que muitos de seus dentes ficassem soltos. Para impedir que eles caíssem, fios de ouro foram cuidadosamente posicionados para mantê-los no lugar.

Raio X dos dentes do esqueleto / Crédito: Divulgação/Journal of Archaeological Science: Reports/Rozenn Colleter

Os fios de ouro eram frequentemente enrolados na base dos dentes, perto das gengivas, e em alguns casos, os dentes de Anne foram perfurados para permitir a passagem dos fios. Além disso, ela possuía um dente falso feito de marfim, esculpido a partir de uma presa de elefante.

Embora essa técnica possa parecer rudimentar hoje em dia, para a época, representava um avanço significativo na odontologia. Colleter destacou que esse tipo de tratamento não apenas causava dor, mas também exigia ajustes periódicos dos fios, o que provavelmente agravava a condição dos dentes adjacentes.

Motivação

A motivação de Anne para suportar um tratamento tão doloroso estava provavelmente enraizada nas expectativas sociais da época. Como uma mulher da alta sociedade, manter uma aparência impecável, incluindo um sorriso atraente, era essencial.

Anne, que ficou viúva duas vezes e enfrentou inúmeras adversidades, pode ter sentido uma pressão particular para preservar sua aparência, mesmo que isso significasse submeter-se a procedimentos dolorosos e potencialmente prejudiciais.

A aristocrata Anne d'Alègre em retrato / Crédito: Domínio público

Sua vida turbulenta, marcada pela participação nas Guerras Religiosas Francesas como huguenote, a perda de seu filho em batalha, e a necessidade de fugir das forças católicas, refletiu-se em sua saúde bucal deteriorada. Mesmo com sua posição social elevada, Anne d'Alègre não conseguiu escapar do estresse e das pressões que contribuíram para a condição dos seus dentes.

O estudo, publicado no Journal of Archaeological Science: Reports, recebeu elogios de especialistas, como Sharon DeWitte, antropóloga biológica da Universidade da Carolina do Sul. DeWitte destacou que a pesquisa oferece uma visão rica e detalhada das escolhas que as pessoas do passado fizeram entre saúde e expectativas sociais, aprofundando nossa compreensão das complexas relações entre bem-estar físico e contexto cultural em épocas anteriores.