A montanha se assemelha a um arco-íris em terra firme e possui detritos de mais de 65 milhões de anos
Isabelly de Lima, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 11/04/2023, às 18h13 - Atualizado em 30/10/2023, às 17h04
Uma das coisas mais fantásticas da natureza, com certeza, é o arco-íris. Uma fusão de cores que brilham com a combinação de água e luz. Como seria se pudéssemos tocá-lo? Apesar de ser um desejo de muitos, isso é impossível, já que não é algo sólido.
Entretanto, existe um lugar, a sudeste de Cusco, no Peru, que pode proporcionar aos visitantes a sensação de tocar um tipo diferente de arco-íris: em uma montanha colorida, que parece um reflexo sólido e tangível do que geralmente vemos no céu.
Localizada na Cordilheira do Vilcaota, a 5,2 mil metros acima do nível do mar, no distrito de Pitumarca, está a Montanha das Sete Cores, que é também conhecida como Vinicunca ou Arco-íris. Seus cumes e encostas são detalhadamente decorados por franjas em intensos tons de turquesa, roxo, dourado e fúcsia.
Durante entrevista para a BBC News, Haydee Pacheco, funcionária da secretaria de Turismo de Pitumarca, disse que o espetáculo que a montanha oferece atrai visitantes desde 2016. A mídia local informou que o número de turistas subiu, ainda que lá seja muito frio e alto. O número passou de algumas dezenas para cerca de 1 mil pessoas por dia.
O crescimento da popularidade da Montanha das Sete Cores foi resultado da força das redes sociais, ela inclusive foi incluída em rankings internacionais de atrações turísticas. Ainda que o turismo no local seja algo recente, a história da montanha colorida teve início há milhões de anos.
Segundo um relatório do Escritório de Paisagismo Cultural da Diretoria de Cultura de Cusco, as cores que enfeitam as encostas da montanha são resultado de "uma história geológica complexa, com sedimentos marinhos, lacustres e fluviais". Tais sedimentos são datados dos períodos Terciário e Quaternário, ou seja, de 65 milhões até 2 milhões de anos atrás, e foram transportados pela água, que antes cobria o lugar por completo.
Os sedimentos foram formando camadas ao longo do tempo, com grãos de diversos tamanhos, que formaram as franjas coloridas. Através do movimento das placas tectônicas da área, esses sedimentos foram elevados até que fossem transformados no que é hoje a montanha.
De acordo com a BBC Brasil, as camadas foram adquirindo as cores chamativas aos poucos. Elas são resultados da oxidação dos diferentes minerais e da erosão deles — graças à umidade da área, explicou o geólogo César Muñoz, membro da Sociedade Geológica do Peru (SGP).
Ele também explicou, com base em um estudo do Escritório de Paisagismo Cultural e em suas próprias pesquisas, a composição de cada camada segundo sua cor. Fúcsia ou rosa é a mescla entre areia, lama, e argila vermelha; o vermelho se dá a partir da junção de argilitos e argilas; o verde é resultado da mistura entre argilas ricas em minerais ferromagnesianos (mistura de ferro e magnésio) e óxido de cobre.
O roxo ou lavanda vem de silicatos e marga (mistura de argila e carbonato de cálcio); o castanho amarelado, mostarda ou dourado vêm a partir de limonites, arenitos calcários ricos em minerais sulfurosos (combinados com enxofre); e o branco é fruto da mescla entre calcário e arenito (areia de quartzo).
O pesquisador do Instituto de Ciências da Natureza da Pontificia Universidade Católica do Peru, Fabián Drenkhan, contou que tais misturas contêm também óxidos de ferro, que geralmente são de cor avermelhada.
Uma curiosidade sobre o local é que alguns artigos publicados pela mídia, tanto peruana quanto internacional, sugerem que Vinicunca foi descoberta porque mudanças climáticas teriam derretido a neve que a cobria. Mas alguns geólogos discordam de alguns detalhes.
Juan Carlos Gómez disse que a montanha estava coberta de gelo de modo parcial, e recebia neve até o início dos anos 1990, temporariamente. Ele faz parte do Instituto Geofísico do Peru (IGP).
Já Fabián, disse que não acredita que o cumetenha sido uma geleira nas últimas décadas: "Não tenho evidências do que exatamente aconteceu nessa montanha e teria muita cautela em afirmar (que a mudança climática deixou Vinicunca descoberta). Mas, sim, pode-se dizer que, nos arredores, houve um derretimento glacial bastante forte".
Pacheco ainda comenta a popularidade repentina da montanha, que recebe mais turistas, pois faz parte do caminho até Ausangate, um monte sagrado para os cusquenhos. Com o avanço do uso das redes sociais, ele afirma que mais pessoas agora buscam o local como destino final e não somente como passagem ou parada.
Montaña Winikunka/Montanha das 7 cores/Rainbow mountain enfim qualquer denominação que esse lugar tenha, sem dúvida é uma das paisagens mais lindas que esses olhos já viram #perupic.twitter.com/LMrKDun1KE
— Ruben Rigos (@RigosRuben) December 16, 2018