Catadora de material reciclável, a mulher protagonizou uma história inspiradora, que impactou dezenas de vidas através dos anos
Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 10/05/2021, às 14h55 - Atualizado em 03/09/2021, às 10h00
Habitante da cidade de Jinhua, na China, Lou Xiaoying sempre ganhou a vida como catadora de material reciclável. Por isso, ela se acostumou com cenas que evidenciavam a pobreza no país, como o constante abandono de bebês na província.
Foi essa situação, inclusive, que desencadeou um dos traços mais inspiradores da personalidade de Lou: sempre que via crianças abandonadas, ela as resgatava. Foi assim que, durante anos, mesmo sendo uma pessoa muito pobre, a chinesa nunca deixou de fazer o bem e de se importar com o próximo.
Segundo informações do jornal Yanzhao Metro Daily, em matéria de 2012, Lou chegou a salvar mais de 30 bebês da vida nas ruas. Segundo o Huffpost, ela criou quatro órfãos ao lado de seu marido, falecido ainda nos anos 1990. Os demais bebês foram adotados por familiares e amigos de Xiaoying.
Já idosa e sofrendo com insuficiência renal, Lou explicou ao Daily Mail no ano de 2012 em que circunstâncias ela encontrou a primeira criança que salvou: "Tudo começou quando encontrei o primeiro bebê, uma garotinha em 1972, quando eu estava catando lixo. Ela estava deitada no meio do lixo na rua, abandonada. Ela teria morrido se não a tivéssemos resgatado e acolhido".
E prosseguiu: “Vê-la crescer e se tornar mais forte nos deu muita felicidade e eu percebi que tinha um verdadeiro amor por cuidar de crianças".
Xiaoying salvou a última criança já aos 82 anos de idade, um menino que estava dentro de uma lixeira e a quem chamou de Qiling.
“Mesmo já velha, não podia simplesmente ignorar o bebê e deixá-lo morrer no lixo. Ele parecia tão doce e tão necessitado. Tive que levá-lo para casa comigo,” declarou Lou. Na época da entrevista, Qiling, já estava com sete anos.
Uma das filhas adotadas de Lou, Zhang Juju, declarou na época que, apesar da mãe viver em extrema pobreza, ela nunca deixou de fazer o melhor para todas aas crianças que resgatou.
“[Mesmo com sua velhice] não havia como impedi-la de sair”, disse Zhang ao site de notícias chinês 19lou.com. Na ocasião, a mulher de 33 anos disse que sua mãe costumava sair três ou quatro vezes ao dia para coletar material reciclável para ganhar dinheiro, mesmo estando doente.
De acordo com a estatal chinesa Xinhua, Xiaoying ficou tão doente que precisou ser hospitalizada, mas, mesmo debilitada, não deixou de expressar seu último desejo: “Não tenho muitos dias restantes [mas] o que eu mais quero ver é que Qiling vá para a escola. Assim, mesmo depois que eu partir, não haverá mais arrependimentos na minha vida,” declarou.
A verdade é que Lou não pôde mandar todos os seus filhos para a escola. Ela conseguiu apenas que Zhang e uma outra filha entrassem no ensino médio. Seus filhos mais velhos, no entanto, não puderam estudar.
Muitas pessoas que conheceram a inspiradora história de Lou resolveram se mobilizar para arrecadar fundos para pagar as despesas do hospital onde mulher estava internada. Além disso, o diretor de uma escola, sensibilizado com a história, ofereceu uma bolsa de estudos para o pequeno Qiling estudar, realizando o desejo da idosa.
Até o fechamento da reportagem, não encontramos mais informações sobre o atual estado de saúde de Lou, que já estava debilitada na época em que a emocionante trajetória foi divulgada ao mundo.