Uma irmã polêmica de um mosteiro inglês desobedeceu completamente o celibato e teve de pagar caro por isso
Em 1150, uma inocente menina de quatro anos foi abandonada no mosteiro de Gilbertine em Watton, na Inglaterra. Lá ela cresceu, fez votos e tornou-se freira. Porém, conforme virava moça, ficou cada vez mais claro que a garota não tinha jeito para a vida no convento - sua beleza e conduta rebelde, que não correspondia com a de uma irmã religiosa, logo causou polêmica.
Tal história foi registrada em um manuscrito do século 12, entitulado De Sanctimoniali de Wattun, de autoria de Aelred, abade de Rievaulx. Segundo o relato, uma enorme reviravolta na vida da freira, cujo nome permanece desconhecido até hoje, começou quando um grupo de irmãos entrou nos confins fechados do espaço das freiras para fazer um trabalho de manutenção.
Paixão secreta
Durante aquela visita, a freira encontrou por acaso os olhos de um jovem irmão. "Eles se entreolharam carinhosamente…. A coisa foi feita primeiro por acenos de cabeça, mas os acenos foram seguidos por sinais", escreveu o abade de Rievaulx. "Eventualmente, o silêncio foi quebrado, e eles falavam da doçura do amor. Inflamaram-se um ao outro".
Um romance ilícito começou desde então entre a moça e o padre. A dupla se encontrava secretamente e manteve relações sexuais, rompendo completamente com o celibato. Como resultado, a freira de Watton engravidou.
Escândalo
Quando a gravidez trouxe à luz a paixão carnal entre os dois membros da Igreja, as irmãs responderam com horror e violência. A freira de Watton foi mantida presa no convento e passou dias terríveis durante a gravidez.
Permaneceu despida e acorrentada em uma pequena cela. Espancaram a mulher repetidamente, alimentando-lhe apenas com pão e água. O abade de Rievaulx descreve o local de cárcere da freira como sendo uma “câmara dentro de uma câmara”, já que a própria cela era localizada dentro do corpo do convento e cercada por paredes.
Em reclusão, o véu da moça foi retirado e, por sorte, algumas irmãs mais velhas impediram que ela fosse marcada com queimaduras ou esfolada. Segundo o relato histórico do abade de Rievaulx, por intervenção divina, a freira se arrependeu.
Milagrosamente e sem trabalho, ela deu à luz um bebê, que teria sido levado por duas figuras angelicais. Ao acordar sem a criança, a mulher não mostrou mais nenhum sinal biológico de gravidez: era como se a freira nunca tivesse estado grávida.
As irmãs, horrorizadas com aquilo, suspeitaram que ela pudesse ter agravado seus pecados ao assassinar seu filho recém-nascido. Então, a moça foi examinada: não havia mais leite nos seios, nem inchaço. Fora uma dádiva divina, elas pensaram.
"Passaram os dedos por todas as articulações, explorando tudo, mas não encontraram sinal de parto, nem indicação de gravidez... Todos encontraram a mesma coisa: tudo restaurado, tudo apropriado, tudo bonito", descreveu o escritor, que narrou a história para contar esse suposto milagre.
Tortura
Enquanto a mãe parecia ter sido redimida pelos céus, o padre que era pai do bebê, por outro lado, fugiu de Watton na esperança de retornar à vida secular em outra área. Mas não saiu impune. Ele seria detido pelos irmãos de sua ordem religiosa.
Ao ser capturado, puniram-lhe brutalmente de modo terrível: a freira a quem ele tinha engravidado foi obrigada a castrá-lo. Para isso, a moça recebeu uma faca para remover os órgãos genitais do homem. As partes íntimas do padre foram então coletadas por uma das irmãs, que as jogou na boca da jovem.
Após esse ato nada santo, o irmão condenado foi levado para a prisão. E logo após o terrível incidente no mosteiro de Gilbertine, em Watton, o papa Alexandre III investigou queixas realizadas sobre a proximidade de homens e mulheres em algumas casas daquela ordem religiosa.
Pelo menos cinco bispos escreveram a Alexandre para assegurar-lhe que homens e mulheres estavam agora estritamente segregados nas paróquias gilbertinas. As punições na época para crimes de adultério e fornicação eram sempre repletas de violência.
Relatos mais modernos sobre a freira criticam a brutalidade do incidente que ocorreu com a jovem. É o caso das descrições dos cronistas John Boswell e Sarah Salih. Uma tradução de 1989 também reforça a falta de cuidado comunitário dentro da pastoral religiosa. Há até mesmo lendas que dizem que o espírito atormentado da freira até hoje vaga pelo mosteiro em Watton. É de arrepiar.
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