Em 2013, ex-conselheiro de segurança nacional disse que Saddam Hussein foi 'valente' até o fim
Saddam Hussein foi um ex-presidente e ditador iraquiano responsável por incontáveis mortes, prisões e sanções, e teve seu período de comando no país de 1979 a 2003. No fim de 2006, porém, foi capturado e condenado à forca por crimes cometidos durante seu governo, como acusação da morte de 148 xiitas em Dujail no ano de 1982.
Muafak al-Rubaie, ex-conselheiro de segurança nacional do Iraque, chegou a presenciar o enforcamento do antigo presidente iraquiano no dia 30 de dezembro de 2006, e relatou como foi a situação e os últimos momentos do ditador em vida. Segundo ele, Saddam Hussein "tinha um aspecto normal e estava relaxado", como informado pelo g1 em 2013.
Não vi nenhum sinal de medo", continuou. "Claro que alguns gostariam que eu dissesse que desmaiou ou que estava drogado, mas esta é a verdade histórica. [...] Era um criminoso? Era. Um assassino? Certo. Um carniceiro? Certo. Mas foi forte até o fim [...] Não ouvi um pingo de arrependimento de sua parte, não o ouvi implorar misericórdia a Deus, ou pedir perdão."
Embora sua presidência tenha sido marcada principalmente por repressão brutal, guerras devastadoras e sanções internacionais, até hoje alguns iraquianos — em especial a parcela sunita da população — defendem o ex-presidente, principalmente por conta dos períodos de estabilidade que não puderam voltar a ver desde sua queda, com a invasão estadunidense em 2003.
Além das fronteiras do Iraque, por sua vez, Saddam também é admirado e respeitado por diversos outros árabes por ter travado guerra contra o Irã (1980 - 1988), enfrentado os Estados Unidos, atacado Israel e agir com dignidade diante da morte.
Muafak al-Rubaie ainda descreve que, após sua captura, Saddam Hussein "estava algemado e segurava um Alcorão".
Eu o levei à sala do juiz, que leu a lista dos crimes pelos quais era acusado enquanto Saddam repetia 'Morte aos Estados Unidos! Morte a Israel! (...) Morte ao mago persa!", lembra o ex-conselheiro, que ainda mencionou que o ditador foi arrastado para subir degraus de escada, pois seus pés estavam algemados.
No momento de sua morte, testemunhas insultavam Hussein com gritos de "Viva o imã Mohamed Baqr al-Sadr!" e "Moqtada! Moqtada!", em referência a opositor do governo morto sob sua presidência e a seu sobrinho, convertido depois de 2003 em chefe de milícia xiita. "Um homem se comporta assim?", contestou o ex-ditador, frente aos gritos.
Pouco antes de a alavanca entrar em ação, para que Hussein fosse enforcado, o homem começou a recitar o testamento da fé muçulmana. Rubaie conta ainda que, quando foi levantar a alavanca, ela não funcionou, então outra pessoa a ativou uma segunda vez, o que então provocou a morte do ex-presidente iraquiano.
Após o ocorrido, o corpo de Saddam Hussein foi colocado em um saco branco e posto em uma maca, segundo Rubaie. Então foi transportado em um helicóptero dos Estados Unidos até a residência do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, dentro de uma zona de segurança máxima em Bagdá.
Com a chegada do corpo, o primeiro-ministro Maliki segurou as mãos dos que acompanhavam o corpo e afirmou "Deus te abençoe", contou Rubaie. "Disse a ele: 'Venha, olhe para ele'. Então tirou o pano de seu rosto e viu Saddam Hussein", acrescentou.
Cometeu uma infinidade de crimes e merecia ser enforcado mil vezes, ressuscitar e ser enforcado novamente. Mas a sensação, esta sensação, é uma sensação estranha", repete Muafak al-Rubaie, que já tinha sido detido três vezes durante o regime de Hussein. "A sala estava repleta de morte", finalizou.