Em destaque na plataforma de streaming Netflix, O Trem Italiano da Felicidade se inspira numa comovente história pós-Segunda Guerra
O filme "O Trem Italiano da Felicidade", sob a direção de Cristina Comencini, tem se destacado no catálogo da plataforma de streaming Netflix, atraindo a atenção dos assinantes brasileiros.
A sinopse disponibilizada pela Netflix contextualiza: "Itália, 1946. Uma mãe envia o filho até o norte do país para viver com uma mulher rica".
Com uma narrativa comovente ambientada em um contexto histórico significativo que ainda provoca discussões e reflexões, surge a pergunta sobre as origens da obra "O Trem Italiano da Felicidade".
Com isso em mente, leia cinco coisas que você precisa saber antes de assistir ao novo filme da Netflix.
Baseada na obra homônima de Viola Ardone, a produção cinematográfica leva o público a um profundo mergulho na história de Amerigo Speranza, um jovem que vive em Nápoles, na Itália, e cuja vida é drasticamente alterada após o término da Segunda Guerra Mundial. Ele é enviado para viver no Norte do país.
O enredo faz parte de uma iniciativa que visava oferecer novas oportunidades às crianças das regiões mais afetadas do sul da Itália.
O personagem Amerigo é fictício, no entanto, reflete 1945 e 1952, quando crianças oriundas das áreas mais empobrecidas do sul da Itália foram enviadas ao norte em busca de melhores condições de vida.
Giovanni Rinaldi, autor do livro"I treni della felicità. Storie di bambini in viaggio tra due Italie" ("Os trens da felicidade. Histórias de crianças viajando entre duas Itálias"), , explicou em entrevista ao site Barinedita que, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias anfitriãs no norte, havia um esforço coletivo para acolher essas crianças.
"As famílias anfitriãs não eram ricas, ainda estamos falando do período pós-guerra e a pobreza em Itália era gritante por todo o lado. Contudo, onde duas crianças podiam ser alimentadas, quatro também podiam ser alimentadas, para que a família de origem pudesse sustentar as crianças mais novas e recuperar dos desastres da guerra", explicou Giovanni durante entrevista ao site Barinedita.
A proposta visava tirar as crianças de cenários marcados pela miséria e pela escassez alimentar no sul e oferecer-lhes oportunidades no norte, onde as condições eram mais favoráveis.
Rinaldi compartilhou relatos de crianças que vivenciaram essa experiência: "Há quem diga que comeu carne pela primeira vez no Norte. Muitos temiam a viagem, que poderia durar até 36 horas, com receios de se tornarem 'alimento para os comunistas'. Alguns irmãos se recusaram a se separar e acabaram sendo acolhidos juntos por uma mesma família. Essa é uma parte da história da Itália pós-guerra que quase esquecemos; contudo, graças aos testemunhos daqueles dias, podemos recontá-la hoje".
Conforme noticiado pelo Sportskeeda, aproximadamente 70 mil crianças passaram por esse processo durante os anos difíceis após a guerra. A ideia de ajudar essas famílias foi proposta pelo Partido Comunista Italiano em conjunto com a União das Mulheres Italianas (Unione Donne Italiane).
Rinaldi também mencionou que muitos dos pequenos entrevistados mantinham contato através de cartas com as famílias que os acolheram.
"A grande maioria voltou para casa. Muitos, porém, continuaram a manter relações com as famílias anfitriãs, através de cartas e depois de anos regressaram aos locais onde foram acolhidos. Após a publicação do livro, várias pessoas me procuraram em busca de ajuda: queriam encontrar as famílias que cuidavam deles e com quem haviam perdido contato", explicou o autor.