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Matérias / Arqueologia

O possível bastão místico de 4 mil anos descoberto na Finlândia

Para arqueólogos envolvidos na pesquisa publicada ontem, 29, o pedaço de madeira esculpido para parecer com uma cobra pode ter sido usado por um xamã

Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 30/06/2021, às 13h48

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O bastão de madeira no local que foi encontrado (A) e durante o estudo (B) - Divulgação/Satu Koivisto/Antiquity
O bastão de madeira no local que foi encontrado (A) e durante o estudo (B) - Divulgação/Satu Koivisto/Antiquity

"Eu vi muitas coisas extraordinárias em meu trabalho como arqueólogo de pântanos, mas a descoberta desta estatueta me deixou totalmente sem palavras e me deu arrepios", afirmou o arqueólogo Satu Koivisto sobre uma descoberta que é assunto de uma pesquisa publicada na revista científica Antiquity ontem, 29. 

O que os pesquisadores descobriram na região de Järvensuo, próxima a um lago no sudoeste da Finlândia os impressionou. Trata-se de um pedaço de madeira que aparentemente fora esculpido para se parecer com uma cobra há pelo menos 4.400 anos. 

Koivisto, que é doutorando na Universidade de Turku, na Finlândia, juntou-se ao arqueólogo Antti Lahelma, da Universidade de Helsinque e co-autor do estudo, para desenvolver o artigo sobre o bastão.

A principal hipótese sugerida por eles é a de que o pedaço de madeira pode ter sido usado por um xamã para objetivos místicos.

“Cajado de cobra”

Detalhe da ponta do cajado / Crédito: Divulgação/Satu Koivisto/Antiquity

No artigo, os cientistas escreveram que a estatueta é “muito naturalista” e que se assemelha a “cobra (Natrix natrix) ou uma víbora europeia (Vipera berus) no ato de escorregar ou nadar para longe”. 

Com relação ao tamanho, o bastão tem 53 centímetros de comprimento e 2,5 cm de espessura, como relatou o portal Livescience, e foi esculpido em apenas um pedaço de madeira. Ela apresenta detalhes impressionantes, principalmente sua ponta, em que é possível observar a tentativa de talhar a boca de uma cobra.

Para Sonja Hukantaival, pesquisadora em Folclorística Nórdica da Universidade Åbo Akademi, que não está envolvida na pesquisa, a hipótese do bastão ter sido moldado para se parecer com uma víbora é mais correta “devido ao formato de sua cabeça, corpo curto e cauda distinguível". 

A cientista apontou ainda que é notável que o animal tenha sido representado pelos antigos habitantes da região. "Isso é interessante, já que a víbora tem um papel importante na religião e na magia popular [histórica] muito posterior”, explicou Hukantaival.

Um bastão mágico

Os pesquisadores no local da descoberta / Crédito: Divulgação/Satu Koivisto/Antiquity

"Como hipótese preliminar, parece razoável, entretanto, colocar o artefato na esfera religiosa", apontaram os pesquisadores no artigo. "As cobras são carregadas de significado simbólico tanto na cosmologia finno-úgrica quanto na cosmologia Sámi, e acreditava-se que os xamãs eram capazes de se transformar em cobras", explicaram.

As análises foram feitas a partir de registros históricos que debatem crenças pré-cristãs, mas o artefato foi desenvolvido há 4.400 anos, muito antes de os habitantes da região praticarem a escrita. Por isso, existe uma dificuldade maior em bater o martelo sobre tais crenças durante o período.

"Esta descoberta maravilhosa mostra que as pessoas no Neolítico tinham uma grande preocupação com o mundo subterrâneo do qual, hoje, quase não temos conhecimento", afirmou Vesa-Pekka Herva, chefe do departamento de arqueologia da Universidade de Oulu, na Finlândia, ao Livescience.

Além da hipótese principal de a descoberta ter sido um bastão usado por um xamã, os arqueólogos também acreditam que é possível que o pedaço de madeira tenha sido uma estatueta decorativa. Outros pesquisadores apontaram para a teoria de tal objeto ter sido uma oferenda.


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