A jovem faleceu no último domingo, 21, vítima das complicações de um incêndio em uma clínica estética de São Paulo
“Uma vida que custou 4 mil reais”. Essa foi uma das manifestações de revolta feita pelos internautas no Twitter, após a trágica morte de Lorena Muniz, mulher transexual que faleceu tragicamente no domingo, 21.
No dia 17 de fevereiro, a recifense foi até a clínica estética Saúde Aqui, no bairro da Liberdade, para realizar um implante de próteses de silicone nas mamas. Acontece que, no início da cirurgia, um curto circuito atingiu o ar-condicionado do estabelecimento e provocou um incêndio.
Lorena estava sob efeito de anestesia e, por isso, sequer viu ou reagiu ao princípio das chamas. Vendo o que acontecia, os funcionários da clínica Saúde Aqui abandonaram a mulher na sala de cirurgia e saíram para se proteger.
O marido, Washington Barbosa, declarou nas redes sociais que realizar esse procedimento era o maior sonho de Lorena e que ela viajou para São Paulo com uma amiga só para realizar esse desejo.
O companheiro soube do ocorrido somente dois dias depois, na sexta-feira, 19, quando viu um vídeo circulando nas redes sociais. Trata-se de uma filmagem que mostrava funcionários correndo para a rua, enquanto Lorena ficava sozinha na clínica.
A cena foi publicada na conta oficial do Instagram da vereadora Érika Hilton (PSOL-SP), e da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP). Os dois gabinetes prestaram apoio ao marido da vítima.
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Como repercutido pelo Universa UOL, as testemunhas que estavam com Lorena no dia da cirurgia disseram que ela só foi socorrida depois que os bombeiros chegaram. Com isso, a mulher acabou ficando inconsciente e sem oxigênio durante sete minutos.
"Sou casado há quase seis anos com uma mulher trans, que tinha o sonho de colocar silicone. Ela foi a São Paulo realizar a cirurgia com um médico bem famoso entre mulheres trans”, relatou Washington, em vídeo no Instagram.
“O ar condicionado pegou fogo, todos saíram correndo, ela ficou lá, sedada, inalando fumaça. Chegou a ficar sete minutos inconsciente, e isso gerou prejuízo na circulação do oxigênio no cérebro dela, e agora ela não está reagindo", continuou.
Logo após o acidente, Lorena fora internada no pronto-socorro do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e permaneceu em estado grave durante cinco dias. Sua morte cerebral foi confirmada neste domingo, 21.
Revolta
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) lamentou a morte de Lorena e ressaltou que o implante mamário é um sonho de muitas mulheres trans. "Infelizmente, Lorena é mais uma vítima da opressão de gênero, da pressão estética e do descaso do estado nos cuidados da saúde específica da população trans. E este não é um caso isolado", afirmou a instituição, em nota.
Fui tocada profundamente por tudo que aconteceu. Muitas meninas trans e travestis são vítimas de clínicas que realizam processos cirúrgicos que não garantem a segurança e qualidade dos procedimentos. É uma realidade no Brasil. Profissionais não habilitados, ambientes inadequados.
— Erica Malunguinho (@malunguinho) February 21, 2021
Segundo a instituição, a clínica Saúde Aqui — a que Lorena procurou para fazer o procedimento — é bastante procurada e é quase uma ‘referência’ para as mulheres trans brasileiras.
Ainda mais, a Antra disse que, no Sistema Único de Saúde (SUS), as filas são longas para esse tipo de cirurgia. E é exatamente por isso que as mulheres procuram clínicas privadas como a Saúde Aqui, que contam com um preço acessível.
O valor pago por Lorena para o procedimento foi de R$ 4 mil — que ela nem chegou a quitar. “A vida de Lorena valeu 4 mil reais, minha gente", disse o marido chorando, quando anunciou a morte da esposa.
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