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Matérias / Peste Negra

Afinal, os ratos foram culpados pela Peste Negra? Entenda a polêmica!

Ao longo da História, difundiu-se que uma das pandemias mais mortais de toda a Europa, a Peste Negra, foi provocada pelo contato com ratos; entenda!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 11/12/2024, às 21h00

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Fotografia de rato e ilustração de um médico da Peste Negra - Foto por Karsten Paulick pelo Pixabay / Domínio Público via Wikimedia Commons
Fotografia de rato e ilustração de um médico da Peste Negra - Foto por Karsten Paulick pelo Pixabay / Domínio Público via Wikimedia Commons

Com previsão de estreia nos cinemas brasileiros somente para janeiro de 2025, 'Nosferatu' é certamente um dos filmes mais aguardados atualmente. Dirigido por Robert Eggers — responsável por 'A Bruxa' (2015) e 'O Farol' (2019) —, o longa-metragem é uma adaptação atual do clássico do terror mudo alemão de mesmo nome, que lançou em 1922 o assombroso primeiro vampiro da história do cinema, o Conde Orlok.

No clássico, acompanhamos o corretor de imóveis Hutter, que "precisa vender um castelo cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock que, na verdade, é um vampiro milenar que espalha o terror na região de Bremen, na Alemanha e se interessa por Ellen, a mulher de Hutter". Vale mencionar que a narrativa é uma adaptação do clássico 'Drácula', de Bram Stocker.

+ Conto perdido do criador de 'Drácula' será publicado após 134 anos;

Além da história em que o novo filme se inspira, também sabemos que conta com um elenco de notoriedade, incluindo Bill Skarsgård, Willem Dafoe, Emma Corrin, Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult.

Polêmica

Mesmo em meio a toda a expectativa pelo lançamento, na última semana uma notícia que chamou atenção internacionalmente foi que Robert Eggers foi duramente criticado pela organização não-governamental PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), que luta pelo direito dos animais. Isso porque o grupo não concordou com o uso de ratos em uma sequência da obra.

Acontece que, na cena em questão, é possível ver todos os roedores tomando a cidade de Londres, levando consigo a peste bubônica, que ficou imortalizada como "Peste Negra", uma das pandemias mais mortais da Europa e de toda a história humana, que matou cerca de 25 milhões de pessoas — mais de um terço da população europeia — entre 1347 e 1351. O que os ativistas defendiam é que a escolha difunde estereótipos que podem ser prejudiciais aos animais.

"Um humano não tem mais probabilidade de ser ferido ou morto por um rato na vida real do que por um vampiro, e falsas representações desses animais como arautos da morte negam aos espectadores a chance de vê-los como os seres inteligentes, sociais e afetuosos que são. Encorajamos todos a enxergar através desses estereótipos vergonhosos e dar aos ratos o respeito que eles merecem", declarou a diretora de Animais no Cinema e na Televisão da PETA, Lauren Thomasson, à Variety.

A organização também destacou uma série de características dos ratos, incluindo sua capacidade de criar laços familiares, brincar e até rir, além de ressaltar que eles são menos propensos a transmitir parasitas e vírus que cães e gatos, o que contraria um grande estigma sobre os roedores que se propaga desde os tempos da Peste Negra.

Mas afinal, os ratos possuem mesmo responsabilidade pela pandemia da peste bubônica, ou eles estão isentos dessa culpa? Entenda!

Fotografia de dois ratos / Crédito: Foto por Silvia pelo Pixabay

Novos dados

Segundo um estudo publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Science em 2018, embora os ratos tenham sido associados à propagação da peste bubônica na Europa do século 14, a verdade é que não foi bem assim.

Até recentemente, acreditava-se que os responsáveis por levar e transmitir a praga pela Europa foram os roedores e suas pulgas, mas, após a conclusão do estudo — desenvolvido por uma equipe das universidades de Oslo, na Noruega, e Ferrara, na Itália —, foi constatado que, na verdade, a doença poderia ser "largamente atribuída a pulgas e piolhos humanos".

"Temos bons dados da mortalidade pelos surtos em nove cidades da Europa", explicou Nils Stenseth, da Universidade de Oslo, à BBC naquele ano. "Então, fomos capazes de construir modelos da dinâmica da doença [naqueles cenários]".

Para o estudo, conforme repercutiu a BBC na época, Stenseth e seus colegas realizaram simulações de surtos da doença em cada uma das cidades observadas, levando em conta três possibilidades para a disseminação da praga: ratos, via aérea, ou por pulgas e piolhos entre seres humanos.

E, para a surpresa geral, em sete das nove cidades em questão, o "modelo do parasita humano" demonstrou ser a explicação mais provável para a propagação da doença. "A conclusão foi muito clara. O modelo dos piolhos se encaixa melhor. Seria improvável que (a doença) tivesse se espalhado tão rápido com a transmissão por ratos. Teria que ter passado por ciclos extras nos roedores, em vez de se espalhar de pessoa para pessoa", explicou Stenseth.

'A Peste em Ashdod', de Nicolas Poussin / Crédito: Getty Images

Por fim, vale mencionar que, ao contrário do que muitos pensam, a peste bubônica não é uma doença extinta, sendo endêmica em algumas áreas da Ásia, África e Américas.

Segundo a OMS, entre 2010 e 2015 foram registrados mais de 3 mil casos da doença em todo o mundo, incluindo 584 mortes — porém, hoje, é muito mais fácil tratar a doença com antibióticos, principalmente em caso de diagnóstico precoce.

Por isso, embora o estudo tenha principalmente um interesse histórico, ele ainda se faz relevante, pois, nas palavras de Stenseth, uma melhor compreensão destas doenças do passado pode colaborar com a redução da mortalidade em outras epidemias futuras.

Ainda assim, vale ressaltar que 'Nosferatu' é um filme de ficção e fantasia. Embora tenha uma 'carga histórica' não deve ser interpretado como uma produção documental.