Durante a visitinha pelo Palácio de Buckingham, ele aproveitou para comer queijo cheddar, algumas bolachas e desfrutar de meia garrafa de vinho branco
É de manhã e o sol começa a adentrar seu quarto pela fresta da janela. Você se alonga um pouco e tenta abrir lentamente seus olhos enquanto esfrega os dedos neles. Tudo parece normal depois de uma primeira piscada, mas a partir da segunda você nota um grande borrão no final de sua cama.
Grande demais para ser um travesseiro ou uma pilha de cobertores, você esfrega os olhos mais algumas vezes para enxergar com mais nitidez. Finalmente você percebe que há uma pessoa sentada em sua cama.
Você logo imagina que deve ser algum membro de sua família, mas depois de mais algumas piscadas você dá de cara com um homem totalmente desconhecido. Essa insólita cena aconteceu no dia 9 de julho de 1982 com a rainha da Inglaterra.
Quando Elizabeth despertou, ela se deparou com Michael Fagan, um homem de 32 anos que havia escalado uma parede de quatro metros de altura do Palácio de Buckingham, passado por cima do arame farpado, subido por um cano de esgoto e que agora estava sangrando em seu quarto.
Antes de adentrar os aposentos da rainha, o ousado rapaz teria vagado pelo interior do palácio, onde teria acionado dois alarmes enquanto olhava para a inestimável coleção de selos do rei George V. Como a segurança presumiu que ninguém seria louco o suficiente para fazer tal insanidade, os sinais sonoros foram desligados, o que deu ao homem mais um tempo para vagar por aí.
Ao chegar no hall dos quartos, ele não se deparou com nenhuma segurança. Afinal, o guarda que ficava postado do lado de fora do quarto da rainha tinha saído de lá para a alteração de turno.
Embora tenha sido relatado que o invasor ficou sentado e conversou por pelo menos 10 minutos antes que a rainha pudesse pedir ajuda, o próprio Fagan diz que as coisas não aconteceram exatamente assim: “Não! Ela passou por mim e saiu correndo da sala, com seus pés descalços correndo pelo chão”.
Apesar da bizarra situação, esta não teria sido a primeira vez que Michael havia invadido o Palácio. Cerca de um mês antes, Fagan diz que deslizou por um cano de esgoto, surpreendendo uma empregada doméstica que alertou os seguranças.
Quando os guardas chegaram ao local, ele havia desaparecido, levando-os a acreditar que a empregada estava enganada. Michael afirma que entrou no palácio através de uma janela destrancada no telhado e passou a meia hora seguinte comendo queijo cheddar e bolachas, e andando por aí.
Alguns alarmes estavam com defeito e isso possibilitou que ele vagasse admirando os retratos reais e até descansasse por um tempo no trono. Ele tinha cogitado entrar na sala de espera onde Diana havia escondido presentes para seu filho, o príncipe William, que nascera no mês anterior. Mas após uma sessão de queijos e vinho — meia garrafa de vinho branco para ser mais preciso — ele se cansou e saiu.
Até hoje ele não sabe a razão de ter feito isso. “Algo entrou por minha cabeça”, chegou a declarar. Por se tratar de um erro civil e não um ato criminal, segundo as leis da época, Fagan não foi acusado de invadir o quarto da rainha. No entanto, ele acabou condenado por roubar meia garrafa de vinho.
Apesar disso tudo, Michael Fagan ainda contou com a hospitalidade da equipe de segurança de Elizabeth. Após ser enviado para o hospital psiquiátrico de Brixton e Park Lane, por acusações não relacionadas à invasão, o homem ainda recebeu uma de suas sandálias que ele havia perdido no telhado do Palácio.