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Matérias / Arqueologia

Taça de Licurgo: conheça o cálice romano intrigante que muda de cor

Com pelo menos 1.600 anos, a chamada Taça de Licurgo é um impressionante artefato romano pioneiro da nanotecnologia; entenda!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 10/12/2024, às 19h00 - Atualizado em 11/12/2024, às 21h33

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Fotografias da Taça de Licurgo em suas duas colorações diferentes - Foto por British Museum Collection via Wikimedia Commons
Fotografias da Taça de Licurgo em suas duas colorações diferentes - Foto por British Museum Collection via Wikimedia Commons

Embora muitas pessoas pensem que nanotecnologia seja uma expressão referente a criações relativamente recentes e tecnologias extremamente avançadas, por definição, na verdade, esse campo de estudo é relativamente simples: nada mais é que uma área da ciência dedicada à manipulação de matéria em escala atômica e molecular, com estruturas medindo entre 1 e 100 nanômetros (lembrando que um nanômetro equivale a um milímetro dividido por um milhão).

Entendendo que a manipulação de nanotecnologia consiste na manipulação de matéria em escala nanométrica, pode até não ser tão surpreendente que até mesmo os romanos conseguiram desenvolver criações nanotecnológicas. E, um exemplo notável disso é a curiosa Taça de Licurgo.

Conforme repercutido pelo Smithsonian, se trata de um cálice de vidro romano do século 4, provavelmente usado apenas em ocasiões especiais, a Taça de Licurgo recebe esse nome, pois, carrega em si a representação de uma cena mitológica que envolve o rei Licurgo da Trácia enredado em um emaranhado de videiras. De acordo com a lenda, ele se viu nessa situação depois de cometer atos malignos contra o deus grego do vinho, Dionísio.

Fotografias do interior e de uma das faces da Taça de Licurgo com coloração vermelha / Crédito: Foto por Chappsnet pelo Wikimedia Commons

Porém, a mitologia não é o que mais chama atenção, mas sim seu material, que parece verde-jade quando iluminado pela frente, e vermelho-sangue quando iluminado na parte de trás.

Esta propriedade impressionou os cientistas do Museu Britânico, que o adquiriu na década de 1950. E, o mistério por trás do material só foi desvendado em 1990, depois que pesquisadores da Inglaterra examinaram fragmentos quebrados do cálice sob um microscópio.

Nanotecnologia

Quando observaram o material mais de perto, os pesquisadores descobriram que os romanos, de certa forma, foram os pioneiros na nanotecnologia: o vidro que compunha a taça foi impregnado com partículas de prata e ouro, moídas ao tamanho de apenas 50 nanômetros de diâmetro, o que é menos de um milésimo do tamanho de um grão de sal de cozinha.

Essa mistura de metais no vidro sugere que os romanos sabiam o que estavam fazendo, embora talvez não compreendessem as nuances dos processos internos.

Segundo a Revista Smithsonian, quando atingidos pela luz, os elétrons das partículas de metal vibram de maneira que, a depender da posição do observador, alteram a cor.

Com isso, "os romanos sabiam como fazer e usar nanopartículas para belas artes", disse à revista o engenheiro Gang Logan Liu, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, que trabalha com o uso da nanotecnologia para diagnóstico de doenças.

Experimentos

Infelizmente, Liu não teve oportunidade de manusear o precioso artefato, no entanto, ele suspeitava ainda que, dependendo do fluido dentro do cálice, eles poderiam mudar a forma como os elétrons se comportavam e, como consequência, a cor do objeto (de forma semelhante aos testes de gravidez caseiros modernos).

Para testar a teoria, ele e sua equipe de pesquisa imprimiram pequenas placas de plástico do tamanho de selos postais, com inúmeros furinhos, onde pulverizaram nanopartículas de ouro e prata, criando assim uma matriz semelhante à da taça.

De fato, quando foi depositada água, óleo, soluções de açúcar e soluções de sal, foi fácil notar diferentes colorações — do verde-claro para a água, até o vermelho para o óleo, por exemplo. 

Taça de Licurgo com coloração esverdeada e avermelhada / Crédito: Foto por British Museum Collection via Wikimedia Commons / Licença Creative Commons

Por isso, demonstra-se que os romanos, de certa forma, produziam utensílios nanotecnológicos avançados que, hoje melhor compreendidos, podem auxiliar no surgimento de novos dispositivos para, por exemplo, detectar patógenos em amostras de saliva ou urina, ou mesmo frustrar tentativas de transportar líquidos perigosos em aviões.