Máfia da Dor, produção original da Netflix, evidencia horrores da indústria farmacêutica nos Estados Unidos; confira!
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 30/10/2023, às 17h44 - Atualizado em 28/12/2023, às 11h22
Nas últimas semanas, chegou ao catálogo da Netflix o filme 'Máfia da Dor' ('Pain Hustlers', no nome original). Com a presença de Chris Evans e Emily Blunt no elenco, e dirigido pelo britânico David Yates, o longa é um drama bem-humorado sobre o grande problema da indústria farmacêutica norte-americana.
"Liza, uma mulher que sonha com uma vida confortável para e si e para sua filha, começa a trabalhar para uma pequena startup farmacêutica na Flórida, nos Estados Unidos. Tanto ela quanto a empresa começam a crescer e Liza, enfim, entra para a alta sociedade", detalha a sinopse.
Hoje, sabe-se que uma das maiores causas de morte nos Estados Unidos é o fentanil — um opioide utilizado como medicação para a dor —, que desenvolve uma epidemia no país. Logo, não é de se estranhar que 'Máfia da Dor' seja inspirado em uma história real. Confira!
Segundo Aimée Lutkin, da revista Elle, a inspiração para 'Máfia da Dor' surgiu num artigo investigativo de Evan Hughes publicado em 2018 pelo New York Times Magazine. No texto, o jornalista aborda, especialmente, a empresa Insys, fundada pelo bilionário John Kapoor.
A Insys, no caso, foi responsável por produzir e promover o opioide Subsys. Com um sistema de spray, o produto foi vendido como se fosse premium — no filme, vale mencionar, a empresa se chama Zanna e o medicamento, Lonafin.
Produzido com fentanil, o analgésico apresentava uma ação rápida e deveria ser usado somente em pacientes com câncer e dor intensa. No entanto, a realidade era outra: grandes parte de quem recebeu a prescrição do medicamento não tinham câncer.
No projeto da Insys, Kapoor alcançou bastante sucesso graças ao que chamava de "programa de palestras" — que, em suma, servia para ele manipular médicos a prescreverem seu medicamento altamente viciante a pessoas vulneráveis. Muito semelhante também ao que vemos em 'Império da Dor', série lançada pela Netflix.
Como resultado, o empresário foi condenado a 66 meses de prisão em 2020, acusado de subornar médicos e de promover uma "conspiração de extorsão".
Eu usaria a palavra 'ultrajante' para descrever tanto a história quanto o filme — e você poderia dizer ultrajante nos dois sentidos da palavra. Há ultrajante em termos de selvagem, maior que a vida, caótico, engraçado, mas há o ultraje moral da história — tudo isso estava acontecendo e tudo isso estava sendo alcançado tendo como pano de fundo pacientes que estavam sendo feridos", conta Hughes à Time sobre o caso de Kapoor.
Após toda a repercussão, o artigo de Hughes resultou no livro 'The Hard Sell: Crime and Punishment at an Opioid Start-Up' ('A venda difícil: crime e punição em uma start-up de opioides', em tradução literal).
A história, então, chegou ao diretor David Yates, que desenvolveu uma narrativa ficcional inspirada no caso de John Kapoor e da Insys, uma dramática história de corrupção na indústria farmacêutica dos Estados Unidos.
'Máfia da Dor' tem como protagonista a personagem Liza Drake (interpretada por Emily Blunt), uma mãe solteira que está desempregada e desesperada para cuidar da filha, Phoebe (Chloe Coleman), que sofre com epilepsia e com um tumor cerebral. Inserida nesse contexto caótico, ela entra na Zanna, a empresa que manipula as pessoas, e rapidamente se vê sem controle sobre o que acontece.
Segundo o diretor David Yates à Time, Liza é apenas um exemplo comum de pessoa que colaborou com a Insys, compondo sua grande equipe: "Era formada por jovens que muitas vezes estavam perdidos e tinham fome de sucesso e muito disso está incorporado nela", explica. Ou seja, ela não é uma pessoa que existiu na realidade.
O excêntrico Jack Neel (Andy Garcia), grande nome por trás da Zanna e do Lonafin no filme, é facilmente uma versão ficcional de Kapoor. Por fim, Pete Brenner (Chris Evans), lembra Alec Burlakoff, um dos protagonistas do artigo de Hughes — no filme, Brenner conhece Liza em um clube de strip, onde ela está prestes a perder o emprego; já o artigo real menciona que a Insys contratou, em dado momento, uma "ex-dançarina exótica."
Por fim, em entrevista à Entertainment Weekly, David Yates afirma que o filme "não é a história detalhada da Insys". "É inspirado nisso: as periferias dessa indústria e como elas exploram um setor muito marginal da indústria da saúde e fazem fortuna com isso", completa.